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Prof.Paulo Murilo 

20 setembro 2007

PINÇANDO POR AÍ...

Pinçando aqui, pinçando acolá, algumas declarações em blogs e jornais nos fazem pensar que seriedade e responsabilidade decididamente não fazem mais parte do vocabulário desportivo, sem mencionar a arrogância e o desprezo pelo bom senso e pelo público interessado pelo basquetebol.

1 – Declarações gregorianas : “Há a possibilidade dele ser um estrangeiro, mas nada foi decidido. Tenho mais de 30 técnicos que enviaram currículos, telefonaram, assim como agentes de outros. O planejamento está feito, independentemente do treinador(...)”. ( O Globo. 19/9/07, assim como as demais que se seguem).

Ou seja, mesmo com um planejamento previamente estabelecido, 30 técnicos e seus agentes buscam a boca rica (dólares em profusão...) bancada com o dinheiro público que nunca é auditado..

“ Com certeza um europeu, mas não sei se espanhol. Acho que temos bons técnicos brasileiros, sempre valorizei os técnicos nacionais, mas precisamos de alguém para complementar o trabalho. Toda a comissão técnica será brasileira. O técnico que vier será para passar o bastão aos técnicos brasileiros, e não para ficar para sempre. Ele vai trabalhar bastante, dar clinicas. Nós escolheremos o treinador estrangeiro até dezembro, para que em janeiro ele já trabalhe.”

Para entender melhor vamos ao dicionário- Complementar, adj2g. Que serve de complemento. Complemento SM 1. O que complementa. 2. Acabamento, remate.

Entendido, o nababescamente bem pago, e melhor assessorado técnico estrangeiro, aqui aportará para complementar um planejamento previamente estabelecido por um departamento ou comissão técnica, dará conselhos ou alguns pitacos, algumas estéreis clinicas, passando o bastão a seguir, saindo com muitos dólares no bolso, fruto de uma bem urdida “estratégia de cala a boca”, para uma platéia de basbaques permanentemente iludidos pela supremacia exógena, e que não percebem, nem de longe, o poder de voto e conseqüente continuísmo, emanado do controle técnico de nossas seleções.A FPB agradece penhorada por tal domínio e controle. Pena que adote o continuísmo do que ai persiste, pois em caso contrário o grego melhor que um presente baixaria em outro terreiro.

“ (...) Assisti o Eurobasket e não vejo nada de muito diferente, embora Rússia, Lituânia e Espanha sejam muito fortes. Também não vi nada de mais na Grécia, na Alemanha, na Eslovênia e na Croácia (adversários do Brasil no Pré-Olímpico Mundial)(...)”.

Tudo bem, se nada de mais o nosso diligente e bem informado dirigente observou na Europa, porque razões quer importar um técnico desse continente, que custará, por baixo, algumas centenas de milhares de dólares? Os 30, ou mais currículos de técnicos, mais os agentes interessados, numa transação que via de regra envolve comissões e propinas, não explicariam os prazos até dezembro, quando um rentável leilão poderia ser estabelecido à margem dos verdadeiros interesses , por serem eminentemente técnicos, que beneficiariam a seleção brasileira? No caso de uma nova comissão de brasileiros, como reagiriam e se comportariam perante um técnico complementar pago à peso de ouro? Como hierarquizar tal mixórdia?

“ (...) Vamos a Pequim com as duas seleções. Já reservei 40 bilhetes para lá, 20 para a seleção masculina e 20 para a feminina. Disse ao Paulinho Villas-Boas ( ex-jogador da seleção e atualmente no Comitê Olímpico Brasileiro) para reservar essas passagens. Temos história, ganhamos várias Copas Américas, Pan-Americanos, mas temos esse peso da (ausência do masculino) nas Olimpíadas.”

Convenhamos, quem reservou os bilhetes, a CBB ou o COB? Se a quantia a ser despendida é originaria das verbas federais do COB, o que o impede de, como dono da chave desse cofre em particular, exigir, e até intervir nesse caudal de insensatez e desvario, resultante de tanta incompetência e falta de transparência? Mistérios da natureza... já explicado pelo cancioneiro popular.

Ainda não levantamos os custos. O Eurobasket, com 16 equipes, custou US$ 3,8 milhões. Foi o que a Espanha pagou à Fiba para promover o evento.O Pré-Olímpico das Américas custou US$ 3 milhões. Sobre o Pré-Olímpico Mundial, não temos valores (...)”.

E nesse momento decisivo da grande novela, milhões de dólares para promover o Pré-Olímpico Mundial entre nós, é que, todas as raposas, felpudas ou menos felpudas, algumas inclusive meio carecas, mas todas raposas de DNA indiscutível, esfregam as mãos na antevisão de mais uma festança a fundo perdido, como é de praxe nesse meio, com as verbas emanadas de nossos suados e injustos impostos, na cristalização definitiva de que vale qualquer coisa, qualquer tramóia, qualquer golpe baixo, qualquer política de rastejante nível, para a perpetuação da espécie junto aos galinheiros do poder.

2 – Declaração do técnico responsável pela seleção brasileira cadete masculina para o 20º Campeonato Sul-Americano, que acontece de 1º a 7 de outubro na Argentina.

