Basquete Brasil
Discute a atualidade da modalidade no Brasil, e suas implicações a um possível soerguimento técnico.
29 agosto 2006
LOS HERMANOS...E NOSOTROS.
Árvore bem plantada, cuidada e adubada, só pode gerar bons frutos. Assim é a equipe argentina, produto de um bem sucedido projeto a longo prazo, que desagua neste mundial como uma das favoritas ao título, o que referenciaria a conquista olímpica. Com um fortíssimo trabalho de base, escudado por uma organizada associação de técnicos, e possuindo uma liga atuante e bem sintonizada com sua confederação, nossos irmãos apontam o caminho que deveriamos seguir, um tanto tardio, mas que valeria à pena tentar. Jogam de forma idêntica a todas as equipes neste mundial, num sistema globalizado e repetitivo. No entanto, conotam pequenos grandes detalhes que só encontram paralelo na equipe americana, baseados num profundo e estonteante domínio dos fundamentos do jogo. E por todos seus integrantes, armadores, alas e pivôs, fazendo com que os deslocamentos, corta-luzes, dá e segues, fintas, dribles , passes e arremessos, fluam por igual quanto ao desenvolvimento e finalização de todas as jogadas tentadas. Podem, inclusive, se dar ao luxo de atuarem com dois armadores puros e dois alas com habilidades semelhantes, e mais um pivô que une força e velocidade, todos interagindo num carrocél de movimentação permanente. E mais, tendo na reserva(?) jogadores tão, ou mais habilidosos. Claro, que dois ou três de seus integrantes estão alguns pontos acima de seus companheiros, mas, em nenhum momento os vemos se situarem dessa forma, o que mantêm o grupo unido. Assim, mesmo que atuando dentro de um sistema ofensivo padronizado, se destacam pela qualidade diferenciada de seus integrantes quando em confronto com os demais. Defensivamente, são formidáveis, pois conseguiram mapear todas as nuances e atalhos do sistema ofensivo que se utilizam, bem como os demais, para desenvolverem ao máximo os conhecimentos sobre cada movimentação do mesmo, para gerarem atitudes antecipativas que o anulam. Outrossim, pela movimentação constante, conseguiram se adaptar a qualquer tipo de defesa zonal, ante a qual pouco mudam em suas ações ofensivas. Trabalhando desde muito cedo a arte dos fundamentos, com técnicos bem formados, e com organizadas competições, somados ao envio de seus melhores jogadores para uma Europa comunitária, na qual a dupla cidadania tornou viável tal estratégia, propiciou ao basquete argentino uma evolução sem par entre nós, sul-americanos, dando aos mesmos uma superioridade, que nos exigirá um alto grau de inventividade se quizermos alcançá-los. Analizando todas as equipes que participam deste mundial, e ao vermos a total similitude de seus sistemas ofensivos, podemos aquilatar, com uma boa dose de certeza, quais aquelas que se destacarão no final, bastando observar quais delas detêm o maior número de jogadores com evoluidas técnicas nos fundamentos. E nesse pormenor os argentinos estão entre os melhores. Nossa equipe, no entanto, ao se situar entre as de menores performances nos fundamentos, pagou pela ineficiência, mesmo atuando nos moldes do que apelidam por aqui de "basquete internacional". Por todos estes fatores, é que sempre propugnei pela busca de outros sistemas de jogo, que é uma boa estratégia quando nos deparamos com um fôsso provocado pela defasagem técnica de duas décadas de mesmice e péssima copiagem de valores estranhos à nossa cultura, mas que fossem embasados pelo emprego maciço do ensino dos fundamentos. O voleibol encontrou esse novo caminho, ao mixar a escola asiática, de velocidade, com a européia, de força, gerando uma nova escola com o melhor daquelas duas, no que foi seguido pelos americanos e italianos, e que nos tem dado a supremacia mundial. Os argentinos, bem sucedidos,ou não neste mundial, deverão optar por novas soluções técnico-táticas, já que possuidores de uma ótima e eficiente infra-estrutura, a fim de se manterem no fóco primal, restando a nos brasileiros o reinício de uma longa e penosa caminhada que é o ônus a ser pago por aqueles que se deixaram perder por preguiça em inovar e por ineficiência dolosa em dirigir e organizar. E nos rastros dos bons exemplos, poderiamos começar pela criação de associações de técnicos regionais, para mais tarde evoluirmos para a nacional, pois desta forma nos livrariamos de saída das influências derrotadas e por isso ineficazes, que já ensaiam se fazerem presentes nas figuras que compõem a comissão técnica referendada pela UNICBB. Sugiro enormemente, que os técnicos se unam em seus estados, que fundem suas associações, que estudem soluções, e que tentem se aproximar de suas federações, no intúito de respaldarem seus esforços sem diluições de cunho político e de interesses que não os esportivos. Se dois ou três estados derem partida a esse projeto, garantirão o apôio dos demais, naquele que poderá vir a ser o renascimento do grande jogo entre nós, e quem sabe, possamos voltar a nos rivalizar com nossos irmãos argentinos. Espero que sim.
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