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Prof.Paulo Murilo 

02 outubro 2004

SÓ IMPROVISA QUEM SABE

Em um dos programas da série Historia do Jazz,produzido pelo grande músico e maestro Wilton Marsalis, lançada pelo canal GNT,era perguntado a grandes personalidades da sociedade americana o que entendiam por Jazz.Um dos entrevistados foi o grande jogador de basquetebol Abdul Karin Jabbar,o maior pontuador da NBA em todos os tempos.Jabbar reportou-se à grande equipe dos Lakers campeã em 1980, onde jogava com outro ícone do basquetebol americano, Magic Johnson. Aquela equipe, nas palavras de Jabbar,possuia um sistema básico de jogo, como o tema no jazz,composto pela melodia e a sustentação rítmica,dentro dos quais os músicos improvisam por muitos minutos sem fugirem do tema proposto.No caso do jogo, a equipe iniciava o sistema básico, e os jogadores improvisavam as jogadas em ações individuais de acordo com as reações do adversário, num verdadeiro carrosél de belas e incisivas jogadas, sem nunca desmerecerem uns aos outros, ou seja,cada um tirava o máximo de suas virtudes técnicas e atléticas a cada oportunidade que tinham na partida, e na maioria das vezes iniciavam ou complementavam ações entre si, sem quebras de liderança ou estrelismos.Mas para que uma Jam Session seja autêntica e verdadeira é necessário que todos os componentes da banda,ou equipe,sejam mestres em suas funções, em seus instrumentos.Esta analogia mais do que perfeita demonstrada por Marsalis, através o relato de Jabbar,esclarece de forma definitiva o que vem a ser música bem executada e jogo bem disputado.Dominio do instrumento,da bola,através o conhecimento dos fundamentos do jogo, aliado ao talento, à sensibilidade e a precisão dos movimentos conotam o artista, o bom jogador de basquetebol.Mas esse tipo de jogador, via de regra não se adequa a rigidos esquemas táticos, arma letal de propriedade de muitos técnicos, que não abrem mão do dominio que os mantêm no comando total de qualquer movimento que os jogadores venham a exercer na quadra,pois o contrário os exporia perante a fraqueza da maioria de suas ideias acêrca do jogo. Pouca gente se recorda,mas se músico fosse Togo Renan Soares teria sido indubitavelmente um talento jazzistico.Seus esquemas de jogo primavam pela simplicidade, mas jamais abriu mão da qualidade individual de seus jogadores.Para ele eram gênios, e na carga brutal de treinamento procurava muito mais destacar as qualidades técnicas de cada um do que a ação fundamental de seus esquemas.Não me recordo de ter lido algum dia e em alguma publicação esquemas e jogadas do Kanela,mas recordo-me perfeitamente de como promovia as qualidades dos jogadores a toda ocasião que lhe dessem oportunidade.Quando suspenso de jogos,o que era uma constante, ele escalava o tecnico dos juvenis para substituí-lo,e em algumas ocasiões fui o premiado da vez,e ao perguntar a ele como queria que eu dirigisse a equipe a resposta era imediata-Os jogadores são bons, você é bom,faça o que deve ser feito, improvise! Sempre gostei de jazz, como o nosso chorinho,onde improvisar é sinônimo de perfeição técnica.Sempre preparei minhas equipes, principalmente as de divisões de formação dando total e irrestrita preferência aos fundamentos, tanto de ataque, quanto de defesa, destinando aos sistemas de jogo não mais do que 30% do tempo disponivel para o treinamento.Muitas e muitas vezes fui criticado pelo quase desprêzo que tinha nessas divisões pelos pedidos de tempo.Preferia ver e observar como os jogadores se comportavam perante situações de perigo, de descontrole, em um proposital abandono visando a busca do auto-equilibrio e da reação.Preferia instruir permanentemente os reservas, para quando fossem à luta o fizessem com o conhecimento do que realmente estava ocorrendo na quadra, para ajudarem e não taparem fendas indefensáveis.É claro que conquistei poucos títulos em divisões de formação(muitos as chamam de divisões inferiores, o que é um grande erro)mas preparei muitos para as divisões principais inclusive seleções regionais e brasileiras.Quanto aos sistemas,deixarei para mais adiante os esclarecimentos do que considero a verdadeira vocação do jogador brasileiro bem preparado nos fundamentos,sua arte de improvisar em torno de um tema que se bem conhecido e treinado, além de simples e objetivo, o levaria de volta ao cenario esquecido do basquetebol mundial.Fomos muito grandes em torno de verdadeiros artistas do improviso, porém dominadores da arte do drible, do passe,do rebote,dos arremessos,do contra-ataque,da defesa,dos corta-luzes,e principalmente, foram resultado do trabalho de excepcionais técnicos, tanto na formaçao, como nas equipes de ponta.Ou resgatamos nossa verdadeira escola, ou ainda vegetaremos por muito tempo pelo limbo da mediocridade e da subserviência técnica.Acredito que possamos voltar ao primeiro plano, mas temos que mudar não os mandatários, que são pétreos, e sim os verdadeiros artífices do jogo, os técnicos.