FREE hit counter and Internet traffic statistics from freestats.com


Prof.Paulo Murilo 

07 junho 2008

A HERANÇA...

É uma sexta-feira radiosa, e bem cedo pego meu velho Fiat 95 e parto para a cidade via Barra da Tijuca. Como moro na Taquara prenuncia-se uma viagem e tanto até meu destino. Mas o que vejo? O transito fluindo calmamente, sem atropelos, mudança esta sentida desde antes um pouco do inicio dos Jogos Pan-Americanos, quando estações do metrô foram inauguradas no sentido Barra-Penha e Barra-Botafogo, transformando a ida de carro praticamente num tour turístico pela belíssima orla do Rio. Como havia um pouco de tempo sobrando ao meu compromisso na cidade, paro em uma das escolas públicas beneficiadas pelo plano de projeto esportivo anexado ao futuro olímpico de massa, que dotou as escolas cariocas de dependências mínimas, porém decentes, de kits formados por uma quadra coberta, uma piscina de 25 metros e uma mini pista de atletismo, além de uma pequena verba suplementar para que os professores de Ed.Física dessem mais horas de trabalho visando o atendimento comunitário. Converso com os professores e constato o sucesso do projeto, estampado em seus sorrisos de satisfação pelo trabalho que desenvolvem junto aos professores de artes e musica, em estreita colaboração com os demais professores das disciplinas tradicionais. Antes de sair dou um pulo na pequena, porém atualizada biblioteca, e na cozinha, onde um estimulante odor de comida bem feita exala no ar. Saio e percorro o trajeto até o autódromo, onde grandes e modernas instalações desportivas foram construídas para os Jogos, e o que vejo meus deuses? Muitas, muitas crianças ocupando as quadras e piscinas, praticando as modalidades oferecidas pela municipalidade, em escolinhas onde os talentos garimpados nos programas desenvolvidos nas escolas da região desenvolvem suas aptidões. Fico feliz e gratificado com a herança deixada pela organização lapidar dos Jogos para a população carioca. E como surpresas ainda poderiam ocorrer, vejo voltarem os pescadores nas lagoas que circundam as dependências do autódromo, como um pouco mais adiante o bairro que serviu de Vila Olímpica, cujas águas límpidas contrastam dramaticamente com a cloaca a céu aberto de antes daqueles benditos Jogos. E chego na Barra, suavemente, rejuvenescido, admirando o quanto o povo desta cidade evoluiu em sua educação no trânsito, quando perante ações sócio-políticas que realmente os beneficiavam. E com a ausência de jovens e muitas crianças que pululavam os cruzamentos na ostentação de sua pobreza e abandono, hoje amparados pela sociedade e estudando em tempo integral, fico agradecido do fundo do coração, desejando, ao passar pela monumental sede do COB na Avenida das Americas, saltar e ir agradecer tão contundentes e preciosas dádivas, frutos de uma extraordinária administração dos bens públicos na organização ímpar e patriótica daqueles inesquecíveis Jogos.

E quando no dia seguinte, abro o jornal e me deparo com as autoridades diretivas do Estado e do desporto nacional, onde ministro, governador, prefeito, presidente do COB e benemérito da FIFA, entre outras autoridades empresariais, sempre eles, se abraçam, se beijam e sorriem escancaradamente para as lentes televisivas do mundo inteiro ao ver a cidade maravilhosa escolhida na rodada semifinal para sede das Olímpiadas de 2016, cujos projetos enfocam benfeitorias muito além daquelas que herdamos do Pan, e que relatei emocionado acima, numa exibição explicita de poder além do sonhado, inclusive para cidadezinhas como Madrid, Tókio e Chicago, onde só o projeto de exeqüibilização a ser apresentado no ano que vem na rodada decisiva se eleva no patamar acima dos 50 milhões de reais, e cujas obras complementares às do Pan irão orçar por volta dos 3 bilhões, é que percebo ter sido aquele trajeto até a cidade uma armadilha em forma de sonho a que todos os cidadãos honestos e trabalhadores desse infeliz estado, seus filhos e famílias, caem dia após dia, ano após ano, décadas após décadas, restando aos mesmos, a mim, um urro do fundo de nossas indignadas almas- CANALHAS!

Amém.

2 Comments:

At 7:44 PM, Anonymous Anônimo said...

Prof. Paulo Murilo,

Concordo com suas críticas sarcásticas com a herança deixada pelo PAN e acrescento, sem sarcasmo:

- Por quê o Botafogo recebeu o Engenhão praticamente de graça, sem nenhuma contrapartida para a cidade? Poderia disponibilizar as instalações esportivas do estádio para colégios públicos do entorno, fornecendo material de apoio, alimentação, professores de educação física e as crianças/jovens ainda poderiam competir representando o clube;

- Por quê a Arena do Autódromo virou uma casa de shows, construída com dinheiro público e em área pública? Em que estado estarão agora as quadras de bom nível existentes lá? Qual evento esportivo ocorreu após a privatização?

Comparo o PAN e a Copa de Futebol(assim como a difícil possibilidade de sediarmos as Olimpíadas) a família de poucas posses que investe uma fortuna numa festa espetacular para os 15 anos da filha. Ficam as lembranças agradáveis e pouca contribuiçao para seu futuro.

Infelizmente muitos cidadãos brasileiros se satisfazem dessa forma e a postura dos políticos e dirigentes apenas reflete tal situação.

Devemos lembrar que, pelo menos os políticos, são eleitos pelo povo e pautam sua atuação (em grande parte das vezes) nas espectativas dos eleitores.

Como adoro o basquete e a maioria dos esportes, e entendo que são uma ferramenta poderosa para a melhora da nossa sociedade, fico triste com as oportunidades perdidas no PAN e descrente que outros eventos de tal porte tenham tratamento diferente.

Uma pena!

Abraços,

 
At 12:02 AM, Blogger Basquete Brasil said...

Prezado Jdinis,desculpe mais uma vez,mas não são sarcásticas as minhas críticas.São doridas e profundamente melancólicas, frutos de uma imensa desilusão com os homens responsáveis por tanta insânea e insensibilidade para com o povo,principalmente os jovens do país.Eles sequer merecem comentários sarcárticos,que destino às vezes a pessoas com inteligência acima da média, e não impostores e corruptos. Um abraço,Paulo Murilo.

 

Postar um comentário

<< Home