Basquete Brasil
Discute a atualidade da modalidade no Brasil, e suas implicações a um possível soerguimento técnico.
30 abril 2007
CONSIDERAÇÕES...
Num grande jogo, Franca venceu o Campeonato Paulista, ante uma equipe aguerrida, composta de alguns muito bons jogadores, abrindo uma ótima perspectiva no que concerne às nossas futuras seleções. Digo isso, porque assistimos um duelo de equipes iguais na forma de jogar, porém, seguindo o exemplo francano, escalando jogadores possuidores de bons fundamentos, na dupla armação, e até nas alas. E isso só foi possível com a presença em quadra de todos os armadores que dispunham, já que somente dois alas autênticos participaram na maior parte do jogo, Jefferson por Assis, e Rogério por Franca. Os pivôs se equivaliam, e procuravam manter um comportamento dinâmico no interior dos garrafões
acompanhando o jogo veloz dos armadores, principalmente quando penetravam driblando e fintando. O numero de assistências foi muito grande, exatamente por estes motivos. Defensivamente, pela total similitude tática adotada por ambas, a equipe de Franca levou alguma vantagem ao agir em antecipações, propiciando importantes retomadas de bolas e conseqüentes contra-ataques, ao passo que Assis primava mais pelo cadenciamento ofensivo, liderado por seu eficiente e muitas vezes brilhante armador Fúlvio. Mas um fator foi determinante na vitória de Franca, as cinco penetrações ao final do jogo executadas pelo veterano e renovado ala Rogério, que agiu como um ala de verdade, dominando bem o fundamento da finta em velocidade, preferindo a penetração para dentro do garrafão em vez da linha final, recebendo faltas seguidas, e convertendo eficazmente os lance-livres. Aos 36 anos, Rogério evoluiu nos fundamentos básicos, que aliados à sua grande experiência fez dele o elemento crucial na vitória francana.
O que salta aos olhos é a rápida aceitação do modo francano de escalar sua equipe por alguns de seus adversários, mormente Assis nas partidas do torneio final. Ficou provado que a qualificação na execução dos fundamentos fez com que os técnicos escalassem suas equipes com dois, e até três armadores, dinamizando as ações ofensivas, e incrementando substancialmente seus poderes defensivos. E ficou mais provado ainda a grande e urgente necessidade de incutirmos nos alas o gosto pelo treinamento massivo dos fundamentos de drible, fintas e marcação, tão zelosamente desenvolvidos pelos armadores, assim como implementarmos velocidade e agilidade a nossos pivôs, na positiva busca de uma performance perdida nos últimos vinte anos de vícios técnicos e colonialismo tático.
Ficará faltando encontrar, através estudos, tentativas, pesquisas sérias e de caráter evolutivo, de novas soluções ofensivas e defensivas, dotando nossos jogadores de sistemas dinâmicos que explorem ao máximo as potencialidades dos mesmos, e não o emprego de sistemas exógenos, mas que prontos para o consumo tanto cativaram, e ainda cativam a maioria de nossos técnicos, não muito preocupados e ciosos pela busca do novo e do inusitado. Essa preguiça funcional tem de ter um fim, e a prova de que esse fim é possível tem sido dada por Franca, Assis e Brasília em seus mais recentes jogos, mesmo que somente pelo fato de escalarem mais armadores do que vinham fazendo de longa e obscura data. É um começo, que representa um passo decisivo no reconhecimento da urgente e premente necessidade que temos de dotarmos alas e pivôs dos melhores e possíveis treinamentos de fundamentos. Somente assim reencontraremos o nosso verdadeiro lugar no concerto internacional.
Brevemente teremos de disputar torneios internacionais de capital importância para o futuro de nosso basquetebol, e desde já teremos de optar por dois caminhos, por dois comportamentos. Um, de sonharmos de olhos abertos com a participação daqueles que militam na NBA, que com a exceção do Varejão, não demonstram muito interesse em fazê-lo. Da Europa, o Spliter e o Huertas seriam, pela juventude e qualidade muito bem vindos à seleção. Os demais, bem poderiam sair de nossas equipes, se devidamente treinados e preparados nos fundamentos e em sistemas dinâmicos de jogo. Outro, o de mantermos o atual “projeto da múltipla comissão técnica”, amparado por uma mídia embevecida pelo sucesso técnico e econômico de jogadores que muito em breve falarão nossa língua com sotaque, e distanciados da necessidade de um tempo razoável de treinamento, obstados que são pelas cláusulas contratuais de suas milionárias equipes, pouco ou nada preocupadas com nossas necessidades de preparo adequado. Enfrentar essa realidade, baseada na constante ameaça da não participação estelar de alguns, e do medo incontido de preparar eficientemente os bons jogadores que possuímos em nossas equipes, medo esse respaldado pelo desconhecimento e pela incompetência técnica, nos faz, no momento, escravos de uma situação, que em tudo, e por tudo, aplaina os caminhos das desculpas e esfarrapadas explicações de um fracasso mais do que anunciado.
Precisamos com urgência renovar nossas esperanças, fundamentando-as em novas idéias e concepções, fatores advindos de cabeças pensantes e experientes, que são os ingredientes básicos daqueles que possuem o dom da liderança, e a coragem de exercê-la. Comando não se divide. Ele é assumido ante a vitória e a derrota. Por isso é solitário, é indivisível.
Quando num setor de capital ou menor importância nasce um problema, e que o responsável pelo mesmo não deseje que seja resolvido, o melhor que tem a fazer é nomear uma comissão. Mas se desejar equacioná-lo, nomeia um profissional competente, mesmo que não comungue com alguns de seus princípios . É o suficiente.
Se existe no país alguém desse porte? Eu mesmo conheço alguns, poucos bem sei, mas existem, e são muito, muito bons. A turma da CBB também os conhecem, mas...
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