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Prof.Paulo Murilo 

13 outubro 2004

CONHECENDO A ARTE DO ARREMESSO

Hoje talvez sejamos o país em que os jogadores mais tentam os três pontos no mundo.Oscar e Marcel, sem dúvida nenhuma deixaram uma marca duradoura no seio da juventude praticante do basquetebol em nosso país.O terrivel é constatar que em nenhum momento nos últimos 10 anos algum jogador os tenha igualado em precisão e eficiência no dificil e altamente especializado arremesso de três pontos. Ao contrário dos outros arremessos, a variável mais importante nessa especialidade é o maior ou menor controle que será exercido sobre a direcionalidade do mesmo.Coordenação,força e trajetória de nada valerão se a direção sofrer desvios.É o mesmo que um foguete espacial,com sua descomunal potência e velocidade supersônica ao ser lançado de uma plataforma fixa,ter quebrado o seu pequeno giroscópio, responsável pela direção e controle do mesmo.Em 1950 uma pesquisa publicada por Mortimer provava que da linha do lance-livre um desvio de somente 2 graus no momento do arremesso lançava a bola para fora do aro da cesta.Imaginemos os graus que inviabilizariam uma tentativa da linha dos três pontos.Alguns estudos apontam para menos de 1 grau! Um jogador dotado de muita força,com um lançamento de trajetória alta, e com impulsão acima da média nada logrará de efetivo se não obter o mais alto grau de controle de direção que lhe for possivel. Belo estilo,elegância, estética apurada, ângulação de membros em perfeita simetria, tudo isto de nada concorrerá para uma efetiva eficiência se o controle da diração da bola for pífio.No entanto,em pleno desequilíbrio,ou lançando após alcançar o ponto máximo de elevação estando em queda,de lado, ou até mesmo projetado fora de seu centro de gravidade o arremesso terá boas chances de sucesso se for executado com pleno dominio de sua direcionalidade.Um belo arremesso, sem controle de direção apurado é superado por um de estética inferior se bem direcionado.E como poderemos visualizar esse tão decisivo e preciso fator.Sabemos que pela mecânica do lançamento, quando a mão impulsionadora transfere força à bola, esta é lançada com uma rotação inversa em torno de um eixo definido no momento do arremesso.Agora imaginemos esse eixo que é diametral à bola estando paralelo ao nível do aro e equidistante dos bordos do mesmo durante sua trajetória.O que teríamos senão um perfeito alinhamento eixo-nivel do aro, tanto no paralelismo, quanto na equidistância dos bordos do mesmo,conotando uma direcionalidade com desvio próximo ao zero grau, não importando de qual distância tenha sido feito o arremesso.E qual seria o fator mais importante para o sucesso deste controle senão o tipo de pega que o jogador aplica na bola com sua mão impulsionadora, já que a outra mão somente mantem o equilibrio da mesma.Minha tese de doutoramento é exatamente sobre este controle, e no decorrer dos artigos tentarei discorrer sobre ele.Sugiro que o leitor tente estabelecer as pegas(ou empunhaduras) que conhece com a ação que as mesmas possam vir a exercer sobre o controle do eixo diametral da bola em sua trajetória para a cesta, dentro dos padrões que mencionei linhas atrás, que influencias poderão exercer os dedos na sintonia fina do arremesso, e quais aqueles que tocam por ultimo na bola.Serão estes os responsáveis pela perfeita direcionalidade, pelo decisivo zero grau de desvio? Como podemos ver,muito tem sido dito,comentado e analizado com relação ao ato altamente técnico e de precisão inigualável que é o arremesso à cesta, de que distância for,com marcação ou sem,saltado ou não,equilibrado ou desequilibrado,com ou sem projeção do corpo,enfim, opiniões sem um minimo de conhecimento técnico,e por que não, ciêntifico de uma ação delegada a uns poucos que detêm o dominio micro-muscular e perfeito sentido senso- espacial, que os fazem verdadeiros mestres da arte do arremesso.Nada mais oblitera o desenvolvimento da técnica do arremesso do que essa incontrolável e absurda paixão pelas enterradas, que podem até ser plasticamente bonitas,mas que se constituem na antítese da arte do arremesso, de cuja falta tanto nos ressentimos nos momentos decisivos do jogo. Em uma partida que minha equipe juvenil do Barra da Tijuca realizou contra o Benfica,campeão nacional, no Torneio da Amadora em Portugal,de 1997 meus jogadores ficaram fascinados com o aquecimento da equipe lusa, onde seis jogadores de procedência angolana davam um show de enterradas.Vendo a apreensão demonstrada pela equipe chameio-os e disse enfaticamente-Eles enterram e nos ganhamos! Resultado?Vencemos por boa margem e eles não enterraram uma bola sequer. O arremesso é uma conjunção de arte e técnica, e como tal deve ser entendida, pesquisada, convenientemente analisada e comentada, não só por comentaristas especializados, mas principalmente, pelos técnicos responsáveis pelas categorias de base, de onde emergirão as futuras"mãos santas"em nosso país. O resto deveria ser convenientemente"enterrado".