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Prof.Paulo Murilo 

06 outubro 2005

A ÚNICA VÊZ.

Nesses 40 e tantos anos que milito no basquetebol,somente uma vêz testemunhei indicações de técnicos por mérito,e não por QI(Quem indica),que foi assunto muito bem escrito por Fabio Balassiano em sua coluna no Databasket.Pena que sua abordagem tenha sido toda voltada ao basquete americano,pois se o fosse ao nosso teria de escrever não uma coluna,mas uma volumosa enciclopédia.Um dia,talvez,possamos conhecer e detalhar muitos e muitos casos,alguns raiando o inacreditável.Mas voltando ao inicio,corria o ano de 1966 quando a CBB e o Departamento de Estado Americano promoveram um Concurso Nacional para selecionar 5 técnicos que iriam estagiar por 3 meses em universidades americanas.Foram muitas as inscrições,oriundas de muitos estados,pois o concurso foi bem divulgado pelos jornais e federações.O destaque entre os candidatos era o grande Prof.Moacyr Daiuto,autor de um livro clássico de fundamentos e assistente e técnico de seleções brasileiras.A banca julgadora contava com nomes de igual projeção,como Renato Brito Cunha,Waldemar Areno,Alfredo Colombo,todos titulares da EEFD da UFRJ,na época Universidade do Brasil.As provas foram duas,uma escrita,com a duração de 4 horas,isso mesmo,4 horas,abordando tudo de fundamentos ,sistemas,táticas e preparação física,e outra prática em quadra com assuntos sorteados na véspera.Foi uma maratona de trabalho e grande expectativa,inclusive por parte da imprensa.O resultado,surpreendente para muitos classificou os técnicos Raimundo Nonato de Azevedo,Paulo Murilo Alves Iracema,José Carlos Ferraz,todos do Rio de Janeiro,Moacyr Daiuto de São Paulo e Fernando Grosso de Minas Gerais.Como não foi o primeiro classificado,Moacyr Daiuto declinou da viagem,assim como José Carlos Ferraz por total ogeriza a viagens aéreas também desistiu do estágio.O concurso foi realizado em julho,com a viagem estipulada para outubro,quando se iniciavam as atividades nas universidades americanas.Passava-se os meses e nada era resolvido pela CBB,a responsável pela organização do grupo que se submeteria ao tão sonhado estágio.A desculpa eram as viagens aéreas,que segundo informava a CBB era de responsabilidade dos americanos.Em dezembro,desconfiados das protelações e várias desculpas,eu e o Raimundo decidimos ir ao Consulado Americano para saber mais sobre o concurso.Para nosso espanto,o Adido Cultural nos apresentou um contrato com a CBB no qual as passagens de ida e vinda dos Estados Unidos seriam de responsabilidade da mesma,assim como uma ajuda de 100 dolares para cada técnico,e que caberia à Sports International,orgão do Departamento de Estado as demais despesas de transporte,alimentação e estadia em território americano.De posse de uma cópia do contrato,voltamos à CBB,e só conseguimos uma parte da ajuda depois de ameaçarmos contar tudo a imprensa.Teriamos somente a volta garantida e os 100 dolares mas não a passagem de ida.O Minas Tênis Clube,deu a passagem ao Fernando Grosso e mais 500 dolares de ajuda.Quanto a mim e ao Raimundo,graças ao Coronel da Força Aérea e grande árbitro de basquetebol,Helio Louzado,foi conseguida uma carona em um DC-4 da FAB que iria buscar peças de reposição em Washigton,numa viagem de 5 dias,com paradas e pernoites em Belém,Port Prince,Miami,Marietta até a chegada em Washigton,sem pressurização de cabine,alimentação e poltonas reclináveis.Foi uma odisséia,mas conseguimos chegar para o tão sonhado e sacrificado estágio,que no meu caso se extendeu até o Novo Mexico,viajando de ônibus na ida e na volta a New York.Nesta cidade,fiquei alojado numa YMCA terrivelmente degradada à espera da passagem de volta e com 70 dolares no bolso para as diarias de 15 dolares.Num telefonema à cobrar para minha familia,pedi a minha mãe que intercedesse junto à CBB para que enviasse a passagem,o que foi conseguido depois de sérias desavenças.Recebi o chamado da Aerolineas Argentinas às 14 horas do quinto dia,para embarque às 19 horas.À bordo do avião,pude me alimentar após dois dias sem fazê-lo,e por deferência de uma compreensiva aeromoça pude repetir o jantar.O Raimundo ficou por mais duas semanas,com a passagem em mãos,e o Fernando voltou após um mês por problemas de saúde.Ao voltar,cumpri o estipulado e viajei por vários estados divulgando o que observei,além de ter entregue um vasto relatório,que por não ter sido divulgado e sequer lido,retirei da CBB.Fiz muitos filmes das equipes observadas,que serviram de material didàtico nos cursos efetuados.Partem daí minhas divergências com a direção da CBB,pelo fato de obrigá-la a respeitar os acordos,pois desde cêdo descobri que não possuia QI suficiente para ser reconhecido,a não ser quando o fui por força do mérito.Mas isto é outra história que contarei num futuro qualquer.Assim como o Fabio dissecou com autoridade da importância do QI nos Estados Unidos,falhando tão somente quando afirma que todos os agraciados teriam talento para cavarem seus espaços sozinhos,evidentemente.O que duvido,pois oportunistas bem acessorados existem em todas as funções e em todo o mundo,quando muito ligados a poderosos,os QI´s de plantão,e que sempre cobram alto pelos favores.Aqui em nosso país o QI é quase uma instituição oficial,na qual o mérito só atrapalha os bons e lucrativos negócios nas trocas e favorecimentos.Mas acredito que aos poucos nossa gente vá descobrindo o dôce valor do mérito,o verdadeiro sentido do dever cumprido,da conquista merecida. Chegaremos lá.

