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Prof.Paulo Murilo 

12 outubro 2004

TAPETEBOL-UM DESPORTO NACIONAL

Quando retornei às quadras em 1995, o fiz na condição de um dos fundadores do Barra da Tijuca Basquete Clube, onde exercia com o Prof.Paulo Cesar Motta as funções de técnico e coordenador da modalidade.Minha primeira atividade foi a de auxiliar técnico do Paulo Cesar no Torneio Inicio da categoria Infantil.Dias mais tarde o Paulo foi meu auxiliar na categoria Infanto-Juvenil, nada mais natural em um clube que se iniciava com grandes dificuldades financeiras.Quando do término de uma das partidas do infantil um dos técnicos presentes me perguntou porque eu,técnico de prestígio me colocava em função subalterna em uma equipe infantil.Disse a ele que, se bem tinha observado o jogo, deveria lembrar que somente uma vez fiz um comentario sobre a partida,e mesmo assim a pedido do técnico,e que nos pedidos de tempo não interferia em hipotese alguma na ação do mesmo,e que a categoria da equipe era o fator de menor importância.Fazia ver ao interlocutor qual a verdadeira função de um assistente técnico.Debates, sugestões e até divergências técnico-táticas só deveriam ocorrer fora das quadras,e mesmo assim em reuniões estabelecidas e convocadas pelo técnico.Hoje vejo dois e até três assistentes disputando com o técnico a primazia do comando, tumultuando o momento chave em que o mesmo necessita de toda a concentração possivel para exercer sua função.Nos mais de 40 anos em que fui técnico jamais fui assistente, e mesmo em poucas ocasiões tive um, era um luxo a que os técnicos lutadores e idealistas de minha época não poderiam se dar com as verbas ínfimas que possuiamos para a formação das equipes.Porém, de uns tempos para cá tenho observado, principalmente nas seleções brasileiras a imposição de mais um modêlo americano, o batalhão de assistentes técnicos, com especialidades nos fundamentos e com livre trânsito na formulação das estratégias das equipes. Seria até positivo se toda a comissão se pautasse num objetivo comum, ou seja,todos trabalhassem para o bem comum, para a equipe, na busca de um objetivo. Mas o que tem ocorrido difere bastante do objetivo proposto, e o relato recente de um técnico que ao ser perguntado por um jornalista o que representava ter sido durante muitos anos assistente do técnico que havia sido afastado da equipe foi esclarecedor-Ser assistente técnico de seleção é a maior tranquilidade, pois a bomba só estoura na cabeça do técnico- Formidavel,não? Nada de riscos, nada de "queimações",nada a perder Em se tratando de seleção nacional,se uma equipe de técnicos se une para prepará-la tendo um planejamento discutido por todos e aceito como o objetivo a ser alcançado,a não consecução do mesmo, por uma imposição ética,perante uma decisão superior de afastamento do técnico,teria, obrigatóriamente de ser acompanhado por TODA a comissão numa prova cabal de que a unidade de pensamento, previamente discutida e aceita, representava o alicerce de todo o trabalho. Anos atrás em uma discussão em minha casa alertei a um técnico famoso que ele perderia seu lugar para o assistente se não tomasse algumas providências pessoais.Disse-me que era impossivel e que eu exagerava. Meses depois perdia o cargo para o assistente.Nos ultimos 20 anos,que marcam o início de nossa decadência,esses fatos tornaram-se corriqueiros, afastando cada vez mais a possibilidade de um real e proveitoso intercâmbio de idéias entre a maioria dos técnicos.Praticar o tapetebol parece que encontrou no seio da comunidade dos técnicos um campo fértil, para gáudio de dirigentes que cada vez mais se beneficiam dessass atitudes nada éticas e pouco inteligentes.Uma entrevista aqui, um ponto de vista acolá, uma oportuna intromissão em um pedido de tempo nem sempre sutil,e pronto, a pontinha do tapete já está na mão.Se querem,mais uma vez copiar os americanos, deveriam observar que assistente lá só se manifesta a pedido do técnico,SEMPRE! Assistente assiste o técnico, pois comando não se divide, se conquista com anos de luta e com a vasta experiência adquirida.Nunca fui militarista,mas uma frase grafada em letras garrafais na entrada da AMAN em Resende exprime com perfeição a trajetória de um futuro aspirante-Ide obedecer para depois comandar- A quadra de basquetebol exprime um pouco as artes militares,não só pela luta entre atacantes e defensores, como pelo comando exercido pelo técnico no preparo e desenvolvimento da equipe.O assistente deverá acessorar o técnico com a maior competência possivel, mas somente quando solicitado.Essa é a lei imutável do comando, da responsabilidade assumida integralmente pelo comandante, e não convenientemente dividida quando os ventos não sopram a favor.A divisão do comando sugere uma também divisão perante os resultados alcançados,o que fatalmente levará todo o trabalho ao impasse da ausência de responsabilidades.E é exatamente nesse ponto de ruptura que emerge a figura do assistente salvador,aquele que pertencendo a equipe, mas divergindo oportunisticamente do técnico assume seu posto que foi sempre sua meta alcançar.Esse é um moto contínuo no desporto brasileiro, e somente a quebra dessa rotina suicida poderá reestabelecer o diálogo entre os técnicos rompido a muitos anos.Sem esse diálogo,sem a discussão de suas experiências,e sem um rigoroso código de ética profissional(o dos americanos da NABC e da NCAA são excelentes)em torno de uma associação realmente representativa não chegaremos muito longe na tentativa de soerguer o nosso basquetebol. Em tempo, uma definição de Tapetebol-a arte de se puxar o tapete dos pés de um adversário, ou pior,de um colega de profissão.