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Prof.Paulo Murilo 

23 abril 2008

SUSPENSO NO AR...

Nos anos setenta, como técnico da primeira divisão do Olaria, fomos jogar contra a equipe do Botafogo no Maracanãnzinho pelo Campeonato Carioca. Durante o aquecimento, o Washington, nosso melhor arremessador de longa distância, que na época não contavam três pontos, se dirigiu a mim e confidenciou: “Paulo, é como arremessar em um aro suspenso no nada”. Seu arremesso preferido era das laterais da quadra, onde os referenciais em torno do aro são importantes, senão decisivos, para um perfeito enquadramento e dosagem de força e trajetória, principalmente quando executados numa fração de segundos. Fui lá aferir e constatei serem corretas as observações do jogador, ficando em minha retina a imagem daquele solitário aro flutuando no nada. Esse aspecto pode explicar as melhores performances dos grandes arremessadores quando frontais a cesta, pois a tabela , mesmo sendo transparente, conota um razoável referencial inserido dentro daquela vastidão, onde as bancadas se situam a no mínimo 30 metros de distância.

Outro fator determinante para arremessos naquela situação de quadra é a trajetória elevada, necessária às pequenas compensações direcionais em profundidade relativas ao aro, mais accessíveis, tendo a tabela como referencial, além de facilitar muito os rebotes ofensivos em arremessos falhos, pela alta projeção dos mesmos após o toque no aro, dando tempo para melhores posicionamentos.

Essas colocações explicam com boa margem de acerto a excelente performance do jogador Marcelo do Flamengo, cujas características de arremessos com elevada trajetória, e tentados majoritariamente de frente para a cesta, contrastaram com as seguidas falhas do jogador Martinez da equipe argentina, com seus arremessos rasantes e oblíquos à tabela, única referencia tangencial à quadra.

Mas não somente isto, outro fator importante na vitoria rubro-negra foi a determinação defensiva, principalmente fora do perímetro, obstando penetrações dos armadores e arremessos livres de três pontos, como também o cadenciamento dos ataques visando o jogo interior, onde seus pivôs se movimentavam com bastante presteza, originando espaços por onde as penetrações de fora para dentro do perímetro se tornaram constantes, além de propiciarem espaços preciosos para os arremessos equilibrados de três pontos, principalmente os do Marcelo.

Contrastando com algumas opiniões que defendiam a realização destes jogos decisivos no ginásio do Tijuca, onde a presença próxima da torcida exerceria uma pressão psicológica maior no adversário, creio ter sido a escolha do Maracanãnzinho muito mais determinante tecnicamente, mesmo sabedor de que a finalidade da escolha teve como motivação prioritária a maior presença de público, sem levar em consideração se o aro ficava, ou não, “suspenso no nada”.

No jogo de logo mais, decisivo para o Flamengo, a contusão na mão do armador Fred, mais do que nunca destacará a responsabilidade do Helio, que deve ser protegido ao máximo das faltas pessoais, pois como único armador remanescente, armador de verdade, colocará a equipe brasileira perante o real perigo de se ver pressionada se ao Marcelo e/ou ao Duda couber o papel de armador(es)da equipe, talvez a única chance dos argentinos de equilibrarem o jogo ante a realidade inquestionável da debilidade técnica daqueles dois jogadores nos fundamentos de drible e de fintas , a não ser que os argentinos, ainda desambientados com as particularidades exigidas para os arremessos em alvos dissociados de referencias a que não estão acostumados, errem, como erraram bastante no jogo de ontem, propiciando aos pivôs brasileiros o domínio dos rebotes defensivos, desencadeadores dos contra-ataques decisivos, nos quais os dois irmãos são eméritos complementadores.

No mais, devemos torcer para que a equipe do Flamengo consiga essas tão bem vindas vitórias, que sem dúvida nenhuma injetariam uma grande dose de otimismo e esperança ao nosso combalido e desprestigiado basquetebol.

Amém.

2 Comments:

At 10:59 AM, Anonymous Anônimo said...

Professor Paulo Murilo, eu estou me surpreendendo, com o belo basquete que o Flamengo vem produzindo, tanto dentro do certame nacional, quanto no internacional... E sinceramente, se o Flamengo não entrar na pilha da torcida local e na do Corrientes, tenho a plena certeza que é mais time e tem jogadores mais gabaritados que o time argentino, para vencer lá, também!!!!

Eu acho o Hélio, um dos melhores armadores em termos táticos que o nosso combalido basquetebol nacional tem!!! Ele tem feito ótimas escolhas, sabe pontuar e o melhor defende super bem. Tenho certeza que ele seria uma peça importante para a nossa amarelinha, vc não acha????? E o Duda, o que dizer????? Eu acho ele uma falso-armador, muito melhor que seu irmão mais famoso. Se bem trabalhado e bem talhado na seleção, seria uma ótima peça de descanso para Leandrinho e Alex!!!! E convenhamos, apesar de não ter a mentalidade de um armador, ele tem o espírito de armador, é um ótimo defensor, rápido e sabe trabalhar coletivamente... Para mim, seriam dois jogadores pré-convovados certadamente pelo Espanhol, vc não acha?????

E o que vc acha do Coloneze, apesar de ser meio lentão, é forte e me parece meio-cru, mas tem potencial para ser um pivô dominante no certame nacional e quisá no sul-americano!!!!

Um forte abraço Professor!!!

 
At 2:25 PM, Blogger Basquete Brasil said...

Prezado Clóvis,devagar com o andor.Sem dúvida alguma a equipe do Flamengo vem produzindo um razoável basquetebol,principalmente pelo dominio dos rebotes ofensivos,que tem garantido duas ou mais oportunidades num mesmo ataque falho,ponto nevrálgico da boa e disciplinada equipe argentina.O Hélio é um excelente armador,que sobe imensamente de produção quando faz dupla com o Fred,agilizando e incrementando opções aos demais companheiros,Marcelo e Duda em particular,além de sua contribuição anotadora.O Duda,pode ser mais uma das vitimas das indecisões posicionais que assaltam bons e promissores jogadores em nosso país.Armadores e alas diferem em pontos decisivos quanto à suas atuações em quadra,basicamente no aspecto técnico-tático de suas funções dentro da equipe.A prioridade entre armação e finalização conota tais diferenças entre as duas funções,diferenciando armadores de alas.Como situar o Duda como armador se sua prioridade é a finalização,onde,diga-se de passagem,é muito efetivo? Eis o problema a ser administrado e resolvido pelo técnico do Flamengo.É a mesma situação do irmão Marcelo,que até hoje nenhum de seus técnicos resolveu.Junte a situação do Coloneze,e verá que a resolução de produtividade dos mesmos passa irremediavelmente pelo treino exaustivo dos fundamentos.Mas como se estabeleceu em nosso país que jogadores adultos prescindem de treinamento básico de fundamentos,e os técnicos dessa categoria priorizam os sistemas de jogo,aí estão os resultados,cuja mediocridade é regra comum.Seleção brasileira? Se fosse levada a serio pela CBB,começariam as mudanças nas categorias de base,o que não é prioridade para ela,continuidade sim.Um abraço,Paulo Murilo.

 

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