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Prof.Paulo Murilo 

09 agosto 2008

O SOM DO SILÊNCIO...

Entrevistado logo após a derrota para a Coréia, o técnico da seleção brasileira foi sutil ao declarar que ofensivamente a equipe foi inoperante e cometeu um elevado número de erros, mas que defensivamente atingiu o índice de pontos concedidos à adversária, abaixo de 60 , no tempo normal de jogo, e que mesmo neste quesito falhara na prorrogação. Trocando em miúdos, sua estratégia defensiva foi exitosa ( para ele a prorrogação não conta), mas a equipe falhou ofensivamente, pela lentidão e imprecisão, faltando somente afirmar, mas deixando implícito, que a derrota deveu-se àqueles fatores dentro da quadra, e não no planejamento estratégico fora dela.

Creio que haja um grande engano no âmago dessa historia mal contada, por ele. Senão vejamos : O porque de nossa lentidão e acumulo de erros ofensivos? As armadoras, nitidamente fora de forma física, principalmente a Adriana, perdendo em velocidade em quase todos os embates com as velozes armadoras coreanas, não ofereceram um contra-ponto às ações das mesmas, num jogo previamente anunciado e conhecido que teria estas características, pela própria forma de jogar de uma adversária que privilegia a velocidade, como compensação à baixa média de estatura de suas componentes.

Além do mais, os problemas com o excesso de peso de nossas pivôs, num processo cumulativo de erros, concedeu às coreanas todo um handicap, talvez o único, compensatório à sua proverbial deficiência em estatura, na troca unilateral pela velocidade, ausente em nossa seleção pela incapacitação física de nossas armadoras e pivôs.

Ao dispensar a armadora Natalia, velocíssima e atrevida armadora, uma das responsáveis pelo ritmo vertiginoso da seleção no Pré-Olímpico, e que teria caído como luva no formato ofensivo do jogo de hoje, por uma jogadora que pediu para não participar daquela fundamental competição, e que se apresentou para atuar em uma Olimpíada sem disputar sua classificação, e ainda, fora de forma física e técnica, cometeu o técnico um erro não aceito por um outro colega seu de profissão, da equipe feminina de vôlei, que manteve a estrutura da equipe, não permitindo sua quebra, pela pretensão de uma jogadora aposentada, de altíssima qualidade, em disputar mais uma medalha para seu acervo. O espírito de equipe foi mantido, e se apresenta com fortíssimas chances de sucesso na magna competição.

Outro erro foi o de pretender contar com uma jogadora seriamente lesionada, e que também seria incluída no lugar de uma das integrantes do grupo que alcançou com méritos a classificação olímpica, numa clara demonstração de falta de confiança na mesma, desconvocada e reconvocada na medida em que a sua escolhida não superou a lesão ao retornar à sua equipe americana antes de totalmente recuperada. Com uma equipe fracionada pela indecisão de comando, e com sua unidade comprometida, pouco poderia apresentar de espírito uno de equipe, dadas as circunstâncias que antecederam sua convocação e preparação.

Mencionou também, que mudou seu modo de armar a equipe, passando a fazê-lo com duas armadoras, exatamente para que o numero de erros diminuísse, para que as pivôs fossem alimentadas com mais precisão, e que as assistências se tornassem efetivas e produtivas. Esqueceu porém, um pequeno pormenor, a capacitação física destas armadoras, onde a Claudia ao manter sua característica cadenciada, e a Adriana sua impetuosidade decisória, tiveram essas potencialidades travadas por defensoras infinitamente mais rápidas do que elas, e tecnicamente mais bem condicionadas, e que somente uma armadora congênere poderia equilibrar tal situação. Daí, eu ter mencionado e defendido a permanência da Natalia, como fator altamente positivo para o ritmo veloz da equipe, tanto ofensivo, como defensivo, e mais ainda, nos contra-ataques. E o principal, sem quebrar o espírito de uma equipe que soube se superar acima do esperado no Pré-Olímpico.

