Basquete Brasil
Discute a atualidade da modalidade no Brasil, e suas implicações a um possível soerguimento técnico.
14 fevereiro 2007
"PROFESSORES"...
Em dois artigos instigantes, Homens e robôs I e II, o jornalista Fernando Calazans do O Globo, abordou uma temática para lá de controvertida, e que de certa maneira espelha uma realidade, não só de nosso futebol,como do desporto de uma maneira geral. Sua conclusão final de que “o atleta perdeu a personalidade de jogador de futebol e se submeteu ao técnico, quando passou a chamar o técnico de professor”, deixa no ar algumas dúvidas muito sérias, principalmente naqueles que realmente se dedicam ao magistério, tanto no desporto, quanto fora dele. E aqui cabe uma pequena reflexão, fundamentada em fatos que passam desapercebidos pela maioria daqueles que militam no campo desportivo,em particular no futebol. De algumas décadas para cá, os professores de educação física que se formavam nas universidades, entre eles vários jogadores profissionais de futebol, encontraram no campo da preparação física o espaço propício ao desenvolvimento de seus conhecimentos científicos adquiridos nos estudos e estágios universitários, tendo muitos deles estendido seus conhecimentos em cursos de mestrado e até doutorado.A não ser aqueles que se notabilizaram como jogadores profissionais, que por essas razões tiveram oportunidades como técnicos, a imensa maioria somente encontrou na preparação física o campo empregatício no mundo do futebol profissional. E pelas suas funções e pela qualificação superior eram corretamente chamados de professores pelos jogadores que preparavam fisicamente, dentro de parâmetros científicos que os igualavam aos atletas de alto rendimento.Naturalmente,as terminologias “professor e atleta” se enraizaram no dia a dia do futebol profissional.E é um fato notório aquele que destina ao professor de educação física a mais absoluta dominância nas comissões técnicas,na grande maioria dos clubes brasileiros, no campo da preparação física. Para eles os jogadores têm de ser preparados como atletas, pois as exigências físicas são enormes, principalmente ante o calendário desumano de nossos campeonatos.
Mas, lenta e paulatinamente ocorreu uma inversão de valores, inversão esta matreira e inteligentemente administrada por aqueles que, destituídos do preparo e formação superior dos preparadores físicos, que tinham por parte dos jogadores o respeitoso tratamento de professores, e que em muitos e muitos casos, inclusive em seleções brasileiras campeãs mundiais assinavam pela responsabilidade diretiva das equipes, por exigência legal, permitindo que aqueles dirigissem as equipes na qualidade de técnicos, ou treinadores. E aos poucos, com suas posições estabelecidas à margem da lei, se apossaram do termo “professor”, que não poderia ser exclusivo de profissionais “subalternos” na hierarquia do mundo futebolístico, onde o ‘professor de futebol” era ele. Para completar o domínio, apossou-se também da terminologia “atleta”, pois sendo ele o elemento principal da organização, o reconhecimento teria de ser total. Não são poucos os “técnicos” que gravitam entre clubes sempre acompanhados de seus preparadores físicos de confiança, aqueles que o sustentam na preparação atlética e o garantem no mercado de trabalho. Agora mesmo a seleção brasileira apresenta uma novidade, a explicação pública, publicada pela imprensa nacional, de que o atual técnico não terá problemas legais por que tem a cobertura de um seu preparador físico. Como vemos, a “qualificação professoral” ostentada por muitos técnicos brasileiros vem fundamentada em alicerces não muito legais, e que a sabedoria na arte da sobrevivência da grande maioria de nossos jogadores trata de tirar o máximo partido dessa realidade, mantendo e divulgando, mesmo ironicamente, um título que a de muito vem sendo prostituído em nosso infeliz país. Uma nação que coloca de lado a educação de seu povo, merece que o outrora orgulhoso e estratégico elo de seu desenvolvimento, o professor, hoje seja um título ostentado pela maioria dos “técnicos” de seu maior anestésico social,o futebol. Aliás, já já teremos no seio da outra manifestação anestésica, o carnaval, os títulos de “professores” a muitos carnavalescos, e quem sabe o de “atletas” aos passistas. Panis et Circenses, é a sina nacional.
2 Comments:
Caro professor (de fato e de direito), li as duas colunas do jornalista Fernando Calazans e concordo com ele, principalmente no que tange o ambiente de futebol profissional no nosso país. Nada contra figura do "Dunga", mas qual a licenciatura que ele fez pra ser chamado de "professor". Não é possível banalizar talvez a mais importante das profissões.
No nosso basquete, a submissão completa a uma única forma de jogar também transforma todos em robôs.
Caro Idevan,numa sociedade em que grande parte dos pais transferem a responsabilidade da educação de seus filhos para as escolas,retirando um tempo precioso dos professores para se dedicarem à instrução curricular,tudo pode acontecer,do atraso cultural,à perda dos verdadeiros vínculos familiares.De a muito o professor é banalizado em suas reais funções de depositários e transferidores do conhecimento,transformados que têm sido em pífias extensões de uma família em decomposição.Mas o termo professor ainda suscita o imaginário daqueles que nem de raspão entendem seu verdadeiro e transcedental significado.A turma do futebol sabe muito bem disso, e se locupleta com a cegueira nacional.É o que penso Idevan,infelizmente.Paulo Murilo.
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