Basquete Brasil
Discute a atualidade da modalidade no Brasil, e suas implicações a um possível soerguimento técnico.
15 janeiro 2007
SEM PIVÔS
Com três de seus quatro pivôs inabilitados por diversas razões, a equipe de Franca enfrentou a de Rio Claro, pelo Campeonato Paulista,com somente um pivô, o Estevan, que logo no primeiro tempo torceu o tornozelo, atuando mancando até o final do jogo. Mesmo assim, venceu a partida muito bem, pois atuou, como vem fazendo ultimamente, com dois armadores, um outro muito habilidoso na função de ala, e um veterano, porém disposto ala, completando a equipe. E tudo isso dentro do sistema usual, empregue por todas as equipes brasileiras. O diferencial foi, como vem sendo, a qualidade nos fundamentos de seus jogadores. Com um jogo veloz, controlado e eficiente, mesmo sem praticamente um pivô, envolveu o adversário com tal facilidade, pelo simples fato de serem superiores no manejo dos passes, do drible, das fintas, e consequentemente nos arremessos, já que, pela movimentação de toda a equipe, sobravam espaços para lançamentos livres, e consequentemente, equilibrados, sem contar os fulminantes contra-ataques originados pela grande velocidade imposta ao jogo. Foi uma vitória da técnica individual, mesmo manietada por um sistema caduco e inócuo.
As últimas atuações da equipe francana, deixa transparecer o grande e trágico equívoco em que se encontra o basquete brasileiro, a meio caminho de uma total reformulação técnico-tática, freada pela adoção maciça de um sistema único de jogo, que só nos trouxe atraso e derrotas no plano internacional, mesmo com a desculpa de que no plano nacional era o que bastava. E ironicamente, o técnico que mais se beneficiou no plano interno, com suas continuadas e repetidas vitórias, pela repetição ad eternum do tal sistema, apelidado pelo mesmo como “o moderno basquete internacional”, utilizado inclusive nas seleções nacionais que dirigiu, é o mesmo que, premido por uma tentativa de mudança, ou mesmo, convencido de que a mesma deva ser tentada, se dispõe à novos rumos, inclusive em seu comportamento no banco.Tem sido uma mudança claramente para melhor, e oxalá permaneça como atitude permanente e muito bem vinda.
Por outro lado, técnicos da nova geração se mantêm radicalmente à favor do sistema único, perdendo todos uma grande oportunidade de evoluírem e de fazer evoluir o basquete num todo, salto este iniciado e mantido pela equipe de Franca. Não se trata de adotarem um novo, e único sistema, e sim tentarem fugir da fatal armadilha da mesmice instituída, que é a panacéia dos preguiçosos e curtos de idéias, mas sempre prontos a usufruírem das “vantagens” de um sistema pronto, acabado e devidamente testado no plano de consumo interno, o que para a maioria deles é o suficiente e seguro para enfrentarem as toscas exigências de um mercado restrito e fechado. Se tem dado certo, para que mudar? Mudanças exigem investimentos em estudo, em pesquisas, e denotam um tempo que não admitem perder. Time is money, é a lei a ser seguida e obedecida, mesmo que os resultados nos afastem cada vez mais do cenário internacional.
E é nesse ano crucial que disputaremos, mais uma vez, a chance de uma competição olímpica, em torneios que nos classificarão, ou não, numa triste repetição de tentativas anteriores. Urge que mudemos nossa maneira de jogar, de pensar e de agir de conformidade com a verdadeira vocação de nossos jogadores, o jogo rápido, técnico e instintivo, características intrínsecas de nosso povo. Não acredito, honestamente, que alcancemos os resultados tão ardentemente desejados, mas, temos a obrigação de tentar mudanças arejantes, para num futuro à médio prazo termos reais chances de classificação olímpica. Até lá, muito trabalho pela frente, muito estudo e pesquisa, e acima de tudo, muita vontade de realmente mudar, para melhor.
