Basquete Brasil
Discute a atualidade da modalidade no Brasil, e suas implicações a um possível soerguimento técnico.
08 janeiro 2008
O ANO QUE SE ANUNCIA...
O ano se inicia sem grandes novidades, aliás, nenhuma novidade, prenunciando a mesmice administrativa, assim como a técnica clonada e cristalizada na quase totalidade das equipes brasileiras, em todos os níveis e categorias. E o jogo inicial para mim, Flamengo e Lageado, abrindo o Campeonato Nacional, corroborou o já esperado estado de clonagem explícita aceita por todas as equipes, num espetáculo sem surpresas e esperanças de algo inovador, de algo inspirador. O que se viu foram duas equipes atuando de forma idêntica, pachorrenta e repetitiva, vencendo obviamente aquela que possuía os melhores jogadores nas posições de 1 a 5, conforme os padrões já conhecidos e aceitos como dogma.
No entanto, assistindo o jogo Franca e Araraquara pela série classificatória do Campeonato Paulista, pudemos constatar que a equipe francana continua a utilizar o agora bem mais entrosado sistema de jogo que a fez se diferenciar das demais equipes brasileiras nos campeonatos do ano passado, com a utilização eficaz de dois armadores fora do perímetro, dois alas e um pivô se revezando no perímetro interno, não guardando posicionamentos fixos, objetivando abrir espaços propícios às penetrações, e efetivos e bem equilibrados arremessos de três pontos executados por especialistas nos mesmos, sem abrir mão dos de média e curtas distâncias. Defensivamente continua a empregar a tática antecipativa, como eméritos conhecedores do sistema pétreo e único utilizado por seus adversários, não fosse ela mesma, a equipe francana, utilizadora do mesmo por longos anos, qualificando-a as interceptações por pleno conhecimento de causa, numa engenharia reversa e inteligentemente bem tramada e melhor executada.
Por outro lado, o comentarista técnico da ESPN Brasil, não se cansou de mencionar ser a equipe de Franca “aquela que foge dos esquemas tradicionais, naturais, ao contrário do resto do mundo”, e que “trabalha do fundo para cima, e que as demais trabalham de cima para o fundo”, enfocando o regime de passes e deslocamentos que a diferenciam das demais. Segundo ele, esse tipo de sistema técnico-tático” privilegia a individualidade e não o coletivismo”, se constituindo num fator restritivo na elaboração estrutural da equipe.
Acredito firmemente ser a tentativa da equipe de Franca muitíssimo válida dentro da atual realidade do basquetebol brasileiro, que já esboça essa nova tendência, haja vista a equipe do Minas Tênis, seguidora do mesmo princípio, e que já acumula ótimos resultados alcançados nas últimas competições de que participou. Essas duas equipes poderão desencadear novas concepções técnico-táticas, bastando que as desenvolvam sem medos e arrependimentos, adequando-as a seus jogadores, que só terão a lucrar tecnicamente, pois serão obrigados a uma melhora nos fundamentos do jogo, sem os quais inviabilizarão tão ansiados progressos.
No ano em que disputaremos uma tênue classificação olímpica, ensaiamos ainda que timidamente, algo de realmente novo (se recordarmos os últimos e tenebrosos 20 anos...), algo salutar e que promete resgatar o gosto do drible, da finta e do arremesso eficiente e estatisticamente mais efetivo, o de dois pontos, por todos aqueles jogadores, veteranos ou não, no pleno reconhecimento de que ainda muito podem aprender e apreender com a pratica dos fundamentos, que foram expurgados e esquecidos em nome de falsos “especialistas” nos três pontos, não poupando nem determinados pivôs na aventura além do perímetro.
