Basquete Brasil
Discute a atualidade da modalidade no Brasil, e suas implicações a um possível soerguimento técnico.
20 fevereiro 2006
NA TRILHA...
Em pista seca ou molhada,um bólido de formula 1 tende a seguir determinadas trilhas no asfalto,tangenciando curvas e evitando setores sujos,que possam prejudicar a estabilidade e aderência do carro.E todos cumprem o mesmo trajeto,volta a volta,até o momento que um deles foge da trilha e exerce a ação de ultrapassagem,mesmo temerária,para conquistar a vitoria.E assim foi o jogo que decidiu a classificação final da chave de Brasilia no Sul-Americano de Clubes nesse domingo.Durante os tres quartos iniciais a equipe brasiliense levou de vencida a bem estruturada equipe argentina,que mesmo exercendo uma ofensiva cadenciada e de grandes deslocamentos,permitia que seu adversario usasse à exaustão o passing game e os arremessos de tres pontos,com uma liberdade espantosa.Dessa forma,a equipe nacional chegou a uma vantagem de 17 pontos,que se bem administrada fatalmente a levaria à vitoria.Mas,no quarto final,tomou uma atitude simples e óbvia,resolveu alterar a coreografia ofensiva do adversario se antepondo às linhas,também óbvias,de passes que percorriam trilhas imutáveis desde o inicio da partida,trilhas essas obssessivamente traçadas na prancheta de seu técnico.E com duas disposições defensivas,a flutuação lateralizada,e não longitudinal,às linhas dos passes,e a marcação frontal dos pivôs,criou uma situação massiva no âmago do garrafão,que em cinco e seguidas oportunidades retomou a posse da bola, saindo em contra-ataques que decidiram a partida. Foi a vitoria de quem ousou quebrar o monocórdico sistema ofensivo de um adversario incapaz de atuar fora do mesmo.Por outro lado,vimos uma equipe atacar com dois armadores altamente criativos,se deslocando no perimetro em perfeita sintonia,jogando e fazendo jogar seus homens altos,permanentemente cruzando de fora para dentro do garrafão,sempre recebendo os passes em movimento e grande velocidade.Foi um ultimo e decisivo quarto,onde pudemos atestar a superioridade tática da equipe argentina,naqueles momentos em que mais se fez necessaria a interrupção das trilhas utilizadas pelo seu adversario.E essa tendência é geral em nosso país,onde as equipes de qualquer categoria trilham os mesmos e previsiveis caminhos dentro da quadra, engessadas que estão por esse espúrio sistema do passing game.Mas é um sistema que conota aos técnicos uma importância acima do que realmente representam para uma equipe,onde as estrelas deveriam ser os jogadores,e não individuos que ficam ao lado,e muitas vezes dentro da quadra,gesticulando como bonecos de desenho animado,onde só faltam levantar vôo em seus devaneios e descabidas atuações.Ficam naquela grotesca e ridicula performance,orquestrando as trilhas que previamente traçaram para suas equipes,quando deveriam ali estar para permitirem que atitudes técnicas e criativas pudessem ser desenvolvidas pelos jogadores,que deveriam ter sido previa e exaustivamente treinados para tal.Em nenhum momento se vê,ou se ouve,um técnico mencionar uma falha individual de um defensor adversario,numa posição de pés,ou de tronco,ou numa cobertura,ou mesmo no acompanhamento de um seu armador que dribla,para instruir os seus jogadores na exploração de tais falhas,pois estas ocorrem no transcorrer de toda a partida.No entanto,pedem tempo para traçar na prancheta caminhos para uma jogada a seguir,como se a mesma valesse 10 pontos.E depois da mesma ocorrer,o que fazer a seguir?Ou a equipe terá que aguardar um novo tempo para saber como se comportar?Nessa situação,bastaria o tecnico adversario,que se bem treinou sua equipe,se omitisse de pedir seus dois tempos,para que pouca,ou quase nenhuma nova coreografia pudesse ser estabelecida,deixando os jogadores orfãos da mesma,e que nem o gestual desengonçado na lateral da quadra pudesse preencher tal óbice.Enfim,vivemos a era pastiche de tecnicos que utilizam seu precioso tempo num balé ridiculo e despropositado,todos atacados pela sindrome da luz vermelha,aquela que sinaliza que uma camera de TV está ligada, em suas performaticas figuras,como se tais atitudes conotasem atuações de decisiva participação técnica e tática.Isso tudo acompanhado,na maioria das vezes,por vocabulario chulo,inglês pifio,e pressões profundamente anti-éticas sobre árbitros e até dirigentes federativos.Se consideram,realmente,os donos do espetáculo,numa também,dolorosa e constrangedora trilha comportamental,seguida pela maioria,até que um dia,quem sabe,algum,ou alguém,saia da mesma,para a redenção de uma função fundamental em qualquer desporto,o técnico que treina,ensina e ajuda,e não se comporta como um comediante de ópera bufa. Temos de acreditar que dias melhores advirão,e que os deuses nos ajudarão.Amén.
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