Vamos começar introduzindo a parte tática para que os atletas se familiarizem com os conceitos internacionais, já que é a primeira competição no exterior para a maioria. O trabalho técnico também vai ser feito em cima do tático. Nesse inicio os jogadores vão adquirir os conceitos e o padrão do sistema de jogo. Como é a primeira seleção, não conheço as outras equipes.Pela tradição acredito que a Argentina, Uruguai e Venezuela são nossos adversários diretos na briga pelo título. Argentinos e Uruguaios fazem um trabalho de médio e longo prazo, assim como estamos fazendo. O objetivo é ganhar bagagem internacional, conhecer outras equipes e estilos de jogo já visando a Copa América e o Mundial da categoria acima, comentou o técnico José Neto”. ( Databasket em 19/09/07).

Inacreditável, que um projeto de formação de uma seleção de jovens entre 14 e 16 anos se inicie com a introdução da parte tática, para adquirirem os conceitos e o padrão do sistema de jogo e que “também” o trabalho técnico irá ser feito em cima do tático. Se coordenador fosse hoje, de um setor técnico de clube, federação ou confederação, não só desqualificaria tal projeto, como despediria seu, ou seus autores, com a justa causa de incompetência, despreparo e imposição anti-natural no ensino para jovens , de uma modalidade desportiva que, em qualquer e responsável sociedade voltada aos princípios básicos educacionais, se iniciaria com o enfoque complementar e aprimoramento dos fundamentos do jogo, condições básicas para a elaboração de sistemas de jogo que se coadunassem com as qualidades adquiridas e observadas no preparo e treinamento iniciais, jamais o contrário, como declaradamente expõe o entrevistado, que hoje é apontado como o futuro candidato a técnico da seleção principal, só não sendo bem esclarecido se seu papel oscilará entre complemento, ou suplemento do estrangeirismo que se avizinha.

Pinçamentos tristes e constrangedores estes, mas que espelham a nossa mais triste ainda realidade, que os deuses em suas infinitas paciências vêem esgotar. Amém.

6 Comments:

At 10:12 PM, Anonymous Anônimo said...

Caro Professor, regresso de uma semana complicada para mim na equipe e complicada para os estudos.


E chegar, sexta a noite e ler tais frases de tais cabeças é de doer.

Olimpiadas ? Talvez nem Londres-2012

Abraçao para o senhor !

PS: E questiono o senhor sobre fundamentos e iniciação, duas horas diárias de treinamento é o suficiente para corrigir bem os fundamentos de iniciantes de 13,14 anos ?

Abraço e Obrigado novamente !!!

 
At 11:19 PM, Blogger Basquete Brasil said...

Prezado Henrique,realmente é lastimável que tenhamos de conviver com tanta insensibilidade.Mas não há mal que sempre dure.Duas horas diárias de treinamento é mais do que suficiente para essa faixa etária.Não esquecer que são crianças em pleno desenvolvimento,onde o preparo deve primar mais pela qualidade que quantidade.Este último fator é a porta de entrada da especialização,já que se caracteriza pela repetição,e que só deve ser iniciado após os 17 anos em média.Outro lembrete oportuno é a utilização dos contestes,que atraem e interessam aos muito jovens.Pequenas cidades,se incentivadas e apoiadas se prestam maravilhosamente para esse tipo de trabalho,já que a proximidade dos locais de moradia,estudo e treinamento viabilizam o mesmo,com perda minima de qualidade.Um abraço
Paulo Murilo.

 
At 9:27 PM, Anonymous Anônimo said...

Na sua opinião,falta fundamento aos nossos jogadores profissionais?
Acho que sim,e seu texto foi muito esclarecedor para mim. Nosso basquete precisa duma reestruturação que deve vir de quem não tem nenhum comprometimento com isso:a CBB.

 
At 12:27 AM, Blogger Basquete Brasil said...

Prezado Diego,e não só os jogadores pecam pela precariedade de seus fundamentos,pior são os técnicos que não os corrigem por desconhecimento das técnicas básicas,e pela fixação quase doentia pelas coreografias emanadas de suas lastimáveis pranchetas.E tudo isso referendado pela CBB,através um pífio departamento técnico,onde basquetebol é palavra de baixo calão.Concordo com você,ser por aí a necessária reestruturação do nosso querido jogo.Um abraço,Paulo Murilo.

 
At 1:08 AM, Anonymous Anônimo said...

Olá, professor Paulo Murilo..eu sou estudante de Jornalismo da Unesp Bauru...em São Paulo..e vou fazer uma matéria tratando dos blogs que se dedicam aos esportes diferentes do futebol..a idéia da matéria é mostrar que a imprensa alternativa da web tem sido uma saída para os amantes de outros desportos que não seja o futebol possam buscar informações....gostaria de saber se posso enviar algumas perguntas ao snehor sobre seu blog e sobre essa temática...
meu e mail: bernardo.sanches@gmail.com
Desde já, muito obrigado..aguardo retorno
.Bernardo Sanches

 
At 3:49 PM, Blogger Basquete Brasil said...

Prezado Bernardo,estou à sua disposição para as perguntas que desejar fazer.Um abraço,Paulo Murilo.

 

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