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Prof.Paulo Murilo 

15 fevereiro 2005

MESTRES DO OLHAR E DO MOVIMENTO.

Este foi o título de uma reportagem sobre a exposição que explora as afinidades entre o escultor Alberto Giacometti e o fotógrafo Henri Cartier-Bresson publicada no O Globo no dia 17 deste mês. O texto menciona,entre várias coincidências, a vontade de ambos de congelar um momento em movimento. Disse Giacometti- "Toda a ação dos artistas modernos está nessa vontade de captar, de possuir alguma coisa que foge constantemente". Já Bresson assim se manifestou-"Jogamos com coisas que desaparecem...e, quando elas desaparecem, é impossível fazer com que elas revivam". Eis duas afirmativas que caem como um diáfano véu sobre as cabeças da maioria de nossos técnicos. Sonham de olhos abertos com a perpetuação dos movimentos que extrapolam de suas pranchetas mágicas, como se fosse possível a perenização das jogadas estabelecidas pelo sistema de jogo que empregam. Sempre que estabelecem contato com os jogadores repetem, e repetem, até a exaustão os mesmos movimentos, as mesmas soluções, clamam pela obediência à jogada,á rotatividade da bola, com uma intransigência que beira ao fanatismo. É como se fosse uma grande coreografia, onde a repetição das jogadas mortais é o supremo objetivo a ser alcançado. Mas,como mencionaram Giacometti e Bresson, os movimentos acontecem na mesma proporção em que desaparecem, e nunca são iguais, por isso viviam em busca de sua captação, a qual Bresson definiu como o"decisive moment", o momento decisivo, único, fugaz e precioso se captado.Essa foi sua grandeza, pois foi o fotógrafo que mais o registrou no século XX.Nossos técnicos precisam, com urgência, entender que se uma jogada se repetir,com alto grau de frequência, pode-se afirmar que o sistema defensivo do adversário inexiste pela extrema fraquesa de seus integrantes. Um sistema ofensivo é de alta qualidade, não se der certo seguidamente, e sim se estabelecer situações que desequilibrem, pela imprevisibilidade de suas ações,o esquema defensivo do adversário. A repetição sistemática de jogadas produzem situações com alto grau de previsibilidade, e retiram dos jogadores a espontâneidade de suas ações,colocando-os numa situação de meros repetidores de movimentos pré-estabelecidos por seus técnicos. E se os defensores forem de boa qualidade, rapidamente se antepôem aos movimentos ofensivos, anulando sua eficiência. São nesses momentos que se estabelecem as diferenças entre uma equipe bem treinada de outra não tão bem preparada. Quantos são os técnicos que nos coletivos de preparação para os jogos, os interropem para orientar sua defêsa em função de seu próprio ataque pré-estabelecido? Que sempre orienta seus atletas na busca do inusitado, e não do conhecido? Que mesmo tendo um sistema fechado de jogo, propugna por rompê-lo sempre que possível, pois essa sempre será a ação desencadeada pelo adversário? Enfim, que reconhece ser a busca, não de um, mas de vários "momentos decisivos", o fator a ser alcançado com afinco e dissociado do círculo vicioso coreografia-prancheta. Por praticar fotografia por longos anos,e de ter tido em Henri Cartier-Bresson um exemplo a ser seguido é que desde muito cedo procurei entender e praticar o"decisive moment" com algum sucesso, mas que pela compreensão de seu significado, pude levar a meus atletas um vasto leque de opções que visassem o encontro dos mesmos. "Jogamos com coisas que desaparecem... e,quando elas desaparecem, é impossivel fazer com que elas revivam".Cada jogada constitue um princípio e um fim em si mesma, e são irrepetíveis.Precisamos entender esse mecanismo para nos libertar das jogadas mágicas e das pranchetas milagrosas.Meus queridos colegas, precisamos encontrar novos caminhos,pois esse que aí está sendo trilhado por vocês não levará a lugar nenhum, perdão, sabemos onde ele vai dar...