Basquete Brasil
Discute a atualidade da modalidade no Brasil, e suas implicações a um possível soerguimento técnico.
02 novembro 2006
ANATOMIA DE UM ARREMESSO
Fala-se muito na precisão nos arremessos de lance-livre, no de dois pontos, e principalmente nos de três pontos. Desde que Mortimer( 1951 ) provou em seu estudo clássico que um desvio de 2 º no momento de um lançamento de lance-livre fazia com que a bola sequer tocasse no aro, que técnicos e estudiosos do mundo inteiro fizessem pesquisas sobre o controle de direção de um arremesso à cesta, mas quase sempre focados nos movimentos, estilos, alavancas, força e equilíbrio por parte do jogador que lançava. Muitos raros são os estudos que analisam o comportamento da bola em sua trajetória após serem aplicados em sua superfície as variáveis acima enumeradas, e quase sempre sob um simples exercício de observação visual, sem correlações associadas ao desempenho do arremessador.
Em 1992, Iracema, em seu trabalho “Estudo sobre um efetivo controle da direção do lançamento com uma das mãos no basquetebol”, defendeu a tese de que o correto direcionamento da bola em sua trajetória à cesta, dependia basicamente das ações exercidas pela mão impulsionadora em sua superfície, no momento final da soltura, fazendo com que o giro inverso da mesma em torno de um eixo diametral determinado ao final do movimento impulsionador, o mantivesse o mais paralelo possível ao nível do aro, e o mais eqüidistante possível dos bordos externos do mesmo.
Claro que os tipos de “pegas” efetuados das mais diversas maneiras pelos jogadores, influenciariam decisivamente no direcionamento final da bola. Dedos, como o indicador, médio e anular, sozinhos ou agrupados, ao ser(em) o(s) último(s) a tocar(em) na superfície da bola determinaria sua direção final, tendo a complementariedade dos dedos polegar e mínimo, responsáveis pelo paralelismo do eixo diametral da bola gerado ao final do arremesso, com o nível do aro. Como vemos, o ato de arremessar vai muito além do aspecto estético e dos alinhamentos nos diversos segmentos de alavancas do corpo e dos membros, assim como o “instinto matador” que muitos se auto-determinam na arte de arremessar.
Para exemplificar reproduzo uma foto publicada no site Rebote do jogador Marcelinho, excelente arremessador de três pontos, mas que poderia ser bem melhor se fossem corrigidos alguns aspectos em sua empunhadura, principalmente no momento final da soltura da bola.
Nas imagens 1 e 2 abaixo, observemos que o posicionamento final dos dedos polegar e mínimo provocam um segmento de reta ( c---d ) desalinhado com o eixo diametral ( a---b ), o que provocou uma aplicação de força na aceleração da bola mais intensa no dedo indicador, mesmo que os outros dedos se mantivessem em contato com a bola, fato dedutível pela maior largura do ponto( e )com relação ao ponto( f ), provocado pela distorção de uma das ranhuras na superfície da bola naquele ponto em que a aceleração se fez mais presente. Certamente o direcionamento desse arremesso sofreu desvios consideráveis, o que não ocorreria se ambos os segmentos de reta estivessem em plano paralelo, fazendo com que os dedos impulsionadores aplicassem uma força conjunta e bem distribuída na superfície da bola., o que exigiria um estudo de caso aprimorado, provocando algumas mudanças anatômicas na pega costumeira.
Infelizmente, essas correções não são levadas em considerações mais profundas e detalhadas, provocando o sempre crescente aparecimento de “gênios dos arremessos de três pontos”, incluindo-se até mesmo os pivôs, como vem acontecendo ultimamente.
A precariedade técnico-tática de nosso basquetebol, preso na camisa de força de um único sistema de jogo, adiam os tão necessários estudos dos fundamentos, já que a panacéia do sistema padronizado e globalizado parece que satisfaz tanto a técnicos, como jogadores, lançando para trás as verdadeiras bases do jogo, os fundamentos.O que hoje aqui foi exposto, é uma mínima, porém importante, faceta desse apaixonante, difícil e extraordinário jogo, o grande jogo, e que exige muita dedicação e estudo. Então minha gente, estudem.
Bibliografia:
Mortimer, Elizabeth M., “Basketball Shooting”, Research Quarterly,XXII May, 1951.
Iracema, Paulo M.A., “Estudo sobre um efetivo controle da direção do Lançamento com uma das mãos no basquetebol”, Dissertação apresentada Com vista à obtenção do grau de Doutor em Ciências do Desporto, na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, Em 1992.
2 Comments:
muito bom artigo, realmente a tecnica do arremesso eh um dos fundamentos deixados de lado pela maioria, vejo amigos meus que jogam basquete no time da cidade com 16 anos e ainda arremessam com as duas mãos. Claro isso eh soh um dos muitos fundamentos deixados de lado. Então como não ah ninguem que me ensine, tive que aprender a arremessar sozinho, assistindo videos da NBA e vendo seu artigo(coisas que todo jogador deveria saber),no seu artigo dizia para fazer um eixo entre o polegar e o dedo minimo paralelo a cesta. Mas meu arremesso melhorou quando vi que os jogadores com bom arremesso na NBA(como o Wade)faziam esse eixo com o indicador e o minimo, ou seja deixavam a mão em diagonal na bola.
gostaria que vc me explicasse um pouco melhor a questão da tecnica de arremesso, se for possivel. Pode mandar para meu e-mail, mas se poder falar via MSN seria melhor ainda.
E-mail(MSN): leo_cat-hunter@ibest.com.br
obrigado.
Leandro,creio que você não tenha observado bem a técnica do Wade, pois,e de forma alguma podemos esquecer a importância do dedo polegar na evolução da espécie humana.Ele é o único responsável pelo movimento de pinça da mão, já que prona para dentro da mesma.Os outros dedos pronam de cima para baixo da mão, e a combinação do polegar com qualquer dos outros dedos é que deram ao ser humano a capacidade de manipular os instrumentos que o mantiveram na escala superior das espécies.No seu caso, se o alinhamento do eixo diametral da bola for exercido ´pelos dedos indicador e mínimo, caberão aos dedos médio e anular o último toque na bola, o que não seria o ideal,já que dispensaria o dedo forte,o polegar.Tente fazer com que os dois últimos dedos a deixarem a bola sejan o indicador e o médio( o Oscar empunhava assim)e verá que o polegar e o mínimo ficarão alinhados com o eixo da bola,mantendo-o paralelo ao nível do aro.Deixe o anular de fora do movimento final.Cole uma tira de esparadrapo com 1cm de largura em volta da circunferência da bola, e ao empunhá-la para o arremesso faça com que essa faixa fique perpendicular ao meio dos dedos indicador e médio.Quando a bola sair da mão acompanhe o movimento exercido pela faixa.Se ela se mantiver perpendicular o giro inverso da bola em torno do eixo diametral estará paralelo ao nivel do aro.Se a faixa se inclinar a bola terá saido da mão com desvios, assim como se a faixa oscilar.É um bom exercicio de dominio do eixo diametral, e vale à pena tentar.Um abraço, e sucesso, Paulo Murilo.
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