Basquete Brasil
Discute a atualidade da modalidade no Brasil, e suas implicações a um possível soerguimento técnico.
05 setembro 2007
OS ESLAVOS...
“Os eslavos são perfeccionistas. Treinam excessivamente, com atenção aos detalhes. E não abrem mão da disciplina. Para resumir: o trabalho deles se assenta em disciplina, treinos e liderança.”
“Gostaria de ver um eslavo na seleção brasileira. O basquete que a Argentina joga, e que o Uruguai tenta jogar, é o basquete que os eslavos inventaram. É placar baixo, que aproveita os 24 segundos de posse de bola. Em suma, o antijogo”.
São estas as propostas e sugestões do hoje comentarista, palestrante, torcedor, e também sofredor Oscar Schmidt, segundo sua própria definição, em uma entrevista dada no O Globo de hoje.
Definamos inicialmente o termo eslavo, segundo o Dicionário Aurélio:
Eslavo SM. 1. Grupo étnico e lingüístico que abrange os poloneses, checos, eslovacos, búlgaros, russos e outros povos afins, da Europa Central. 2. Indivíduo deste grupo. Adj. 3. Desse grupo.
A Enciclopédia Wikipédia ainda classifica os eslavos dessa forma:
Eslavos ocidentais – polacos, checos, eslovacos.
Eslavos orientais – bielorrussos, russos, ucranianos.
Eslavos meridionais – eslovenos, sérvios, montenegrinos, croatas, bósnios, búlgaros, macedônios.
Com tanta opção e escolha, qual tipo de eslavo seria o escolhido para dirigir nossa seleção? Um russo? Um croata? Um sérvio? Um esloveno? Qual seria o melhor para nós? Se o critério for definido pelo fato de ter de ser um eslavo, a escolha vai ser difícil pela ampla oferta eslávica. Sob o critério da exigência técnica em treinamentos, disciplina e liderança, terá de ser um eslavo latinizado, tanto lingüística como culturalmente preparado para encarar a realidade tupiniquim, a não ser que prepare e treine a equipe na Europa, mais exatamente num ambiente eslavo. Aliás, e mais propriamente, treinamentos exigentes e detalhistas, assim como ungidos pele disciplina e liderança técnica não são exclusividade de sérvios, balcânicos, latinos, americanos,chechenos, esquimós ou guaranis, e sim de todo e qualquer profissional sério, estudioso, pesquisador, respeitador, democrático e voltado ao novo sem omitir o velho, pelo menos como balizador de experiências, que são válidas enquanto vividas. Por outro lado, cabe aqui um pequeno esclarecimento, acerca da afirmação de que o atual jogo praticado na Europa, Argentina e um pouco pelo Uruguai, foi uma invenção eslava, pela valorização dos 24 segundos de posse de bola, e os baixos placares, constituindo-se como o antijogo. Trata-se na realidade de uma evolução do sistema de jogo empregado pelas equipes universitárias americanas desde que as mesmas evoluíram do tempo livre de posse de bola, para a regra dos 45 segundos, mais além com os 40 segundos, estabilizados nos dias atuais em 35 segundos, situações que não ensejam largas margens de pontos por partida, e que são, para os americanos, a grande escola de disciplina de jogo e domínio dos fundamentos, preservada pelo longo tempo de posse de bola. A antiga Iugoslávia, que era formada por vários povos de origem eslava, fundamentou-se na escola americana que teve uma grande influência na península itálica após a II Grande Guerra, e cuja proximidade à região dos balcãns, onde se encontrava propiciou um intenso intercâmbio, o que originou também uma grande rivalidade desencadeada pelos regimes políticos implantados em ambas as regiões, democrata de um lado, comunista do outro. Essa maior proximidade com o mundo ocidental, fez com que a escola iuguslava passasse a praticar um tipo de basquetebol misto da disciplina tática emanada pela influência oriental, com a nascente velocidade originada pela implantaçãop dos 24 segundos no lado ocidental. Nem mesmo o sistema defensivo baseado na linha da bola foi um primado eslavo, já que a mesma teve suas origens no mesmo basquete universitário americano à partir da década de 30, quando as bases do grande jogo foram estabelecidas e normatizadas pelos grandes técnicos da época, como Nat Holman, Clair Bee, John Wooden, Forrest Allen, e muitos outros formidáveis professores.
A par destas influências, fruto da grande penetração e divulgação de uma vasta bibliografia, que se mantém até os dias de hoje como a mais profícua entre todas as modalidades esportivas, foi que o grande jogo evoluiu e se ramificou pelo mundo, inclusive entre nós em algum momento de um passado não tão distante assim, mas que nos últimos vinte anos sofreu um processo refreador, que somente encontra uma explicação plausível na precariedade dos segmentos diretivos que se sucederam na direção das entidades federativas estaduais e principalmente na entidade nacional, a CBB.
A vinda de um técnico estrangeiro, eslavo ou não, somente se justificaria se o mesmo estivesse comprometido num vasto e amplo projeto organizacional do basquetebol em seu todo, desde a formação, até às seleções nacionais, que seria o resultado do desenvolvimento e aplicação de todo o trabalho proposto. Pela diversidade cultural e a enormidade do território nacional, não acredito que um técnico de fora dessa incontestável realidade obtivesse resultados, nem mediato, nem mesmo a um longo prazo, a não ser que viesse tapar a peneira do imediatismo, na tentativa de preparar uma seleção fragmentada e descaracterizada, visando o dificílimo Pré-Olímpico do ano que vem.
