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Prof.Paulo Murilo 

05 janeiro 2005

PESQUISA-UMA AVENTURA ALÉM-MAR III

O Dr.Kelo da Silva era uma figura enigmática,reservada e profundamente observadora.Foi pedido a ele pelo Departamento Ciêntífico do ISEF que me orientasse nos aspectos matemáticos, nas equações que definiriam meu estudo,apesar do pouco ou quase nenhuma afinidade e conhecimento do basquetebol.Era um matemático residente do célebre MIT nos EEUU, e pelos anos que lá esteve já havia perdido muito da compreensão da lingua portuguêsa prática e atual.Durante 4 meses,em reuniões quinzenais, iamos para um ginásio ou sala de aula, onde eu procurava em ações práticas ou dialéticas demonstrar o que pretendia com o estudo,as variáveis intervenientes,os estudos correlatos, a bibliografia existente e minhas concepções totalmente inéditas para solucionar as hipóteses sugeridas pelo estudo.Seu mutismo e profunda ação observadora me desarmava,me situava como um ET tentando justificar o injustificável,pelo menos para mim.Na última reunião,depois de 3 horas de um monólogo exasperante, eis que o Dr.Kelo se levanta,pega a bola de basquete e em 20 minutos me deu uma das aulas mais espetaculares que já havia assistido, em particular,minuciosa,técnica, e com as respostas muito além das limitações que eu havia impôsto pelas regras da boa pesquisa.Tive naquele momento a certeza de que havia ingressado em um círculo ultra restrito daqueles que dialogam pesquisa com o mais absoluto contrôle do que precisam e devem fazer.Três meses depois já tinha em mãos as equações e os algorítmos necessários ao prosseguimento do estudo.Era algo que 3 anos depois encontrei em uma publicação de computação gráfica com a denominação de X-Ray Method.O Dr.Kelo antecipou em três anos o modêlo que me permitiu demonstrar a exequibilidade do estudo, numa concepção que se aproximava dos estudos que viriam embasar a computação tri-dimensional.Coincidência ou não os princípios se equivaliam, o que era sensacional.A seguir, com os equipamentos montados e testados,com o pessoal treinado e com as equipes das seleções nacionais masculina e feminina à disposição do estudo, e mais, com as cameras em ordem e os filmes comprados, pudemos iniciar a coleta dos dados em laboratório.A essa altura um outro problema se manifestava, a não mais existência em Portugal de laboratórios que tratassem filmes cinematográficos em 16mm , pois a era do video tape já havia se instalado. Com os filmes rodados fui encontrar na RTP (Radio e Televisão Portuguêsa)uma ajuda inestimável, pois a mesma reativou seu laboratório de revelação de filmes a côres somente para atender minhas necessidades,e o fez com maestria inigualável,com uma técnica sem par.Com os dados compilados e gravados em filmes iniciei aquela que foi a mais abrangente e dolorosa etapa do trabalho,a digitalização e tratamento do material coletado.Tive de desenhar e construir novos equipamentos que facilitassem a digitalização dentro de parâmetros rigidamente atrelados às equações propostas e desenvolvidas pelo Dr.Kelo.Estas,por intermédio do Engenheiro de Computação do ISEF,Eng.Nuno Pedro, foram transformadas em linguagem de computador em dois pequenos porém poderosos programas em linguagem, acreditem,linguagem Basic!Foram digitalizados 72000 pontos nas imagens cinematográficas, num trabalho exaustivo e extremamente demorado, dos quais somente 2500 foram efetivamente utilizados no estudo.Os demais já deixavam material aferido e catalogado para outros 5 ou 6 estudos que porventura pudessem ser realizados no futuro, e que até hoje não foram aproveitados.Quis dar continuidade aos estudos no Brasil, mas nem UFRJ,UERJ e CBB se interessaram, mas que até hoje são utilizados na Europa e nos EEUU.Tento montar aos poucos em minha residência um local apropriado para desenvolver esta e outras pesquisas, agora com a tecnologia dos computadores de alta capacidade e das cameras digitais de grande poder e precisão.Mas custam caro e somente aos poucos tenho podido fazer frente aos vultosos gastos inerentes a um laboratório de pesquisa desportiva.A essa altura do trabalho eis que me vejo participante passivo de uma luta entre duas facções conflitantes dentro do ISEF.Uma, liderada pelo meu orientador, contrária a mudança do instituto para uma estrutura voltada a area de saúde, com um pragmatismo antagônico ao humanismo histórico do mesmo,e a outra liderada pelo Diretor que defendia a criação da FMH(Faculdade de Motricidade Humana)que é a denominação que persiste até hoje.Fui usado pela Direção como arma repressiva aos opositores da mudança,fator que atrasou a defesa da tese em 3 anos!Paralelamente à luta interna dei seguimento ao trabalho,com o tratamento em computador dos dados.(continua)