Basquete Brasil
Discute a atualidade da modalidade no Brasil, e suas implicações a um possível soerguimento técnico.
23 setembro 2007
O TRISTE DESERTO...
Num sábado calorento e seco, lá fui eu e o filho mais velho, renitente leitor, enfrentar as agruras da longa caminhada pelos corredores da Bienal do Livro, na ânsia de bons títulos e boa leitura, e a esperança de encontrar, no meio de milhares de lançamentos, alguma literatura desportiva, de técnica desportiva, que fugisse um pouco dos chavões oportunistas das autobiografias, das campanhas vitoriosas de algumas equipes, e das familiares ajudas psicológicas aos atletas de alta performance. Para minha surpresa, somente encontrei dois títulos sobre equipes vitoriosas no volibol, e três biografias, duas de personalidades do vôlei e uma do judô. Perdido num estande universitário encontrei uma publicação sobre ciclismo, e mais adiante uma sobre natação. Já me considerava órfão de qualquer livreto que abordasse o basquetebol, quando, numa editora especializada em saúde, encontrei um livro do Prof.De Rose da USP, que abordava alguns aspectos técnicos da modalidade, e, creiam-me, absolutamente mais nada. E olhem, que andei e perambulei por todos os estandes da Bienal, exaurindo-me na busca do impossível, na busca de alguma literatura que abordasse técnica desportiva, que àquela altura, não importava de que modalidade fosse.
Mas, eis que de repente me vejo diante de um estande chamativo e iluminado com três maiúsculas que reacenderam minhas esperanças. Lá estavam, bem a frente as iniciais COB, Comitê Olímpico Brasileiro, o cultor do olimpismo pátrio, o solo da cultura desportiva, o cerne do estudo e da pesquisa voltada a alta performance atlética, filiado ao COI, Comitê Olímpico Internacional, sede da Academia Olímpica de Atenas, onde altos e profundos estudos desportivos e sociais são desenvolvidos, e claro, deveriam ali, naquele feérico estande, estarem representados através farta literatura e profusos relatórios dos estudos e pesquisas realizadas. Atravesso o espaço que me separa do éden prometido pela majestosa apresentação, penetro no recinto com respeitosa reverência, e, e...engolindo em seco, me vejo ante uma estante com pequenos livretos de vários esportes, contendo um breve histórico e algumas regras , e nada mais. Viro-me em 360° e o nada permanece inalterado, e neste momento, reparo que além do que me pareceu um funcionário junto a um terminal de computador, somente eu estava no recinto. Incrédulo, decepcionado e interiormente revoltado, me afastei daquele deserto local, deserto de idéias, deserto de literatura, deserto de esperança. E ao me afastar ainda lanço um olhar inquisidor, como se perguntasse, num grito surdo e inaudível aos circundantes barulhentos e suados, mas que somente ressoou dentro e do alto da minha mais profunda indignação- “Dos três bilhões de reais gastos na cornucópia do Pan-Americano, não sobrou pelo menos algum trocado que financiasse publicações de técnicas desportivas? Ou ao povo brasileiro somente é dado o supremo prazer e honra de assistir aqueles enfatiotados personagens da mais alta política desportiva do país pendurando medalhas e corbeilles em atletas laureados, todos posando para jornais, revistas e TV, inchando seus avultados e desmesurados egos, e que nem estão aí para reles literaturas, ingredientes menores e insignificantes perante suas vaidades e sucessos pessoais”?
Lá, naquele desértico estande, não vi nenhum daqueles personagens que deveriam lá estar, explicando e esclarecendo dúvidas, distribuindo, ou até vendendo a preços módicos um pouco de cultura desportiva, através publicações que atendessem e melhorassem o miserável panorama do esporte brasileiro, ajudando decisivamente a professores e técnicos tornarem realidade seus desejos de atualização cultural e técnica, pois verba é que não tem faltado por aquelas bandas, e que por infelicidade, pouca ou nenhuma importância dá a bibliografias de apoio, que deveria ser prioridade mais do que absoluta para um órgão de tal magnitude.
