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Prof.Paulo Murilo 

14 julho 2006

OS CARDEAIS

Quando da vinda da seleção brasileira masculina da Copa América, publiquei o artigo "Quadratura omissa"em 7/9/05, no qual critiquei veementemente as declarações de dois jogadores, que auto-determinados líderes da equipe, faziam severas ressalvas à atitude do atleta Nenê, pela negativa de participação na referida copa, e traçavam parâmetros e exigências ao mesmo para as futuras convocações, principalmente para o mundial. Agora, na transmissão da primeira partida da seleção no Sul-Americano na Venezuela pela ESPN Brasil, um daqueles jogadores, qualificando-se como comentarista e nóvel articulista, vem à público, empunhando um microfone, e desanda a emitir conceitos e opiniões sobre colegas jogadores, comportamentos da comissão técnica, a partida em si, culminando num pretenso papel de liderança que em hipótese alguma tem o direito de reindivicar, ou mesmo ostentar. Como um dos 8 já consagrados pela comissão para o mundial( 7 se o Nenê mais uma vez recusar a convocação, somando à sua disposição anti-CBB, a não aceitação das ressalvas dos dois "lideres" do grupo), caberia tão somente se preparar convenientemente para os treinamentos, e não sair por ai emitindo pontos de vistas que não lhe dizem respeito. Sua função é a de se apresentar na melhor forma possivel, que é a função de todo bom jogador, e NADA mais, o que já é muito e desejável. Torna-se mistér a eliminação de um vício que vem se alastrando no esporte nacional, a dos cardeais, intocáveis e seguríssimos de suas posições feudais, nem sempre amparadas por reais qualificações técnicas. Houve época em nosso basquete que existiram pequenos grupos de jogadores especializados em derrubar técnicos, inclusive nas seleções, mas foram aos poucos sendo substituidos por outros que se impunham por qualificação técnica, e não política. Mas atualmente, movidos por extranhos poderes, surgem cardeais, donos e mandatários de capitânias, senão hereditárias, porém poderosas e eficientes. Nosso futebol foi vítima desses cardeais, que segundo o brilhante, mais lúcido e objetivo de nossos articulistas, Arthur Dapieve, só podiam ter "a carta".Sua coluna de hoje no O Globo, "A Redenção", é simplesmente definitiva. Em hipótese alguma poderemos permitir o surgimento de um movimento cardinalício no meio, já tão mambembe, de nosso basquetebol, que teria nefastos resultados. Liderança se conquista no campo da luta, e não empunhando microfones e respondendo emails de fãns oportunos. Esse foi o efeito mais negativo da dicotômica convocação, a certeza da posição. A saudável competição para alcançar um lugar na seleção brasileira ficou restrita aos doze condenados a quatro vagas que embarcaram para o sul-americano, e que lá se engalfinharão pelas migalhas, para depois serem ou não aceitos pelas ressalvas dos cardeais. E tudo isso nasceu no seio da quadra comissão, numa prova inconteste de que nem sempre muitas cabeças pensam melhor do que uma, principalmente quando uma ação decisiva necessita de liderança e responsabilidade,condições básicas a um comando, que não pode ser dividido, e sim assumido. Por isso tudo temo pela seleção brasileira, onde cardeais se insinuam a um comando dividido e desigual. Vamos ver no que dá, e torcer por dias,ações e atitudes melhores.