Basquete Brasil
Discute a atualidade da modalidade no Brasil, e suas implicações a um possível soerguimento técnico.
27 julho 2007
DOIS ARMADORES.
Assistindo pela TV algumas competições de menor apelo popular no Pan-Americano, tive a oportunidade, em uma das provas de GRD, mais propriamente um solo com fita, de reforçar um conceito que mantenho vivo em minhas atividades por mais de 50 anos, aquele que não dispensa jamais uma peça de reposição, uma reserva, em qualquer atividade técnica e de precisão. Uma atleta, por não reservar ao lado da pista uma fita reserva, ao ter o seu aparelho destruído não pode pontuar em sua atuação. E assim o é em qualquer atividade técnica desportiva. No basquetebol, a função de armar e liderar uma equipe, através ações de extrema complexidade individual e coletiva, jamais se imporá com um só armador, pois sua anulação ou mesmo limitação através forte anteposição defensiva, porá todo o esforço de sua equipe a perder. A utilização inteligente de dois armadores de alta técnica, por si só conotará um aumento substancial de ações de qualidade que um jogador de outra posição jamais conseguiria. E esta opção foi sempre a preferida pelas nossas equipes de antanho, que as levou a conquistas inesquecíveis e históricas. Aos pouquinhos nossos técnicos começam a se desvencilhar dos cabrestos que os têm prendido ao modelo do basquetebol profissional americano, tomado como exemplo absoluto, e que vem sendo seguido e adotado nas últimas duas décadas, sem variações nem adequações às nossas reais e autênticas necessidades. As recentes e contundentes derrotas americanas em campeonatos internacionais, cujas equipes representativas advinham da NBA, colocou em cheque os conceitos técnico-táticos vigentes naquela organização, fazendo renascer um outro conceito, largamente utilizado e desenvolvido no desporto colegial e universitário, muito mais próximo ao modelo internacional, ao modelo FIBA. A Europa tem desenvolvido tal conceito à perfeição, assim como os argentinos, vencedores das maiores competições realizadas recentemente. No entanto, nosso basquete ainda se recente de novas e renovadas atitudes, se mantendo fiel ao modelo anacrônico importado do rico basquete americano.
Fala-se abertamente hoje que o jogo de duplas, o dá e segue, é um conceito moderno de basquetebol, mas esquecem que duplas como Bob Cousi-Bill Russel, Oscar Robertson-Jerry Lucas, Amauri- Wlamir, Dalipagic-Cosic, já a desenvolviam décadas atrás, sempre modernas e atuais. E secundando tais duplas um outro armador garantia a reserva técnica de suas equipes dentro do campo de jogo. A qualificação de uma equipe sempre passará pelas mãos de dois armadores, verdade esta que aos poucos vai sendo redescoberta por alguns técnicos brasileiros.
E nossa equipe maior, a seleção nacional, estará na vanguarda desse simples, objetivo e correto conceito? Pelo que temos visto nos últimos tempos, não só nas equipes principais, masculina e feminina, como nas equipes de base, absolutamente não. Mas, algumas tímidas experiências têm sido realizadas, como no recente Campeonato Mundial Sub-19 masculino, e em alguns momentos em jogos do Pan-Americano que ora se realiza no Rio. Haverá continuidade? Bem, se depender da opinião de alguns setores bem representativos da mídia especializada, sim. Mas, e as comissões técnicas que atuam e comandam as seleções? Temo que não, pois a teimosia em comprovar autoridade e comando ainda está arraigada em suas concepções, o que dificilmente mudarão. A declaração do técnico da seleção feminina sub-19, que estreou com uma derrota estrepitosa ante as australianas, em muito esclarece tais posições: “O que fez a diferença no jogo foi o excelente aproveitamento nos três pontos das australianas. Elas acertaram 13 bolas em 19 tentativas(...)”. Foi uma derrota de 33 pontos, ante uma equipe que joga com duas excelentes armadoras, e mantêm mais duas na reserva, o que qualifica sua equipe ofensiva e defensivamente falando. Uma equipe que se permite levar 13 bolas de 3 pontos não tem velocidade para se antepor a tais arremessos, ações estas possíveis com a utilização também de duas armadoras permanente, e não esporadicamente dentro da quadra. E poucos e velados comentários foram feitos à cerca da outra catastrófica participação de uma seleção nacional em um Campeonato Mundial, a equipe feminina sub-21, que saiu do campeonato com uma única vitória, e que levou somente duas armadoras. A equipe campeã, a norte-americana, levou quatro.
Muitos outros exemplos poderiam ser descritos, mas cairiam sempre num lugar comum, o de que a tal “filosofia” do basquete moderno ainda nos custará grandes e perenes dissabores, pela teimosia encruada de seus mentores.
Torço para que eu não siga solitário nessa luta por mudanças em nossa forma de jogar e atuar, não só no campo dos torneios internacionais, como, e principalmente nos de âmbito interno, para que possamos nos soerguer do fundo poço em que nos encontramos. Amém.
PS- Quero aqui retificar uma nota de falecimento que publiquei no artigo “Porque não?”, do grande atleta Marvio Ludolf, que me foi confirmado por pessoas ligadas ao meio desportivo, quando na realidade o passamento foi de seu tio que tem o mesmo nome. Penitencio-me pela falha jornalística, que deveria ter sido mais profundamente pesquisada. Peço ao querido Marvio que me perdoe, de coração. Paulo Murilo.
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