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Prof.Paulo Murilo 

20 junho 2007

CONDICIONANDO.

Nessa terça-feira o jogador Nenê convocou a imprensa em sua cidade natal, São Carlos, e do alto de seus dois e tantos metros de altura e outros tantos de largura declarou: “Gostaria de retornar à seleção brasileira, pois é chegada a hora de somarmos esforços visando a classificação para as próximas Olimpíadas. Estou ao inteiro dispor da CBB para os treinamentos, bastando somente que a entidade garanta o seguro exigido pela minha equipe nos Estados Unidos. Muito obrigado a todos, e vamos ao trabalho”.

Mas alto lá Paulo, não foi esse o teor da entrevista dele! Sei que você quer ajudar o nosso basquete, como vem fazendo todos estes anos, e bem sabemos que esses deveriam ter sido os termos da mesma, mas cara, não viaja, não foram!

Então, o que foi dito? Contrito, mas não surpreso, torno à leitura da entrevista, e num misto de tristeza e desesperança pesco algumas irretocáveis pérolas de convencimento e arrogância, senão vejamos: “Estive falando com a família e amigos. Refleti e decidi jogar o Pré-Olímpico. Espero uma nova vida. O que passou, passou, agora quero ajudar o basquete e defender a seleção”. Muito bem, reflexão é sempre bem vinda, ainda mais dentro de um contexto tão complexo como seu relacionamento com CBB nos últimos quatro anos. E sobre esse aspecto afirmou “que não tem problemas pessoais com o presidente da entidade Gerasime Bozikis, o Grego. E que seu protesto era voltado principalmente contra a falta de condição ideal na estrutura ao redor da equipe”. E mais: “Meu atrito não era pessoal com o Grego. O que sempre pedi foi estrutura, é a qualidade de treinamento, transporte, alimento, segurança, essas coisas. A gente tem de cortar esse tipo de problema”. Aleluia, precisamos esperar por quatro longos anos para sabermos que a bronca não era contra a pessoa do Grego, e suas sistemáticas falhas administrativas, como pagamento de seguros e salários, mas sim pela falta de estrutura ao redor da equipe, a qualidade do treinamento, alimentação(...), essas coisas. Ou seja, insatisfação com a comissão técnica, seus métodos de treinamento, seus sistemas, problemas que tem de ser cortados. Foram palavras ditas a quem quisesse ouvir, ou seja, explicita ou implicitamente, sugere uma troca no comando da seleção. E para não deixar margens a duvidas vamos continuar reproduzindo a entrevista, que foi publicada no site UOL-Basquete pelo enviado especial Giancarlo Giampietro. Para o jogador, falta repertório de jogadas à seleção nos momentos decisivos. E que para facilitar a criação seria melhor deixar Leandrinho, do Phoenix Suns, mais voltado para a finalização. Também necessita de apoio de atletas mais veteranos. E, por fim, tem de ouvir vozes de técnicos estrangeiros.(...) Se Leandrinho for deslocado mais para a definição do ataque, Nenê já tem um nome para indicar à preparação, Valtinho, de Uberlândia. Assim como o pivô, o armador de 30 anos também disputou sua última partida pela seleção no Pré-Olímpico de Porto Rico, em 2003.O jogador tem relações conturbadas com a seleção, tendo já recusado muitas convocações – mesmo na época em que a equipe era dirigida por Hélio Rubens. “Tenho acompanhado de perto seu jogo no Uberlândia e ele está com um desempenho fantástico...”

