Basquete Brasil
Discute a atualidade da modalidade no Brasil, e suas implicações a um possível soerguimento técnico.
15 agosto 2007
TREINO? PRA QUE?
Quantas vezes fiz voltar jogadores que se atrasavam para os treinos, e não foram poucos que dispensei por faltas seguidas aos mesmos. Em seleções regionais a freqüência, a dedicação e a disposição em bem treinar eram pontos fundamentais para seguirem com o grupo. Incutia nas divisões de base o amor, o respeito e a disciplina a cada treino realizado, como um preito ao trabalho bem concebido, e por isto mesmo, compensador. Era um trabalho árduo, sistemático, doloroso, sacrificado e sem garantias de que bons resultados seriam colhidos, nem à curto, quiçá à médio tempo, talvez à longo prazo. Sabíamos que viriam, no tempo devido, atemporal. O mesmo ocorria nas divisões superiores, sem concessões, sem lamúrias, sem facilitações de qualquer ordem, e numa época em que o profissionalismo variava do marrom ao incolor, das pequenas ajudas financeiras ao inconstante incentivo escolar. Mas num ponto, todos os envolvidos no processo concordavam unanimemente : sem treinamento árduo e constante não chegaríamos a lugar nenhum.
Hoje, os tempos são outros, tão avançados, tão revolucionários e estratosféricos, que o treino tomou outra conotação, pois não são todos que se submetem ao mesmo como no passado recente. No conceito de seleção nacional, em qualquer dicionário, de qualquer idioma, de qualquer nação, trata-se da reunião dos melhores, tecnicamente falando, todos superiormente treinados e suficientemente testados, para os enfrentamentos de alta técnica nos grandes torneios internacionais. E esse conceito, que tem sido adotado por todas as seleções que se encontrarão no Pré-Olímpico que se inicia em uma semana, tem seus princípios adaptados “à moda tupiniquim”, aquela que professa o principio de que o treino é só para alguns, dentre os quais um ou outro será cortado, em beneficio de outro que já não treina a meses, mas tem o desplante de anunciar pela mídia que entra em forma “rapidinho”. Gostaria de saber a reação de seu american coach se fosse comunicado dessa disposição técnica antes do inicio da próxima temporada da liga. Seria impensável tal posicionamento, ainda mais pela penca de dólares em jogo. Mas por aqui, a comissão técnica, escaldada pelo vexame no Mundial, onde jogaram mais do que treinaram, resolveram readaptar o planejamento da equipe, treinando mais do que jogando, mas somente para os não abençoados pelas leis nebebianas, que por conta de seguros, contratos e terçóis que migram para a virilha, dispensam solenemente os ensinamentos e condicionamentos necessários à formação de uma equipe de competição. E lá se vão para uma semana de três jogos e alguns treinos, para na próxima encarar a dureza extrema de um Pré-Olímpico onde somente dois se classificam para as Olimpíadas. Como atuarão? Como se integrarão? Como se comportarão perante tão flagrante discriminação? E se um outro pivô se descompatibilizar dos problemas contratuais que enfrenta, lá mesmo, em Las Vegas, assumirá no lugar de um outro que se matou nos treinamentos, mas que aprenderá da forma mais dramática, que para alguns esse aspecto fundamental do jogo não tem o menor valor e importância, bastando somente pertencer àquela casta dos eleitos divinos por atuarem na liga onde se joga o melhor basquetebol da face da terra, claro, na concepção deslumbrada da maioria, mas com as devidas cautelas opinativas de uma minoria que sabe ir fundo nas verdades e inverdades que cercam a realidade dos fatos, a começar por uma boa parte da imprensa e da opinião pública americana.
Mas a comissão técnica afirma que dada a dureza da liga americana, os convocados da mesma seriam preservados desde a preparação para o Pan-Americano, somente exigidos na preparação para o Pré, sendo atendida somente pelo Leandro, que mesmo após uma cirurgia fez questão de participar dos treinamentos, até mesmo antes do pagamento do seguro exigido pela NBA. Os demais, com até três meses ausentes de qualquer atividade com bola, aqui desfilaram suas majestades , na plena certeza de que se integrariam à equipe sem os treinos planejados por uma comissão, que se colocará daqui para diante como refém de uma situação, originada na indisponibilidade técnico-administrativa desses jogadores, mas que também originará uma conveniente desculpa se um fracasso vier a ocorrer. No toma lá dá cá, em que uma mão lava a outra, perderá o basquete brasileiro, perene vítima de uma pseudo-liderança que agora inova com o “treinamento subjetivo e sensorial”, aquele em que alguns jogadores se situam além da primaria necessidade que qualquer equipe de competição, em qualquer categoria e nível, tem de treinar duramente para competir.
Vamos ver no que dá tão surpreendente e revolucionária forma de se preparar uma seleção nacional do país bi-campeão mundial e três vezes medalhista olímpico, que se vencedor inverterá todo um processo que se acreditava único e inquestionável até os dias de hoje, o da necessidade imperiosa e absoluta do treino, o elemento básico para a competição, o treino.
Apondo-se um x no último quadradinho da check list do delfin, estará o técnico comissionado a dar prosseguimento a tão empolgante preparação técnico-tática. O delfin garante, e assina embaixo, com um x.
Amém.
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