Basquete Brasil
Discute a atualidade da modalidade no Brasil, e suas implicações a um possível soerguimento técnico.
09 novembro 2005
A GRANDE COVARDIA.
Abro o jornal,e na página de esportes me deparo com uma reportagem sobre basquete feminino, uma fóto da Janeth e sua afirmativa de que estava desempregada, não tendo estabelecido nenhum contrato com as equipes que disputarão o campeonato da CBB. Naquele momento estudava sua participação no campeonato da NLB ora começado,mesmo com a ameaça de não convocação para a seleção brasileira que disputará o Mundial,ou seja,a mais experiente e capitã da seleção está ameaçada de não ser convocada pelos donos do basquete brasileiro se aceitar um contrato de equipe da NLB.Em outras palavras,ou aguarda na ociosidade a convocação,ou,no caso de garantir seu sustento estará fora da seleção.Trata-se de uma atitude da mais pura covardia,não com a Janeth,mas para com o basquete feminino do país,que desde sempre foi relegado ao segundo plano na CBB,mas que nunca perdeu a oportunidade de se promover com as vitórias dessas valorosas jogadoras,e de seus técnicos,principal e basicamente em São Paulo.Nos últimos 30 anos foram os técnicos e as técnicas paulistas que mantiveram o basquete feminino no mais alto patamar que equipes de basquetebol alcançaram no Brasil e nas competições internacionais,mesmo com as agressões mais descabidas que sofreram no momento de verem seus esforços reconhecidos,principalmente nas duas conquistas mais representativas,o Mundial e a Olimpiada,onde foram campeãs e vice-campeãs respectivamente.E ai cabe uma pequena,porém elucidativa e terrivel historinha de horror administrativo,da qual fui testemunha,e que me revoltou a ponto de nunca mais voltar a pisar na sede da CBB.Estava voltando de Portugal onde havia concluido meu Doutorado em Ciências do Desporto,com uma tese sobre arremessos de basquetebol,e fui até a sede da CBB ofertar uma cópia da mesma para ser divulgada a todos os interessados em pesquisa dos esportes,ainda mais que o presidente na ocasião era um Professor Titular da UFRJ,que havia sido meu professor e com o qual trabalhei no Departamento de Metodologia da Ed.Fisica da EEFD/UFRJ,o Prof.Renato Brito Cunha.Em seu gabinete,aguardei por sua atenção,pois ao telefone travava uma áspera discussão com a diretoria de uma equipe de São José dos Campos sobre o Campeonato Nacional,e sobre as eleições que se aproximavam.Ao desligar,muito nervoso e bastante colérico disse a mim que daria uma lição naquela turma que não o apoiava,e pediu ao superintendente que fizesse entrar aquele que dirigiria a equipe brasileira no Mundial da Austrália.Imediatamente,fiz ver ao presidente o tremendo erro e grande injustiça se aquela atitude fosse tomada,principalmente com os técnicos que trabalharam por 20 anos até alcançarem o estágio técnico que aquelas jogadoras atingiram,e que o técnico que ele estaria indicando em nenhum momento participou diretamente daquele esforço nas divisões superiores.Minha veemência em nada alterou o sentido punitivo do presidente,e a história daquela formidável equipe,fruto de um trabalho hercúleo de um punhado de técnicos culminou em dois dos mais importantes títulos de nosso basquete,e que cairam nos braços de quem era ainda jogador infantil quando todo aquela epopéia começou 20 anos antes.Quando de meu sexagésimo aniversário,reuni em minha casa algumas das jogadoras que dirigi no tri-campeonato brasileiro feminino de 1966,e a elas se juntaram as grandes Maria Helena e Heleninha.No meio da comemoração dirigí-me às duas e pedi que me relatassem quais foram as reações das principais jogadoras da seleção ante àquela escolha para o Mundial.Disseram-me que algumas lhes telefonaram afirmando que não aceitariam a convocação se fosse mantida a escolha do técnico.As duas grandes mestras reagiram contra tais posições com o argumento maior de que não poderiam deixar passar a grande chance de suas vidas,e que custaram tanto tempo e tantos sacrifícios,mesmo ante tão gritante injustiça.A equipe estava pronta e madura para os embates que se sucederiam,e não seria uma atitude de vendeta que tiraria da mesma suas reais chances de vitória.E foi o que se sucedeu,e o técnico e a CBB não tiveram maiores problemas comportamentais,graças à interferência maior,mesmo magoada,das representantes do grupo de técnicos que colocaram aquelas atletas no estágio de excelência em que se encontravam.Com esse relato,na presença de outras jogadoras veteranas, do grande Guilherme Franco e do Raimundo Nonato,também presente no aniversário e que foi o Chefe da delegação naquele campeonato,tive a sensação de que ao me indignar naquele gabinete o fiz com carradas de razão, onde o fato de não negar competência profissional ao técnico escolhido, não afastaria de mim o amargo sabor da brutal injustiça cometida contra os verdadeiros responsáveis pelo alto padrão técnico daquela geração.Logo,podemos concluir que o que ocorre hoje com a grande Janeth vem se tornando um lugar comum na história desse surpreendente basquete feminino brasileiro,que não se sabe como,sempre encontra soluções positivas,mesmo quando só é lembrado na hora de levantar as taças e os troféus,nem sempre por quem de direito, pelo mérito,pela justiça.A grande ironia de tudo isso,é que os maiores beneficiários dessas conquistas viraram as costas para o basquete feminino,e canalizaram suas glórias para o masculino, onde não conseguem, nem de longe repetir o que aquelas jogadoras alcançaram,não só para si mesmas, mas para todos nós, justos ou injustos. São as mulheres do Brasil, brilhantes e competentes. A elas minhas homenagens.
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