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Prof.Paulo Murilo 

24 março 2007

A NBA E SUA CLAQUE.

Após três etapas o torneio da NCAA vai se aproximando do Final Four,

quando será definido o grande campeão da temporada. Com as transmissões da ESPN e do site da NCAA pude acompanhar com bastantes minúcias a maior parte dos jogos, fator restritivo à maioria dos jovens brasileiros que não possuem TV à cabo ou Internet em banda larga.

Mas mesmo assim, muitos deles acompanharam os jogos beneficiados pelo horário acessível. Em se tratando de uma competição universitária,

num país que leva o esporte à serio, esperava-se que os comentaristas brasileiros destes jogos enfatizassem a grande e decisiva importância que a dualidade esporte-educação representa na vida de todos aqueles jogadores.

Em uma única intervenção, um deles mencionou que a participação nas equipes exigiam de cada atleta um grau de no mínimo 2 pontos de aproveitamento escolar, numa escala de 1 a 5 pontos. Recentemente, em um filme passado entre nós, que retratava a vida do Coach Carter, este exigia sob contrato que os seus jogadores atingissem 2,5 pontos na escala para poderem jogar pela equipe de sua escola. E este foi o único momento que se tocou no assunto. Os demais comentários sempre se pautaram nas oportunidades que todos aqueles jogadores estavam tendo para entrarem no mundo da NBA, ou nas ligas européias, com seus salários que se aproximam cada vez mais daquela. A insistência nestes pontos, totalmente direcionados à profissionalização foram comuns a ambos os comentaristas, que exaustivamente apontavam aqueles que mais chances teriam em ser draftados pelas equipes profissionais, e pelo fato de que para muitos deles ao serem derrotados estariam se despedindo da vida atlética, como se aquele torneio não tivesse outra finalidade que a escolha dos melhores para a NBA e as ligas européias.Ironicamente, alguns comerciais descreviam exatamente este ponto, o de que todos aqueles jogadores poderiam se tornar médicos, advogados, professores , físicos ao término de sua participação desportiva, vencendo ou não os torneios. Mas estavam em inglês, limitando sua compreensão pela maioria de nossos jovens espectadores, e que não mereceram em nenhum momento um comentário que fosse à respeito de suas importâncias. Para os comentaristas o fator relevante era o estágio que alguns daqueles jogadores estariam obrigados a fazer nas universidades antes de poderem se transferir para as equipes profissionais, onde os milhões seriam mais importantes que um diploma superior. Exatamente pelo afrouxamento da obrigatoriedade da complementação do curso superior, que a NBA vem enfrentando uma acentuada queda na disciplina e no relacionamento dentro das quadras, motivadas pelo baixo preparo intelectual de muitos daqueles jogadores que, em numero cada vez maior, ascendem ao profissionalismo vindo diretamente das escolas secundárias e de países europeus, africanos e latinos. O desporto universitário americano têm uma histórica relevância na vida daquele país, não só na formação de grandes atletas, como em suas inserções no mercado de trabalho de alto nível para àqueles que não puderam seguir os caminhos do profissionalismo, ou sejam, a grande maioria. Perdem uma preciosa oportunidade os nossos comentaristas em colocarem em primeiríssimo plano o fator educacional e formativo dos jovens jogadores, em vez de se estenderem em opiniões de quem deveria ascender à NBA, como se para a realidade do basquete brasileiro fosse essa a única esperança para os nossos aspirantes a craques. Quantos de nossos ranqueados jogadores nos Estados Unidos e Europa preenchem seus tempos livres investindo em um curso superior, mesmo como ouvintes? Ou o mais importante é o sucesso da moda em seus ipods ou o penteado e a roupa de grife como marcas pessoais? Sabemos que com extremos sacrifícios, muitos de nossos atletas de elite, e não só no basquete, investem em sua educação, até na área superior, sem o apoio que deveriam ter de seus clubes, e que servem de exemplos a serem seguidos, mas, numa oportunidade impar, pois através um meio de comunicação massivo como a televisão, comentaristas se perdem em projeções de quem será draftado ou não pela NBA, em vez de enfatizarem o que realmente representa o March Madness para aquelas multidões que abarrotam os ginásios e a super audiência televisiva, compostas de antigos jogadores, seus familiares, ou mesmo alunos daquelas universidades, que com suas bandas e líderes de torcidas promovem o grandioso espetáculo de amor e reconhecimento que possuem de suas escolas, e, principalmente, o que devem às mesmas em preparo para as suas vidas, vencendo ou perdendo os torneios.

Infelizmente para nós, culturalmente superiores a eles, o que importam são os milhões, ou os poucos caraminguás que possamos amealhar das sobras que dispensam no dia a dia. Globalização e colonialismo é isso ai minha gente.

Prefiro o acesso via Internet, mesmo com seus irritantes congelamentos, mas pelo menos vejo e escuto os jogos em sua verdadeira dimensão, e não como palco de uma enorme e pungente frustração que assaltam nossos diligentes jornalistas, incapazes de usarem seu formidável instrumento de trabalho em prol de uma juventude, mesmo restrita pelos canais privados, mas ávida por mensagens, exemplos e incentivos que verdadeiramente enriqueçam suas vidas, fundamentadas no estudo, na arte e nos desportos, base cultural de um povo. NBA é detalhe para uns poucos. Educação é tudo para a maioria, pois faz parte dos direitos inalienáveis de toda nação que se considera séria.