4 Comments:

At 11:57 AM, Anonymous Anônimo said...

Oi Prof. Paulo, esse concurso não teria sido realizado em 1965? Não foi o Ary Vidal um dos vencedores? Não foi por ter sido um dos vencedores desse concurso que o Ary foi escolhido pela CBB para dirigir a seleção feminina no Sul-Americano do Rio em setembro de 1965, mesmo sem nunca ter dirigido uma equipe feminina antes? Não foi esse o motivo oficial alegado pela CBB ao preterir o Capitão José Bonetti que era bicampeão brasileiro e carioca pela Seleção da Guanabara e pelo Flamengo e favorito a ocupar o cargo?

abç.
Carlos Santoro

 
At 5:08 PM, Blogger Basquete Brasil said...

Prezado Carlos,todo o artigo espelha a realidade,com somente um reparo,do ano do concurso ser 1965 como você bem lembrou.Manterei a data errada como prova de sua bem lembrada intervenção pelo prazo de 30 dias,quando farei a correção.Obrigado pela lembrança.Quanto à escolha do Ary Vidal para o Sul-Americano deveu-se aos impecilhos profissionais do Bonneti em sua carreira militar, sendo inclusive o seu curso na ESAO o responsável também pelo seu afastamento da seleção carioca em 66,quando o substituí na conquista do tri-campeonato alcançado por aquela brilhante seleção em Recife.
Um abraço,Paulo Murilo.

 
At 9:08 PM, Anonymous Anônimo said...

Valeu Prof. Paulo, espero não ter sido indelicado. É que estou escrevendo um livro sobre a trajetória da seleção feminina de basquete e por acaso estou no momento em 1965 na minha pesquisa e como li algumas notas em jornais da época sobre esse concurso fiquei na dúvida se você estava se referindo ao mesmo concurso. Valeu pelo esclarecimento. Parece que os jornais da época escolheram o Antenor Horta pra Cristo e o acusaram de ter optado pelo Ary em vez do Bonetti pois dessa forma ele seria o manda-chuva de fato da seleção. Porém como a imprensa carioca têm uma pré-disposição à favor do Flamengo pode ser que tenha sido apenas dor-de-cotovelo.

abç.
Carlos Santoro

 
At 12:55 PM, Blogger Basquete Brasil said...

Prezado Carlos,um pequeno esclarecimento.Na época,o clube que mandava na CBB era o Tijuca T.C.,desde o comando até a parte técnica, que exerceram sua influência por muitos anos,entre os quais os de maior brilhantismo das seleções nacionais.O Ary era tijucano e o Antenor tricolor(FFC).Influente mesmo pelo Flamengo somente o inesquecivel Kanela.O Bonetti era militar,e como tal tinha as exigências da caserna como prioridades, assim como o presidente da CBB que era um almirante reformado, e o diretor técnico,um coronel aviador,ambos tijucanos.Essa influência somente cessou com o advento da era Grego,com a entrega do controle técnico aos paulistas,fator que exeqüibilizou a sua primeira eleição,referendada na segunda.Um abraço,Paulo Murilo.

 

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