Como vemos, suas baterias se voltam agora para a comissão técnica, pois é absolutamente inadmissível que um atleta venha a público declarar insatisfações técnico-táticas, e apresentar soluções e convocações, numa inversão de valores inaceitável. E foi mais longe. Um contato da comissão técnica com “novas idéias”, todavia, seria a prioridade, isto é, se abrir às influências internacionais. “Acho que temos várias oportunidades de aprender com treinadores de fora. Podemos deixar o Lula, mas temos de aproveitar essa experiência. É deixar a vaidade de lado”. Inacreditável, podemos deixar o Lula... O que é isso? Se alguém tem o poder de afastar, mudar, deletar, sei lá mais o que, uma comissão técnica, esse alguém jamais poderá ser um jogador, em tempo algum, em lugar algum. E vem falar em vaidades? E na conclusão: Nenê sugeriu o ex-assistente técnico e scout dos Nuggets, o norte-americano Jarinn Arkana, e o conceituado argentino Carlos Duro, ex-assistente de Hélio Rubens no Uberlândia, como pessoas que estariam qualificadas a trabalhar com a seleção. Os dois falam português. “Arkana é uma pessoa muito amigável, fácil de lidar. O Duro tem muita bagagem e sabe muito sobre jogadas”, disse.

Duas conclusões saltam aos olhos, de tão cristalinas que são: O discurso conciliador se antepõe ao conflito anterior, ou seja, se para não jogar na seleção, por motivos reais que jamais exporá, sub-repticia e inteligentemente focava óbices com a CBB, o Grego em particular. Hoje, se volta hierarquicamente contra a comissão técnica, numa ação diversiva, que culminará, com os fundamentos éticos desrespeitados, numa total e absoluta inversão de valores e responsabilidades, que comissão técnica em lugar nenhum no mundo jamais poderia aceitar, haja visto as declarações dos jogadores Alex e Guilherme, auto elegidos líderes do grupo fechado, feitas após o último mundial, contra o posicionamento do mesmo Nenê, num ensaio, agora confrontado pelo insigne pivô, visando o controle e a liderança do grupo. É uma posição lamentável e altamente comprometedora para a comissão técnica, previamente desqualificada em seus conhecimentos, e o pior, em sua liderança. A outra conclusão é óbvia, ante tantas evidências de proposital posicionamento. Fosse ele agir dessa forma no Nuggets, e estaria desempregado, mas aqui, na Terra de Santa Cruz, o desenrolar de tal comportamento poderá encaminhá-lo, sem culpas e com um ótimo álibi, a não participar da seleção, o que no fundo seria o desejável, já que sem perigos de contusões que arriscassem os milhões em jogo, garantindo uma imagem de bom mocismo, vítima das “circunstâncias adversas” que entravam o basquete brasileiro, apesar de sua abnegada disposição em salvá-lo. Melhor que isso, só dois disso, clama a genialidade popular. Oh deuses, como desejo estar errado pelo que expus acima, e honestamente rezo para que esteja, apesar de que lá no fundo...

2 Comments:

At 1:25 PM, Anonymous Anônimo said...

Professor, já que o senhor está criticando a seleção brasileira, seus jogadores e principalmente a gestão e a comissão técnica (eu apoio estas criticas pois acho o mesmo), quem o senhor convocaria, jogadores que atuam no país e no exterior, que sistema usaria, e que time titular teria preferência? É mais uma curiosidade minha mas, é legal fazer estas comparações com o sistema atual. Abraço, Fernando

 
At 12:34 AM, Blogger Basquete Brasil said...

Caro Fernando,se você acessar dois artigos que publiquei em 2005 terá suas respostas quanto à organização,administração e treinamento da equipe.Os artigos : O que nos falta treinar(28/9/05), e O que nos falta treinar II (3/10/05).Claro,e o texto esclarece,dentro de uma ótica utópica e impossível de ser realizada,mas que representa com fidelidade os meus conceitos de equipe e de liderança,dos quais nunca me afastei.Quanto aos jogadores que convocaria,somente esclareço que a equipe final seria composta de duas duplas de armadores, e oito jogadores exercendo as posições de alas e alas-pivô.Ou seja,jogadores,que independentemente de suas posições tivessem na velocidade,na agilidade na flexibilidade e no bom domínio dos fundamentos,os fatores básicos para pertencerem à mesma.Em breve publicarei alguns artigos com trechos de vídeos que exemplificarão a concepção de jogo que tanto preconizo.Como exercício
hipotético não custa nada sonhá-lo.
Um abraço, Paulo Murilo.

 

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