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Prof.Paulo Murilo 

30 dezembro 2004

O AMANHÃ

Desde setembro venho publicando artigos semanalmente,os quais têm sido republicados por outros sites a pedidos,com visualizações em alto número,o que me estimula na continuidade dos mesmos.Mas algo vem me intrigando,a quase total ausência de comentários e críticas sobre qualquer dos temas que abordei,alguns bem controversos,o que me leva a crer na existência de um alto grau de desinformação ou desinterêsse pelas coisas realmente importantes ao basquetebol.A massificação do modêlo NBA,e a consequente comparação do mesmo com a nossa realidade talvez tenha desencadeado esse desinterêsse por parte,principalmente dos jóvens,pelos problemas e desafios que tem levado a modadlidade ao processo de decadência em que se encontra.E indagações logo se fazem presentes,tem jeito? O basquetebol brasileiro poderá ressurgir no plano internacional?Como? De que forma? Creio,honestamente que tenha respondido essas questões no transcorrer dos artigos até agora publicados, mas não custa nada fazer uma pequena,porém objetiva síntese do que afirmei e escrevi,mesmo não tendo encontrado éco em meus pares, através esperados,mas não enviados comentários e críticas pertinentes.Então vamos à síntese: Por duas décadas adotamos o modêlo e a forma de jogar dos profissionais da NBA,mas sem atentar para o fato de que não possuíamos,nem de longe,a estrutura universitária que dava o respaldo para o sistema de jogo adotado por eles,o Passing Game,cuja finalidade básica era o de propiciar e garantir os embates de 1x1 por parte das estrêlas com salários estratosféricos, motivando o público para o espetáculo das lutas exarcebadas pelas rivalidades, pela força, e muitas vezes pelo apêlo de cunho racista.Defêsas por zona eram proibidas, assim como as coberturas a fim de dar espaço para as exibições de técnica e aos malabarismos tão apreciados pela platéia. Nosso basquetebol por causa dessa influência perdeu sua identidade,sua velocidade,e principalmente sua tradição.Nossos técnicos,mudando a forma de jogar de nossos armadores,nossos pivôs e entrando de cabeça na cultura dos três pontos, lançaram os fundamentos de nossa decadência, até na formação das categorias de base, substituindo o ensino demorado e detalhista dos fundamentos por "peneiras" oportunistas e desligadas da responsabilidade pela formãção básica. Sistemas de ataque foram padronizados, dando inclusive incumbências numeradas aos jogadores, rotulados de 1,2,3,4 e 5,como escravos de um sistema alcunhado de "basquetebol internacional".Sem uma massificação que lastreasse tal sistema, como mantê-lo ao nível internacional? Mesmo com a derrocada dos norte-americanos nos campeonatos da FIBA e as Olimpíadas, continuamos atrelados àquela cultura, muito mais pelos desejados lucros por parte de jogadores ansiosos pór lá atuarem, como por técnicos que com suas pranchetas, um batalhão de assistentes e um inglês tacanho teimavam em seguir as normas irreais para a nossa realidade emanadas pelos irmãos do norte, num verdadeiro espetáculo de colonização cultural-esportiva. Como saída desse emaranhado de más e destrutivas influências só vejo um caminho, o desligamento radical do modêlo NBA, e consequente aproximação com modêlos,que sabiamente se negaram ao dominio técnico dos norte-americanos, tais como a Lituânia, a Iuguslávia, a Argentina, a Itália, a Russia e a Espanha.Nossa tradição perdida e aviltada rivalizava com essas nações tendo-as liderado por muitos anos,por três campeonatos mundiais e por quatro medalhas olímpicas, tendo sido considerada pela FIBA a quarta potência mundial do Século XX. Para evoluirmos temos que mudar as mentes, estudarmos o passado e o somarmos à nossa presente realidade, e se fôr necessário com outros nomes, com aqueles que ainda subsistem na crença de nossos valores, de nosso talento, que de tão alto se fez vitorioso, mesmo com nossa pobreza material.Organizarmos cursos de atualização a pêso de ouro dentro da atual realidade técnica é puro desperdìcio, beirando ao crime, à estupidez. Estatais que patrocinam políticas conflitantes com as reais necessidades do nosso basquetebol deveriam pensar duas vezes antes de soltar vultosas verbas nas mãos de dirigentes despreparados técnicamente,mas ávidos em se manterem nesses "cargos de sacrifício" e que de tudo fazem para lá se perpetuarem. Técnicos da antiga, da atual e de futuras gerações têm de se reunir estadualmente, depois regionalmente, para em carater nacional discutirem nossas reais necessidades, no preparo dos jogadores pelo treinamento maciço dos fundamentos, nas escolas e clubes, pela adaptação de algumas regras, principalmente quanto ao tempo de posse de bola,a fim de adequar o jogo às limitações psiquicas e fisicas dos jovens praticantes,numa espiral ascendente que os levarão às categorias superiores com maior dominio das técnicas. Que nossos jovens de grande estatura sejam treinados visando basicamente a velocidade e a explosão, nunca a força bruta, pois dessa forma poderemos superar as descomunais e lentas massas musculares pela astúcia e rapidez de raciocínio. Que nossos armadores jamais deixem de estar presentes ao fóco das ações, correndo menos e atuando mais, gerando equilibrio e criatividade. Que nossos alas se destaquem mais pelo alto índice de arremessos curtos e de média distâncias, do que na aventura dispersiva dos três pontos.Este arremêsso deverá ser entregue aqueles poucos e privilegiados mestres na arte do direcionamento que é a chave do mesmo. Finalmente, que nossos técnicos desenvolvam soluções técnico-táticas de acordo com as características dos jogadores que tem sob sua direção, e não forçá-los a um modêlo pré-estabelecido e até rotulado como uma conquista da globalização, tão em moda nos dias atuais. Por tudo isso acredito que não será tarefa das mais fáceis reestruturarmos o nosso basquetebol,mas se torna mistér afirmarmos- Se não o fizermos estaremos enterrando de vez a oportunidade de voltarmos ao patamar de onde nunca deveriamos ter saído. Por que não discutirmos tão importantes questões, pois quem cala consente, admite o que aí está.Sozinho ou acompanhado jamais me calarei, disso tenho, como sempre tive, a mais absoluta certeza.