Que me perdoe o formidável jogador, hoje comentarista, mas precisamos tentar algo de diferente, exclusivo, brilhante e autêntico, algo que ele mesmo nos brindava em sua época de craque maior, diferente dos demais, exclusivo e letal. E não será um técnico estrangeiro e especializado no sistema único de jogo, aquele que nos tirará da mesmice e do marasmo técnico-tático que nos afundou no poço em que nos encontramos, e sim um dos nossos com coragem, discernimento, conhecimento e extremo bom senso para inovar e esgrimir com o futuro, sem medos nem preconceitos. Temos bons técnicos entre nós, ótimos técnicos, mas que precisam ser incentivados a romper com essa atroz realidade, exatamente para ser diferente do resto do mundo, como o fomos no passado.
Amém.
8 Comments:
Prezado Prof.Paulo Murilo,
Não creio que venham acontecer grandes mudanças na sistematica de jogo do basquete brasileiro, não conseguimos contar em uma das mãos os estudiosos do basquete que existem neste país, vejo sim, excelentes xerocadores, basta que se diga que um sistema de jogo é bom, seja em que parte do mundo for, que alguns tecnicos aqui procuram implantar em seus times, sem avaliar os valores basicos da sua equipe, ai começam acontecer aquelas trapalhadas que comumente vemos nas partidas do basquete Brasileiro, enquanto não for criada uma escola para tecnicos não vamos ver nada de diferente que assistimos nessas ultimas decadas onde normalmente escutamos que o basquete do brasil é de ataque e ai vai ficar dificil dentro do basquete atual chegar a algum lugar.
Gustavo Silva
Olá Professor Paulo,
A capacidade de adaptabilidade e mesmo de reflexão citada pelo Gustavo é realmente preocupante. Sendo um técnico jovem, preciso frisar sobre a escassez quase que total de cursos de formação para técnicos, sendo que precisamos ir por conta própria buscando aqui e ali informaçõs. Agora com a reativação da APROBAS me parece que teremos isso proposto. Falando ainda da base, uma iniciativa legal da F.P.B. ano passado e que prometeram continuar neste 2008 é a realização de diversos festivais para crianças, com frequência quase que mensal e sem caráter competitivo, onde ao final todos são premiados e ainda recebem lanches. Isto possibilitou maior acesso e motivação à crianças de escolas públicas, associações, ongs e demais que não possuem estrutura organizacional e/ou financeira para disputar um torneio federado. Acredito que devemos olhar sempre com uma perspectiva positiva e não reforçar os aspectos fracos, então prefiro ressaltar que os sites REBOTE, Painel do Basquete Feminino e o seu blog (além de muito bem atualizados) complementam-se e integram-se de forma a fortalecer a mídia do nosso esporte no tocante à grande rede. A questão agora é buscar os próximos canais: tv, jornais... e principalmente apoiar as pessoas que trabalham com basquete, com a democratização deste acesso. Um maior compartilhamento das idéias a respeito do jogo. É hora de guardar os egos todos, vibrar numa frequência de realização concreta de algo propositivo, coletivo, integrado, em todos os campos. Na internet já temos uma boa retaguarda, torço para que continem firmes. Propostas e iniciativas em conjunto, as palavras são essas. Ah, por fim, contnuamos no aguardo do seu livro Professor Paulo, bem como nos diagramas ilustrados e comentados sobre um sistema de ataque único proposto por ti, onde funcionaria igualmente contra qualquer tipo de defesa. Abraços.
Prezado Gustavo, concordo com você,e já vislumbro algumas iniciativas visando uma escola de técnicos,como o projeto esboçado pelo Prof.Pedro Rodrigues de Brasília, e torço para que seja bem sucedido.Para você ter uma idéia do hiato nesse assunto,fui o coordenador do último Curso de Técnica de Basquetebol realizado na UERJ do Rio de Janeiro em 1983!!!De lá para cá mais nenhum foi realizado.Realmrnte lastimável.Um abraço,Paulo Murilo
Prezado Fabio,seu relato realmente reflete a nossa triste,mas não irreversível,realidade.Acredito que aos poucos,porém firmemente,sairemos dessa situação pré-falimentar.Para esse ano incluirei videos no blog e um pequeno setor onde todos poderão ter acesso a alguns bons trabalhos em basquetebol, teses inclusive.Quanto ao livro,sairá de qualquer forma,estando já na mão do editor.O sistema de jogo que você menciona,será o primeiro artigo0 em video que apresentarei. Um abraço,Paulo Murilo.