Com a classificação seriamente ameaçada, já que se defrontará contra equipes bem superiores à equipe coreana, que o nosso técnico aprenda de uma vez por todas, que após uma derrota contundente como a de hoje, a melhor solução é a de se manter calado, substituindo o discurso “do eu ganho, e elas perdem”, por um momento de introspecção, onde, de si para consigo mesmo, se argua ética e tecnicamente, se foram suas atitudes de liderança suficientemente lúcidas e práticas para a fundamentação da equipe como um todo, ou se foi vitima de seus conceitos baseados em nomes e pseudas donas de posições, e que nem sua atitude exemplar no caso Iziane, o fez coerente na manutenção da equipe arduamente classificada. Princípios insipientes de arrogância têm minado muitas carreiras, em muitas profissões, mas não tão decisivamente quanto a de um comandante, seja militar ou desportivo, pelo seu poder convocatório e decisório, que ao ser, por definição, solitário, exclue demonstrações diretas e marqueteiras na direção das lentes de uma câmera de TV.

Aprenda com o meu velho pai, que me aconselhou um dia- “Quando algo fugir ao seu comando, ao seu controle, fique em silencio e aprenda a ouvi-lo, pois ele soa somente aos seus ouvidos, à sua mente, ao seu coração. Depois fale, se preciso for , e descobrirá que quase nunca precisará fazê-lo,pois as respostas já estariam dadas”.

Torço para que a equipe readquira o espírito do Pré, e reencontre a alegria de jogar, mesmo que a velocidade não seja aquela, perdida algures em São Paulo.

Amém.

2 Comments:

At 4:54 PM, Anonymous Anônimo said...

Prof. Paulo Murilo,

Concordo quando diz que a Natália deveria estar na equipe olímpica, mas acho que erros de convocação, escalação e esquema de jogo talvez possam ser justificativa para a derrota contra a Coréia mas não contra todas as próximas adversárias (como provavelmente ocorrerá).

O Brasil não possui atualmente, na minha opinião, jogadoras de basquete de bom nível e com poder de decisão para enfrentar adversários de alto padrão (o que não é o caso da Coréia). O basquete feminino consegue ser tão ou mais mal conduzido do que o masculino, não gerando jogadoras e técnicos em quantidade e com qualidade para sobressairmos no cenário mundial.

Talvez por não confiar na qualidade das jogadoras o Paulo Bassul optou por aceitar a Adrianinha fora de forma e após pedir dispensa do Pré (o que eu acho totalmente errado) e esperar pela Érika (o que acho correto pois ela só não foi ao Pré por estar contundida e se recuperou a tempo, contundindo-se posteriormente). É uma posição questionável, mas não totalmente absurda.

Quanto ao Paulo Bassul como técnico, acho que ele é superestimado pela mídia. Ele é bem articulado, fala bem, é simpático, demonstra entender de basquete mas não consigo ver seus times bem armados. Na final do paulista feminino de basquete 2008, por exemplo, achei seu time jogando pior como equipe do que o adversário (apesar de terem sido campeães).

Também parece ser excessivamente auto-confiante e um pouco arrogante (embora procure não demonstrá-lo). Como ainda é jovem, acredito que pode evoluir e, aí sim, vir a ser um excelente técnico.

Ainda sobre jogadores (e jogadoras) de basquete, o globoesporte.com publica hoje notícia (citando a revista Forbes: http://www.forbes.com/2008/07/01/olympics-china-beijing-biz-sports-cx_tvr_0701richolympians.html) sobre os 10 maiores salários (ou ganhos) dos atletas presentes em Pequim. Sete são jogadores de basquete (as exceções são Federer, Ronaldinho Gaúcho e Maria Sharapova) o que demonstra a importância mundial do esporte. Caso não tenhamos uma mudança de rumo radical e urgente no Brasil, cada vez mais ficaremos distantes do alto nível do basquete atual.

Abços.

 
At 8:10 PM, Blogger Basquete Brasil said...

Prezado jdinis,o corte da Natalia vai um pouco mais além, pois se você tem acompanhado a evolução dela, deve ter notado que ali se encontra uma lider em estado latente, com forte personalidade e muito inteligente, como foi inteligente sua declaração de aceitar o corte e substitução como parte de sua evolução, não se deixando levar por ressentimentos ou revoltas.É uma atitude madura e antitese da posição da Iziane.Sabedor disso, o tecnico manteve a disposição de não sacrificar alguma jogadora mais alta para levá-la.A ironia é que pouco se utilizou das altas reservas,e deve estar se lamentando até hoje de não a ter levado para agilizar a equipe,travada pela lentidão de suas escolhidas.Fixação em altitude dá nisso.Veja os americanos apostando em alas de técnica superior,a pesados e lentos pivôs. Basquete de alto nivel não é para quem gosta. É para quem entende o jogo e as pessoas. Um abraço,Paulo Murilo.

 

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