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Prof.Paulo Murilo 

29 agosto 2007

REUNIÃO EM LAS VEGAS.

E de repente, emergindo de uma reunião logo após a tremenda e constrangedora derrota contra Porto Rico, ressurge um outro time, uma outra disposição para o enfrentamento, uma outra concepção de liderança, uma outra relação inter pares, enfim, uma outra equipe. Pouco ou nada se sabe sobre o teor da reunião, a não ser alguns entreveros flagrados pela TV, onde abundaram ofensas e graves quebras de hierarquia logo após o encerramento do jogo, ainda em quadra. No entanto, duas entrevistas que antecederam o jogo desta noite com o México, dadas à imprensa pelo delfin e pelo Guilherme, deixaram no ar que pontos muito sérios e controvertidos foram postos à discussão aos presentes na mesma, que pasmem, era composta exclusivamente pelos jogadores, sem a presença do comando da equipe, a comissão técnica com seus três integrantes. Numa linguagem evasiva e hermética, externaram ter sido a reunião um ajuste entre algumas posições divergentes e pessoais, realizada olho no olho, e que culminou num “fechamento” de objetivos a serem alcançados por todos. E tantas eram as divergências, que o treino desta manhã deu lugar a um segundo tempo de reunião, onde mais posicionamentos foram definidos.

E então, o que se viu ainda no primeiro quarto do jogo contra os mexicanos, foi uma guinada radical na escalação da equipe, quando, contrariando o seu reiterado posicionamento de partidas anteriores, a comissão técnica fez entrar os até aquele momento inaproveitados Guilherme e Huertas, encostando de forma visível e acintosa os jogadores Nezinho e JP Batista, reservas preferidos do técnico principal, que somente participaram nos minutos finais do jogo, e cujos semblantes demonstravam nitidamente suas insatisfações ante a nova situação. Outrossim, Marcelo e Alex se firmaram em suas inabaláveis posições, agora na companhia do Guilherme, exatamente o trio de cardeais que expuseram pela mídia, ao término do Campeonato Mundial de triste memória, seus posicionamentos contrários àqueles jogadores que se negavam à participar da seleção, o delfin em especial. Com a definição da base da equipe, formada pelo Valter, Leandro e o delfin, de a muito definida no check list nenesiano, o grupo cardinalício formado pelo Marcelo, Alex e Guilherme se impôs nas escalações levando consigo o Huertas, preterido claramente pela comissão nos jogos do torneio, em favor do Nezinho . No campo dos pivôs, os posicionamentos do delfin, do Spliter e do Murilo, não poderiam ser obstados pelo novato JP Batista, preferido pelo técnico principal em muitas das etapas percorridas pela equipe, mesmo sendo um bom jogador.

Com estas disposições estabelecidas, constatou-se de uma vez por todas o conservadorismo técnico-tático enraizado no âmago dos jogadores, acostumados e sedimentados no sistema de jogo tradicional com um armador e suas movimentações padronizadas e repetitivas. Essa forma de jogar e atuar garante o aproveitamento permanente dos alas, dos cardeais, num rodízio de três para duas posições, destinando o Huertas à reserva direta do Valter, em vez do preferido Nezinho. Claro, que com a adoção de dois armadores a divisão territorial das capitanias hereditárias seria alterada para menos, o que não era de interesse dos cardeais.

O que se viu daí para diante, foi a tremenda ascensão da liderança dos jogadores por sobre o comando da comissão, que não pode sequer disfarçar tal evidencia, haja visto as radicais mudanças de escalação testemunhadas por todos aqueles que entendem um mínimo de basquetebol, e mesmo por aqueles que pouco entendem do mesmo, bastando para isto revisar os jogos anteriores. Temos então estabelecida uma nova ordem, item final do check list onde o quadradinho permitindo a continuidade do técnico pode ser preenchido pelo xis do delfin e dos cardeais.

A entrevista do delfin, onde explica ao seu modo como a equipe se comportava tecnicamente, e como mudou esse mesmo comportamento após o estabelecido na secreta reunião, nos esclarece a dimensão do que lá ocorreu, e do que foi modificado, aspectos estes demonstrados através a performance da equipe na vitória contra os mexicanos. E tudo à revelia da comissão, que se tiver um pingo de dignidade, se vê na obrigação de tomar duas atitudes : ou restabelece seu primado de comando, agora mesmo submergido pela liderança dos que deveriam ser os comandados, ou, por uma questão de quebra irrecorrível e definitiva de hierarquia e de ética, se retira de um campo de luta a que não mais pertence por deposição de comando, antes de que seja vitima de seus próprios erros, de suas omissões.

Mas meu amigo, se tais mudanças levaram a equipe à vitória, por que tanta objeção a uma simples e retórica reunião de jogadores bem intencionados? Bem, vimos o que ocorreu no jogo contra o México, uma equipe fraca e de pior performance defensiva do torneio. Esperemos os dois jogos à seguir, contra argentinos e uruguaios, onde as definições serão de maior monta, para aquilatarmos objetivamente quem realmente deve comandar uma equipe nacional de basquetebol lutando por uma vaga olímpica, se uma comissão técnica , ou um núcleo de jogadores opositores da mesma. Bem sabemos a resposta, e a coragem necessária para assumí-la. Tudo o mais é conversa de compadres colocando panos quentes, no afã de não perderem feudos conquistados também em reuniões ,tão ou mais fechadas e herméticas do que esta em Las Vegas.

Amém.

4 Comments:

At 10:53 AM, Blogger Unknown said...

Pq voce chama Nene de delfim?

 
At 11:18 AM, Anonymous Anônimo said...

Caro Professor.

Apesar dos pesares, achei ontem uma boa atuação.

Guilherme fez uma boa partida e se mostrou melhor do que o Marquinhos,
mesmo com todos os problemas que surgem, etc.

Nenê não vinha jogando nada e
acho que as discussões com Marcelo,
apesar de serem em momento infeliz de acontecer, ao menos dá uma chamada no cara ne ?

Marcelo, Guilhereme e Alex, podem sim ter uma lideranmã negativa na Seleção, mas a Comissão que tem que resolver isso né ?

Eu pelo menos, vejo com bons olhos esta reunião, porém não sabia que Comissão ficou de fora.

Em um nivel profissional, acho que deveriam ter entrado lá e falado e muito.

Enfim, dificil saber Professor.

Quando tudo começa errado, dificil é acertar tudo ne ?

E pergunto ou senhor, mesmo o Mexico ontem nati-morto,
nós fizemos um bom jogo, se isso
ocorrer nestes proximos 3 dias,
temos mais chances do que antes correto ?

Abraço !

 
At 2:44 PM, Blogger Basquete Brasil said...

Prezado Linelson, eis duas definições contidas no Dicionário Brasileiro da Lingua Portuguesa :
Delfin,s.m. Título do principe herdeiro na antiga monarquia francesa

Delfin,s.m. Peça de jogo do xadrez,
também chamado Bispo.

Como vê,bem apropriado às funções exercidas e exteriorizadas pelo insigne jogador.Um abraço,
Paulo Murilo

 
At 2:48 PM, Blogger Basquete Brasil said...

Prezado Henrique, realmente dificil de se dizer algo, mas não de prever situações que se desenrolarão daqui para diante sempre que algo de não acordado vier a ocorrer, e que em se tratando de um jogo sempre penderá para um dos lados. Dificil realmente é se prever para qual dos lados penderá.Um abraço,Paulo Murilo.

 

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