Ao entendermos que as atuais formas de jogar, ao estarem divididas entre o modo americano, e o modo europeu, não poderemos jamais omitir o fato de que ambas as escolas, se assim quisermos definir, se baseiam num elemento uno e indivisível para ambas, o domínio dos fundamentos, sem os quais, jogar de forma lenta e acadêmica, valorizando a posse de bola, ou atuar em velocidade respaldada num poderoso sistema reboteiro de defesa, jamais seriam bem sucedidas sem o completo domínio dos mesmos. Quando na atualidade, jogar com um ou dois armadores, um ou dois pivôs plantados no garrafão, ou mesmo atuar sem nenhum, diluindo as diversas tarefas e posições entre os cinco jogadores, se tornam cada vez mais presentes nas quadras, como opções táticas e até estratégicas, um só e determinante fator se apresenta como unânime em sua utilização e preparação rígida, o domínio dos fundamentos do jogo, aqueles mesmos que foram classificados e codificados por uma plêiade de geniais técnicos e professores na remota década de 30 do século passado. Por tudo isso, ninguém em qualquer parte do mundo eslavo , americano ou de outra procedência pode ter a ousadia de se considerar inventor, do que na realidade é uma evolução lenta e contínua de pequenas conquistas que no seu somatório deságua nas diversas concepções do grande jogo.
E por que não possam existir entre nós, técnicos que atinjam os patamares de seus colegas estrangeiros? Por que tão negativa presunção que não carece da mais simples adjetivação, transita entre nós, como se fossemos uns deserdados do conhecimento, prática, experiência, comprometimento, liderança e patriotismo? Que pecado cometem aqueles, que ao se encontrarem ao largo dos conchavos político-esportivos, dos apadrinhamentos interesseiros, das maquinações empresariais, se vêem obstados de sequer constarem pelo seu trabalho honrado e de qualidade, de qualquer possibilidade de colaboração, por mais simples que fosse, visando a melhoria do basquete entre nós, exatamente por serem contrários às pseudo lideranças que nos têm sido impostas nos últimos vinte anos?
Este é o real óbice que vem entravando e entrava nossa evolução no basquetebol. Temos sim, ótimos técnicos, formidáveis professores, gente que estuda e se sacrifica na missão de ensiná-lo, pesquisá-lo e difundi-lo por esse enorme país, onde encontramos, americanos, orientais, africanos, índios e até, eslavos. O que realmente necessitamos, com a urgência de ontem, é que esses profissionais se reúnam, se organizem, discutam e decidam, de uma vez por todas se preferem se manterem no ostracismo dos covardes, ou encarar a dura realidade da boa luta, aquela que não garante vitórias, mas que vale sempre à pena de ser travada, por ser justa e corajosa.
Amém.
6 Comments:
Professor, é muito compreensível o seu argumento, a valorizção do nacional, e não do importado, eu também acho que temos técnicos capazes, muitos deles no anonimato, mas capazes. Acho q o que deveria ser feito, era uma escolha geral, do técnico que deveria ser escolhido, não só por dirigentes, mas por outros técnicos e também jogadores. Aqui no sul, um excelente professor que se mantém no anonimato é o Sérgio Einloff, que vai treinar a equipe do kopp/Vera Cruz no campeonato gaúcho. O que este homem sabe é brincadeira. Extremamente estudioso, ele prioriza acima de tudo a defesa e os fundamentos. Excelente professor. Mas acho muito difícil. O marcel é uma boa escolha. Mas como muitos estão dizendo por ai, um teécnico estrangeiro para mudar o ar da graça e o Marcel como assistente ia ser uma boa escolha. Todos falam de eslavos, mas porque não um espanhol? afinal eles ganharam o mundial, e possuem uma liga fortíssima. Também sou a favor da união dos técnicos. mas isso só vai ser possível se o egos pararem de travar batalhas. Abraço professor, e tomara que o grego faça uma escolha "certa".
Professor Paulo, tudo bem com o senhor????? Que texto maravilhoso, viajei com sua aula, rápida e resumida, sobre a história dos fundamentos do basketball!!! Linda por sinal!!!
Eu até antes de ontem, era a favor de um estrangeiro no comando da seleção, até para mostrar aos jogadores, que eles tem que jogar com o tal estrangeiro... Mas aí estava pensando, pq não colocar um técnico brasileiro, de renome e com gabarito para treinar os rapazes, e buscar um estrangeiro para ser o assistente técnico imediato e pegar um José Neto, para ser o segundo assistente e assim, ir aprendendo com ambos, para futuramente a filosofia se perpetuar na seleção e nas divisões de base!!!
Pra mim, vejo dois nomes brasileiros de renome internacional e com respeito dos jogadores, seriam: Miguel Angelo da Luz, com seu curriculum maravilhoso e Marcel, um estudioso e estrategista, que tem respeito junto aos jogadores, pelo que provou em quadra.
E o nome de alguns estrangeiros para ser um assistente, vejo nesses: Carlos Duro(Carlitos), Flor Melendez e alguns assistant Coachs de universidades dos EUA, que tem como função treinar a defesa e preparar taticamente o selecionado, tais como Leon Rice de Gonzaga, entre outros, o que vc acha professor?????
Um fortíssimo abraço!!!
Prezados William e Clovis,incentivado pelos seus comentários publico um artigo sobre "o técnico estrangeiro",numa concepção bem pessoal, porém baseada em experiências validas, por serem vividas.Espero que as analisem e dêem seus depoimentos. Um abraço,
Paulo Murilo.
eu queria saber como se faz um teatro de diciplina do baskete bol vcs pode me ajudar
ajudame por favor
Prezado anônimo,de saida relutei em responder seu pedido,pois não aceito comentários anônimos no blog.Escreva novamente,assine seu nome abertamente,e verei no que possa ajudá-lo,mas precisarei de maiores detalhes. Um abraço,Paulo Murilo.
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