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Prof.Paulo Murilo 

12 novembro 2004

O QUE NOS FALTA REALMENTE?

Este é vigésimo primeiro artigo que publico,e depois de abordar diversos assuntos técnicos e situações politico-administrativas creio que apresentei alguns,porém sólidos argumentos para, de uma forma objetiva apresentar conclusões e sugestões visando a melhoria técnica e administrativa de nosso combalido basquetebol. Falta-nos,prioritariamente união.Quando técnicos aceitam influência,orientação,método sistemas e técnicas de uma única matriz,tomando-a como verdade absoluta, e impondo-a inclusive na formação das divisões de base,esteriotipando as ações dos futuros jogadores em modêlos voltados à especialização(jogador 1,2,3...etc), limitando-os a papeis manipuláveis de fora da quadra,escravizando-os em coreografias que se tornaram padronizadas pelas equipes brasileiras,repito,quando os técnicos agem dessa forma, prevejo poucas chances de fujirmos a médio prazo da mediocridade em que nos encontramos. Torna-se urgente o desligamento da matriz NBA,do sonho subserviente de lá vencer como jogador,ou de lá se especializar como técnico ou dirigente,e mesmo se espelhar como torcedor de um esporte que somente eles praticam,e que inteligentemente importam estrangeiros para torná-los propagadores de suas idéias absolutistas em seus paises de origem. Agora mesmo os brasileiros que lá jogam estão relegados à reseva de suas equipes, de onde dificilmente sairão.No entanto são festejados como aqueles craques que levarão a seleção brasileira ao patamar olímpico.Da equipe argentina, campeã olímpica, somente um dos jogadores atuava na NBA,e como estrêla absoluta,e os outros o faziam na Europa, principalmente na Italia, onde, pela força da dupla cidadania de seus jogadores aperfeiçoavam um método de jogar antagônico ao da NBA e totalmente condizente à realidade das regras internacionais negadas pelos norte americanos.Foram campeões por sua extraordinária inteligência ao perceberem que venceriam se explorassem a fragilidade dos americanos perante a crueza das regras internacionais.Para nos restou a pseudo e estúpida aceitação do que chamam"basquete internacional",numa prova cabal de quase total ausência de amor e respeito por nossas raízes culturais e passado brilhante na forma de jogar,forma esta que nos fez imbatíveis em nosso continente.Hoje nem em divisões de base vencemos os irmãos argentinos, que fugiram do exclusivismo perante o modelo NBA. Resta-nos a união pela discussão, pelo embate das idéias,pela fundação de associações estaduais de técnicos, que discutam a modalidade em função de suas regionalidades para, ai sim,em torno de uma associação nacional reencontrar o caminho perdido nos últimos 20 anos.Caberia a CBB encorajar esse caminho,e não se situar como principio, meio e fim na busca das soluções para os graves e terminais problemas que nos afligem.Houve uma época em que fundavamos uma ANATEBA, uma BRASTEBA, que nos reuniamos em pequenos, porém encontros técnicos para técnicos, onde discutiamos e discordavamos, mas sempre concluiamos algo de interesse do basquetebol.Divergiamos porque não utilizavamos em nosso trabalho uma uma única fonte inspiradora.Tinhamos até"escolas"como a paulista,a carioca,a mineira, como outras,que ao se enfrentarem nos campeonatos nacionais definiam os caminhos de evolução técnica a serem percorridos.Hoje o que apresentamos é uma única forma de atuar, calcada no modelo NBA, que nos chega de enxurrada pela TV,pelos jornais e revistas, em matérias regiamente pagas, em contraponto à nossa pobreza.Só sairemos dessa penúria no momento que nos reunirmos.Encontros como os que aconteciam aos sabados na USP,onde mais de 100 técnicos assistiam palestras de colegas, e depois as discutiam,ou aqueles que aconteciam no Rio,no RGS e em Minas, dos que tenho conhecimento, e que eram levados a sério pela CBB, que hoje simplesmente omite qualquer manifestação que não compactue com suas orientações exclusivamente de cunho político-continuistas,onde inexiste discussão aberta sobre as técnicas da modalidade que representam.Um exemplo? Em 1971,quando exerci a função de coordenador do Laboratório de Tecnologia do Ensino da EEFD/UFRJ propús a realização de um filme de média metragem semi-profissional em 16mm sobre o Campeonato Mundial Feminino realizado aqui no Brasil.Juntos,EEFD e CBB levantamos uma pequena verba para a compra e a revelação dos negativos,e realizei,filmando,roteirizando,editando e gravando o único filme técnico sobre basquetebol feito em nosso país.Cópias foram distribuidas até no exterior, como Australia e Portugal,e outras que até recentemente faziam parte do acêrvo de duas escolas de Ed.Fisica quando se deterioraram pelo passar do tempo.Quatro anos atrás descobri os negativos de imagem e de som do mesmo e corri para um laboratório especializado de cinema para tentar salvá-lo.O orçamento foi de seis mil reais aproximadamente.Como não dispunha dessa quantia fui a CBB tentar que me ajudassem a salvar aquele único documento da extinção.Resultado? Até hoje o material mofa em um refrigerador da LABOFILMES,e nem sei se ainda existem.O único filme de basquetebol feito no Brasil e documento de um Mundial aqui realizado, patrocinado pela CBB não teve dela a menor ajuda em sua restauração.Uma entidade esportiva que não preserva sua história não está cumprindo sua função de guardiã das técnicas do passado,quiça as do futuro.O que resta? A reação daqueles que são os verdadeiros artífices do jogo, aqueles que em suas funções de professor e técnico mantêm viva a modalidade.Enfim,aqueles que compôem o cerne e a alma do basquetebol,os Técnicos.Unamo-nos e levaremos o basquetebol de volta ao cenário mundial.