Na volta, sentado ao lado do filho que dirigia, senti-me triste e diminuído, quando num soslaio li no crachá que ainda ostentava a denominação “professor”, que gostaria que também grafasse “técnico de basquetebol”, por ter constatado mais uma vez, como foi sacrificada a minha missão de instruir e preparar professores e jogadores, mas que nunca neguei a qualquer um dos dois segmentos, novas técnicas, estudos e pesquisas, adquiridas a qualquer preço, indo aonde se encontravam, aqui e no exterior, pagando muitas vezes o preço além das minhas possibilidades. E fiquei triste muito mais ainda pela percepção, não tardia, de que o deserto cultural e informativo ainda perdurará por um bom tempo entre nós, pelo menos enquanto persistirem estandes iluminados e feéricos como aquele, com que me deparei na Bienal.
E o nosso abandonado basquetebol, ainda penará pelas ausências de boa literatura técnica, tão pequena e tão mal distribuída. Ao juntar algumas economias, farei chegar até o fim do ano, através a internet, por este humilde blog, o primeiro livro de uma trilogia, e que será minha última estocada no plexo do maior dos inimigos do progresso desportivo, a ausência e o desestímulo proposital e criminoso de uma bem estudada e embasada bibliografia técnica , inimiga mortal da politicagem e do atraso técnico-cultural desportivo entre nós.
Que os deuses ajudem a todos nós. Amém.
12 Comments:
Professor, esta é a maior dificuldade encontrada por nos, iniciantes na arte de mostrar aos jovens os caminhos do desporto. Imagino o Professor decepcionado quando procurava uma literatura em um grande centro, numa bienal do livro!!!!
Agora imagine nos que estamos no interior?!!! Na única livraria que funciona na minha cidade as unicas (ou seria a única?) literaturas desportivas são as biografias, e a busca de opções pela internet fica difícil, já que são poucos que como o senhor se dispõem a partilhar conhecimentos na grande rede!!!
Livros comprados pela internet se tornam um tiro no escuro, já que com títulos e propostas diferentes as vezes pagamos pelo mesmo conteúdo!!!!
Vejo por exemplo a mesma busca minha, em um leitor assíduo do blog, o Henrique, as dúvidas dele, muitas vezes são minhas também, e imagino que de muitos que estão no incio do trabalho de formação no basquete.
Onde estão todos os nossos mestres e doutores que poderiam estar nos ajudando agora?!!!
Fazendo das suas a minhas palavras: Que os deuses ajudem a todos nós. Amém.
PS: mas que os deuses de uma olhadinha com maior carinho para as nossos dirigentes!!! quem sabe eles não nos ajudem mais?!!!!!
Caro Professor Paulo Murilo, caro Jalber, aqui em Viçosa pelo menos temos o Universidade Federal de Viçosa, porém não existe uma biblioteca setorial - agora é que começa a ser feita - e os livros para basquetebol não são atualizados. São os mesmos por decadas a fio. A maioria são da decada de 70 e poucos do começo da de 80. Com eles é que vou levando a vida que segue na biblioteca central da UFV.
Espero que com a biblioteca seteorial do departamento de educação física, consigamos ter acesso à publicações mais recentes em basquetebol.
E Professor, este é o país "potencia esportiva mundial" que alguns vendem na televisão ...
lamentavel ..
5 poucos livros em uma bienal do livro ..
Um abraço,
Henrique
Prof,
está no ar a matéria sobre o nosso basquetebol masculino, no www.reporteresportivo.com
Abraço e siga na luta!
Professor, li a matéria citada acima. Que vergonha. O presidente da federação gaúcha falando isso que falou. Todos aqui no RS sabem que o carlus nunes é um imcopetente, um pau-mandado, o basquete no RS está quebrado, nem se compara com São Paulo. As categorias de base encerram-se aos 18 anos, qndo muitos que tem potencial de ser jogadores, desistem pois nessa idade , nínguem, e acho q o senhor concorada comigo, está formado completamente para jogar no adulto. Eu defendo as categorias de base até os 21 anos, qndo já pode se avaliar muito melhor qm tem condições de seguir jogando basquete. E isso nao acontece aqui porque alguns clubes mandam na federação, para proteger o seu (o velho, pensano em mim e não no basquete) temos campeonatos muito fracos, e volta e meia algum jogador é convocado para a seleção nacional em alguma categoria. O RS assim como o Brasil em si, está uma vergonha em se falando de basquete. Eu poderia citar muito mais coisas do porque nosso basquete no sul ser tão fraco nesses últimos anos, mas isso é coisa para outro dia. E pensar q cerca de 5, 6, 7 anos atras batíamos de frente com São Paulo para decidir o estado que tinha o mlehor basquete. Uma pena.
abraço professor.