Prezados Amigos
Não sou técnico, a minha visão de um jogo é bem diferente da de vcs, que avaliam o jogo de uma forma técnica quanto a movimentações, jogadas de ataque, defesa, transição.
Assiti os dois ultimos jogos da Universo, sinceramente lastimável em todos os sentidos, em todos os seus fundamentos e principalmente no que se refere estratégia de jogo, vi um Waltinho em queda vertiginosa, parece que joga sem alegria, os pivôs sem comentário, falta um lateral matador que na hora do sufoco defina o jogo.
Quanto ao sistema de jogo, como dizemos aqui no Rio, mas parece briga na geral do maracanã, jogador batendo cabeça e por ai vai, quando caem no 5 contra 5, parecem como se diz no interior galinha correndo de cobra.
Vi um Lula tranqüilo dentro daquela passividade que assistiamos quando dirigia a seleção, não se vê nele, Lula, uma atitude firme de comandante, mudando estratégia de jogo, o que assisti foi aquele joguinho que vimos decadente na seleção que nos custou a desclassificação no pré olímpico de Las Vegas.
Sinceramente a cada dia que passa começo ter que concordar com o Grego, trazer técnico de fora, pq os que temos aqui em atividade, sinceramente não classificam o basquete brasileiro nem se tivesse todos os craques da NBA, pq falta esquema de jogo, como se vê nas equipes Argentinas quando jogam.
Hoje durante o jogo estavam os dois tecnicos argentinos sentados juntos assistindo o jogo do Universo e conversando, eu duvido que isto acontecesse com dois tecnicos brasileiros, devido a falta de união que falta no basquete brasileiro em todos os niveis.
Prof.Paulo Murilo, considero de suma importância que seja criado cursos de formação e reciclagem para os tecnicos brasileiros, esses pseudos monstros sagrados decadentes do basquete do nosso país, posso estar enganado, certamente vão querer minar , pq se acham os professores de Deus do basquete nacional e nunca vão se submeter a uma reciclagem principalmente, se quem ministrar o curso não for um medalhão, tenha certeza disto.
Hoje existem muitos professores neste Brasil afora, que poderiam estar ministrando cursos dentro do basquete brasileiro, um deles é o senhor, outro o Prof.Pedro Rodrigo que o senhor menciona e um Professor lá de Brasília que tenho escutado muitos elogios o Professor Ronaldo Pacheco, segundo comentários um grande estudioso e um responsáveis pela carreira vitoriosa da Universo no ultimo brasileiro, como comentam nas varias salas do Orkut que discute basquete de forma seria e responsavel, mas infelizmente não deve fazer parte da panela grega, por isto esta fora dos cursos da CBB.
Vcs já notaram que os grandes ministradores de cursos da CBB são aqueles perdedores que dirigem seleções brasileiras nas varias categorias? ai fica dificil.
Mas como diz um amigo em nossos bate papos aqui no Rio aonde vão ministrar curso esta bom os caras a unica bola laranja que conhecem é a da laranja fruta, mas seus presidentes elegem o grego e compartilham que o basquete brasileiro esta bem e vai se classificar para as olimpiadas.
Fica aqui a maior piada que escutei do grego em um site, que o sul americano vai ser disputado com a equipe B, existe esta divisão no basquete do país ou estou ficando louco.
Gustavo Silva
Prezado Gustavo,entendo e compreendo sua frustração e desencanto com a atual situação técnico-tática do nosso basquetebol.Concordo ser a mesma um indício de falência total da modalidade se não forem tomadas providências responsáveis e urgentes, uma delas, e talvez a mais importante,a criação das associações regionais de técnicos, e a posterior associação nacional.Somente esses profissionais poderão e terão competencia para estudar,pesquisar e exeqüibilizar soluções visando a redenção do grande jogo entre nós.A ingerência e comando de incompetentes e aventureiros está arruinando de forma terminal o nosso querido e infeliz basquetebol.Oxalá acordemos desse terrivel pesadêlo.Ainda dá tempo.Um abraço,Paulo Murilo.