2 Comments:
Professor Paulo Murilo e com grande prazer que comento em sua coluna, aproveito tambem para reiterar que este seu blog e parada obrigatoria quando acesso a internet. Tenho acompanhado seus comentarios e lido com atencao particularmente a sua tese em relacao a utilizacao de 2 armadores. Favor informar a altura desses armadores? Como seu ex-atleta aprendi muito sobre defesa, especialmente defesa na linha da bola. Fico surpreso que em sua coluna voce pouco menciona os sistemas defensivos adotados pelas equipes no Brasil. Estou dirigindo e miltando no basquete internacional a muitos anos. Atualmente os meus dois armadores titulares tem 1.98 e 1.95 de altura. O sistema de defesa que adoto com a minha equipe esta diretamente relacionado com a altura dos meus armadores - quando coloco em quadra armadores de menor estatura tenho que mudar a pegada defensiva para que o adversario nao explore a menor estatura dos meus armadores.. Minha pergunta e: Voce nao acha que a nivel internacional, jogar com 2 armadores baixos ira favorecer os nossos adversarios diretos para uma classificacao para Olimpiada pois estes possuem armadores, altos e com habilidade? Nao seria melhor elaborar um treinamento onde jogadores altos pudessem ter melhor controle de bola es e tornarem especialistas do esporte ja que as equipes a nivel Internacional pouco pressionam? Aguardo as suas respostas e consideracoes com muito respeito que tenho a sua pessoa e ao grande profissional e"role model" que voce e!
Saudacoes. Walter Carvalho
Meu caro Walter,obrigado.Respondendo suas indagações:A toda evolução ofensiva sucederá uma defensiva,fatores fundamentais à qualquer progresso e desenvolvimento dos esportes coletivos.
Desde muito tempo é o que vem ocorrendo entre nós ofensivamente falando, e já se vislumbra tênuemente uma reação defensiva,através o que descreverei em um proximo artigo como um exemplo de "engenharia reversa"aplicada ao basquete.
Em toda minha trajetória técnica sempre propugnei pela excelência defensiva,e até hoje a maioria dos técnicos com quem conviví e enfrentei confundem flutuação lateralizada com flutuação perpendicular à cesta, que são fatores diametralmente opostos,e você conhece bem esse aspecto defensivo,pois foi um dos primeiros com quem trabalhei nas divisões de base do Flamengo.E olha que já se vão mais de 30 anos,e a turma ainda não entendeu nada.São muito orgulhosos para dar algum valor a um compatriota.Se meu nome fosse Paul e publicasse em inglês,garanto que se interessariam.Colonização é isso ai.
Seguindo Walter,concordo com você que armadores altos funcionam melhor,e temos alguns muito bons na faixa dos 1,90m.Mas,convenhamos que essa não é nossa realidade natural,e por isso mesmo a defesa linha da bola,a que conhecemos teórica e práticamente,
propicia aos mesmos ótimas oportunidades de ação,já que obriga os oponentes,se bem executada,aos passes elípticos,facilitando as coberturas realizadas no plano linear.O que importa é a postura defensiva sempre à frentedo(s)pivô(ôs)adversários,diminuindo bastante o jogo interior.Quanto ao treinamento especializado dos fundamentos para jogadores altos e futuros armadores,vou drásticamente além na enfática afirmativa de que esse fator tem de ser prioritário para TODOS os jogadores,independendo se armadores,alas ou pivôs.Esse deveria ser o objetivo final em se tratando de seleções nacionais,e não um treinamento coreográfico para enlêvo de uma turma, que não se toca que quem deve jogar são os de dentro da quadra,e não fora,em atuações que beiram o ridículo,numa paródia de sexto jogador.Falta-nos uma compreensão sobre o verdadeiro valor dos fundamentos,que é a base de qualquer ação ofensiva e defensiva,que é o cerne de uma bem treinada equipe.Puxa Walter,essa resposta mais parece um dos artigos,mas você a compreenderá como ninguém,pois lá estivemos juntos,você dentro e eu fora das quadras onde pelejamos.E foi um tempo que guardarei sempre em minhas lembranças.Mais uma vez,obrigado.
Paulo Murilo
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