Prezados Jalber e Henrique,bem sei e avalio as dificuldades que os jovens técnicos enfrentam pela ausência de uma boa e básica bibliografia,assim como trabalhos acadêmicos que pudessem servir de referência para trabalhos mais sérios,visando mestrados e doutorados.Estou me mobilizando na tentativa de organizar uma base referencial em basquetebol,para colocá-la na rede à disposição de todos.Sei que é dificil a tarefa,e inclusive tento arregimentar alguns apoios, e até ajuda fisica para organizar e exeqüibilizar o trabalho.Quem sabe ainda poderei dar seguimento a esse projeto, que transcende a minha aposentadoria.De qualquer forma,não percam a esperança e o ardor pela boa luta.Um abraço,Paulo Murilo.
Prezado Editor do site Reporteresportivo, li a matéria e o parabenizo pela seriedade e clareza do texto.Muito obrigado pela oportunidade que me foi dada para externar opiniões e posições sobre o momento do basquetebol.Um abraço,
Paulo Murilo.
Prezado William,segundo o presidente da federação de seu estado "é muito fácil criticar", no que o corrijo afirmando que antes de criticar percorri todos os caminhos da construção,do planejamento,do estudo,da pesquisa,do ensino,da instrução,da divulgação e da transmissão de todos os conhecimentos que me foram permitidos adquirir,fatores que delegam a mim o pleno direito democratico à critica e à negativa do que considero lesivo ao nosso desenvolvimento cultural e técnico-esportivo.Concordo com você sobre o triste momento por que passa o nosso basquetebol,mas sempre afirmo que não há mal que sempre dure, e enquanto existirem jovens,que como você acreditam num futuro melhor,esperanças subsistirão.Um abraço,Paulo Murilo.
Obrigado, Professor
Aproveito o espaço também para convidar a todos que lêem este blog a abrirem discussões também em nosso sítio: www.reporteresportivo.com
é mais um espaço, para que possamos discutir um desporto mais forte e um país mais justo. Críticas e sugestões de pautas são muitíssimo bem-vindas - não poderia ser diferente.
Abraços
Com relação aos livros sobre basquetebol,nos próximos dias colocarei no basquetelondrina.blogspot.com uma relação de livros com fotos e as biografias que tenho aqui em Londrina. Gostaria que, se alguém soubesse de mais algum outro livro, me enviasse o título e a capa para que possamos ter acesso pelo menos a estes títulos, independente se é bom ou ruim, pois depende da realidade de atletas que cada professor/técnico de basquetebol tem em suas mãos. No blog já consta uma relação de filmes sobre esportes em geral. Dêem uma olhada e opinem...
Professor, apenas um interessnte comentário. Um amigo meu foi para os Estados Unidos jogar basquete, no início de agosto, eles ainda estão em pré-temporada, e a temporada começa apenas na metade de outubro. E nós aqui no Brasil fazendo pré-temporadas de 2, 3 semanas, onde a parte tática e não os fundamentos são priorizados, por causa da "correria" de início de temporada. Falei com ele e me disse que o que mais fazem são trabalhos de 1X1 e treinos de fundamentos, ele que é pivô, tem treinamentos específicos de postura defensiva e de movimentação embaixo da tabela, é treinado muito os recursos para se fazer a cesta próxima ao barbante. Infelizmente é a realidade de lá e não aqui. Enquanto isso no Brasil...
Abraço
Prezado Marival,que ótima notícia a que você está dando.Bibliografia,
filmes,fotos,artigos,são ferramentas preciosas para a turma que está começando na direção e formação de equipes.Proponho que façamos crescer esta iniciativa através os blogs e sites que se dedicam ao basquetebol,
fator primordial para o desenvolvimento técnico entre nós.Na medida do possível tenho caminhado ao lado dessa idéia.Parabéns,e conte com a minha divulgação.Um abraço,Paulo Muril.o.
Prezado William,sem querer me repetir,esse é exatamente o posicionamento assumido por mim através os mais de 300 artigos aqui publicados.E que continuarei a publicar, até o dia que...Não ouso prever,somente continuar.Um abraço,
Paulo Murilo.
Postar um comentário
<< Home