Bom professor escrevi este comentário várias vezes...apaguei refiz... e decidi redigir em tópicos e esperar respostas do senhor e dos leitores do seu blog.
1- A mesmice nos técnicos acredito que venha da mesma forma que vemos hoje jogadores profissionais com várias deficiências de fundamentos. Os atletas pecam nos fundamentos porque são obrigados a queimar etapas. Nos, os jovem técnicos, como citou o colega Fábio também queimamos etapas exatamente por esta falta de formação da difícil arte de dirigir um time. Estudar esquemas táticos e implantá los pode ser ate fácil, mas e o relacionamento com os atletas e o timing do técnico e a leitura do jogo para saber que esquema adotar?! muitas vezes trabalhamos isso no ensaio e erro ai fica difícil!!!
2- A maioria do comentários do blog são de pessoas dos grandes centros e estes tem dificuldades...agora pense em nós do interior!!! Sou de Minas de um estado imenso onde tudo fica distante. Temos pouquíssimos recursos e na região estamos com dificuldades para conseguir 4 equipes para uma competição. Aqui em Minas também acontecem os festivais de mini que o Fábio comentou, mas eu consegui levar um atleta, que por sinal é meu filho que me acompanhou na viagem para ver o festival e gentilmente foi encaixado em um time pelos componentes da FMB, que não posso deixar de ressaltar tem me ajudado a trabalhar aqui no interior.
3- o ultimo tópico é com relação ao comentário do Fábio... Rebote PBF e o Basquete Brasil são nossa fontes com maior atualização e discussão do basquete e democratiza o basquete de uma forma que nos permite refletir sobre o grande jogo. Então penso... os debates no blog do professor já fluem ( sinceramente acreditava numa maior adesão dos jovem técnicos, mas já estou muito feliz por esse espaço de estudo ) então faço outra sugestão... que tal criarmos uma rede de informações entre nos, aproveitando que a grande rede e nossa maior fonte de informações, trocando endereço de email contatos blogs e tudo que a rede disponibiliza?!! seria o primeiro passo na espera dos tão aguardados cursos de técnico!!!
Fica aqui registrado meu desabafo minhas sugestões e meus desejos!!!
abraço a todos!!!
Prezado Jalber,também vamos por partes :1- Galgar etapas é um rito obrigatório em qualquer atividade técnica nos países desenvolvidos,pois sedimenta conceitos e conhecimentos necessários às etapas suscedâneas,eliminando a fraude e o apadrinhamento interesseiro e irresponsável,que são fatores esquecidos e até vilipendiados quando simplesmente as queimamos.Tendo a consciência destes valores,mesmo com grandes sacrifícios e perdas para àqueles que não respeitam tais princípios,creio que sempre valerá à pena percorrermos os caminhos do conhecimento e da verdade,galgando,conquistando,e não queimando etapas.
2-Quando fui trabalhar em Brasilia,uma capital com sete anos de vida,tudo era longínquo,difícil e inóspito.Resolvi então buscar a máxima perfeição possivel,treinar as equipes como se fossem competir e decidir com as melhores do Rio e de SP.Treinamos duro,rígida e estóicamente,e fomos para o Rio e SP e vencemos mais do que perdemos.Busque em sua cidade essa vontade e tente exequibilizar seus sonhos,ao preço que for,desde que disposto a pagá-lo.Incentive os técnicos das outras três equipes,trabalhem duro e vençam.
3-Sim,os comentários fluem,e se você se dispuser a ler os artigos antigos verá que sempre fluiram,aos poucos,pacientemente,mas fluiram,educados,em bom português,didáticos e respeitosos,demonstrando a possibilidade de acessarmos na internet textos e opiniões com vistas sempre postas ao progresso e ao desenvolvimento da modalidade.É isso ai caro Jalber,continue usando este espaço, que estará sempre a disposição de quem realmente quer crescer pelo debate,democratico e justo.Um abraço,Paulo Murilo.
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