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Prof.Paulo Murilo 

03 setembro 2006

FINAL DE FESTA

E o mundial chegou ao fim. Venceu a Espanha com todo o merecimento, fruto de um longo e bem planejado trabalho de bases. Porque e quais bases? Primeiro, pela qualificação de seus técnicos, que ao longo dos últimos 20 anos sedimentaram uma das associações de técnicos mais prestigiosas e fecundas da Europa. Segundo, originando um trabalho de formação, especialização e pesquisa a que submeteram algumas gerações de talentosos jogadores, culminando no título que hoje alcançaram, o de campeões mundiais. São as bases do sucesso, as quais não possuimos. Gregos, norte-americanos, argentinos e italianos, também se fundamentam nessas bases, e por isso estão na dianteira do basquetebol mundial. Nos anos 70 tentamos implantar aquelas bases, numa época em que, exceto os americanos, todos engatinhavam na organização de suas associações. Nossas iniciativas foram esmagadas pela política exclusivista e ditatorial de um cartel chamado CBB/Federações, que viam nas iniciativas um perigo latente de perda de poder, um despropósito que nos fez regredir indelevelmente. A turma do hemisfério norte, mais os argentinos assumiram a idéia, e hoje colhem os louros de suas corajosas opções. Quando fui para Portugal fazer o doutoramento, pude conviver estreitamente com aquelas associações, frutos dos sonhos de um Pedro Ferrandiz, Juan Tena na Espanha, Teotônio Lima, José Curado, Herminio Barreto em Portugal, Pietro Gamba na Italia, Novosel na Iuguslávia, nomes dentre muitos outros trabalhando visando o progresso do grande jogo. Por aqui o desprestígio e o ocaso àqueles que ousavam enfrentar o poderoso cartel com seus pré-gregos. E agregados aos mesmos, um grupo de técnicos unicamente voltados a seus interêsses pessoais e econômicos, na defesa de um mercado fechado e na maioria das vezes bancado por próceres politicos encastelados em prefeituras interessadas no marketing do nascente "interesse"que o desporto ensaiava entre nós. Em nenhum momento estes pseudo-lideres se voltaram para as bases estruturais, fundamentais na formação e associação dos jovens técnicos, e a formação dos mais jovens ainda jogadores.Aos poucos a fonte das verbas oficiais e empresariais foi secando, ante o primarismo organizacional da modalidade, o que nos levou ao triste patamar que hoje vivemos. Mas, eis que de repente, representantes desse mesmo grupo se auto-proclamam redentores do basquete brasileiro, e ao vivo e a cores reinvidicam para sí os proclames da necessidade urgente da associação de técnicos, e de um profundo projeto de formação de base, como algo inédito entre nós, e inclusive um deles coloca à disposição os conhecimentos que trouxe de recente viagem a Europa.Todos pertencentes a uma casta com fortes apoios de midia, e que nunca, em tempo algum, empunharam a bandeira que agora pretendem desfraldar. Conclamo a todos aqueles técnicos, que desde os mais recônditos lugares deste enorme país, trabalham em condições as mais precárias possíveis, mas que acreditam na possibilidade, que reconheço dificil, de acesso à informações técnicas, a pequenos, porém bem-vindos cursos de atualização, a humildes, porém honestos estágios, à divulgação de seus honrosos trabalhos, à troca de experiências, à melhores materiais, ao reconhecimento de sua importância social, fazendo merecedores de um salário, conquista básica de sobrevivência pessoal e de seu trabalho, para que não se deixem, por mais uma vez, enganar por grupos e lideranças que jamais lutaram por eles, mas vêem no discurso a certeza de um continuismo inaceitável e oportunista, digno de um triste e constrangedor final de festa. Organizem-se em seus estados e cidades, procurem informações junto àqueles que possam e se disponham a fornecê-las(a internet pode ser uma ferramenta auxiliar poderosa nessa procura), e quem sabe poderemos testemunhar o nascimento , ou mesmo, o renascimento do nosso mal-tratado e judiado basquetebol. Amém.

2 Comments:

At 2:24 PM, Blogger Renato said...

Olá professor,

se eu puder adicionar mais uma idéia apenas, é a de que o motor da mudança tem que ser o inconformismo individual.

Não tem associação no mundo que vá resolver, se não houver na cabeça de cada técnico um espírito crítico, de olhar pra TV, ver como jogam os melhores times, e decidir: é isso que preciso exigir dos meus jogadores, ou é isso que preciso ensinar.

Acho que, no basquete brasileiro, falta muito mais esta disposição interna do que condições externas de desenvolvimento. O conhecimento é a base, mas os jogadores e times têm que trabalhar com um nível de exigência muito maior do que se vê hoje, mesmo que o resto da concorrência não siga o exemplo.

Não adianta colocar a culpa somente na falta de condições propícias. Essa falta existe, mas é só um pedaço da história, e não é o maior.

 
At 11:13 PM, Blogger Basquete Brasil said...

Prezado Renato,concordo plenamente com você,mas não devemos nos esquecer de que somente a união,possivel para uns,utópica
para outros,dos técnicos é que possivemente nos afastará do já bem próximo fim de linha no concerto internacional.Um abraço,Paulo Murilo.

 

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