FREE hit counter and Internet traffic statistics from freestats.com


Prof.Paulo Murilo 

30 agosto 2008

QUE...

Que os cursos superiores de Educação Física, e suas licenciaturas, retornem aos Centros de Ciências Humanas das Universidades Brasileiras, de volta à formação humanística perdida quando de suas transferências para os Centros da Saúde, com suas estruturas pragmáticas e dissociadas da escola. Bacharelatos e CREFS se originaram dessa trágica mudança, que hoje sustenta e embasa a indústria do culto ao corpo, afastando as licenciaturas de suas reais funções e deveres junto ao projeto educacional do país.

Que cesse de imediato a ingerência dos CREFS na área das licenciaturas, já que sua massa crítica é composta pelos leigos autorizados após cursos pagos de suficiência de poucos meses promovidos pelos mesmos pelo país afora, qualitativamente fracos e incipientes, mas que os qualificaram ao magistério, numa demonstração de poder paralelo às universidades e aos seus cursos de formação plena de professores.

Que se pense e debata seriamente a extinção destes conselhos anacrônicos e acéfalos, pelo menos no que se refere à sua ingerência na área das licenciaturas , já que transformaram dialeticamente professores em profissionais de educação física, quando nas demais especialidades do magistério inexistem tais divisões. Não existem conselhos estaduais e federais de professores de matemática, português, física, geografia, etc, etc., na área escolar e universitária, pois todos são única e exclusivamente professores, licenciados, e que deveriam estar i ncluidos no processo educacional no mesmo patamar dos demais, e não sob tutela de um segmento pseudamente controlador e fora da realidade escolar. Então por que motivos minimamente aceitáveis marginalizar a educação física dessa realidade?

Que após estes ajustes fundamentais, se faça necessário o amplo debate sobre a verdadeira função da educação física e dos desportos no processo educacional, dando partida à formulação de políticas específicas com as devidas alocações de verbas visando equipamentos mínimos nas escolas, assim como complementação pecuniária para que os professores pudessem estender seus horários no atendimento comunitário, assim como no aprimoramento técnico e pessoal.

Que antecedendo as ações visionárias, megalomaníacas e comprometidas com os mais mesquinhos interesses de poderosos conglomerados industriais e corporativistas, de um grupo que se propôs a inverter a ordem natural de que uma Olimpíada representa a prioridade de que necessita a nação para o seu desenvolvimento, em vez de trilhar o caminho mais do que comprovado das nações mais desenvolvidas , que ao investirem maciçamente na educação, hoje colhem com juros seus corajosas investimentos, tentam impor um modelo que somente beneficiará uma elite voltada exclusivamente a seus interesses econômicos, que investíssemos numa política abrangente de educação, onde professores pertencessem a um único segmento, sem divisões e controles que não aqueles previstos pela integridade da realidade escolar.

E com a base organizada, atualizada, compromissada com o futuro, bem paga e participante de uma verdadeira política educacional, ai sim, poderemos um dia pensar em organizar uma Olimpíada, que terá a lastreá-la um pais educado, sem analfabetos, um povo saudável e seguro de seu futuro, e não massacrado pela pobreza conjuntural e crônica em que nos encontramos, exatamente pela ausência de uma política educacional, a mesma política que nos é permanentemente negada por todos aqueles que se beneficiam por tão aviltante pobreza, os mesmos que hoje hasteiam a bandeira das Olimpíadas entre nós.

Mas até lá, de encontro a esse ansiado destino, que é o mínimo que possamos desejar para nossos jovens, nossos filhos, nossos cidadãos, nosso futuro de sonho, nosso futuro até agora injustiçado pela insânia de uns poucos poderosos e insensíveis, teima em se manter no anonimato das nações, na dependência de um futuro incerto, pois postergado por todos aqueles que não o querem, por já possuírem o presente de suas riquezas e exclusivas benfeitorias.

A Educação Física, que deveria ser parte integrante desse processo educacional, como um de seus mais importantes segmentos, precisa voltar a ser currículo vinculado à proposta de uma educação de qualidade que é um direito constitucional. Precisa voltar a ser ministrada por professores com formação humanística plena, e não profissionais pragmáticos de ed. física, monitorados e dependentes de conselhos que endossam suas atuais formações acadêmicas que mesmo com precárias licenciaturas, não são bacharéis ou autorizados.

Que estudadas, debatidas e estabelecidas tão fundamentais medidas, possamos ter implantadas em nosso país políticas sensatas, evolutivas e de acordo com as nossas reais necessidades, pautadas por soluções viáveis, consubstanciadas por professores bem formados e libertos de conselhos restritores e coercitivos.

E que daí por diante, com nossos jovens bem educados e participantes ativos de todas as manifestações culturais adquiridas e desenvolvidas na escola, na boa e democrática escola, alcancemos a massa crítica na iniciação desportiva, base dos princípios de saúde de um povo, e célula formadora de talentos, tão necessários ao progresso desportivo em todas as suas modalidades.

E ai sim, estaríamos prontos para uma Olimpíada entre nós, que a esta altura do progresso pátrio, talvez não representasse algo de tanta importância, já que afastadas as verdadeiras intenções daqueles que a projetam para agora, a de manterem o povo mergulhado na ignorância e conseqüente subserviência, ingredientes preciosos para suas conquistas de poder e de verbas federais.

Temos um longo caminho pela frente, e como em todos os países que o iniciaram após destruições e derrotas, caberão aos professores o descortino dos caminhos a serem tomados , no sagrado âmbito das escolas, livre de conselhos que firam sua independência critica e criativa, que em linhas gerais definem a essência do magistério.

Precisamos voltar a ser Professores de Educação Fisica, com formação humanística, e não profissionais de educação física, pragmaticamente transformados em paramédicos de terceira categoria. Que assim seja.

Amém.

25 agosto 2008

ECOS DE PEQUIM...

Gostaria de convidar a imprensa jovem, em jornais, na internet, e na TV, a prestar com bastante atenção certas características editoriais destes mesmos meios , porém na imprensa estrangeira. Difícil e quase impossivelmente verão realçadas conquistas esportivas que não sejam a de seus atletas, ganhando ou perdendo, ao contrário da nossa, que enaltece e glorifica, até bem mais do que nossos adversários, feitos e conquistas dos mesmos, numa posição colonizada e subserviente, disfarçada de “conceito globalizado”.

O NYT, com sua poderosa redação esportiva, publica uma matéria sobre a vitoria do nosso voleibol feminino estampando uma única foto de suas derrotadas jogadoras, e um texto que pouco ou nada fala de nossas jogadoras.E se percorrermos as matérias das demais modalidades, o mesmo tratamento é dispensado aos adversários, vitoriosos ou derrotados, ou seja, o mínimo de publicidade possível. E o mais incrível, subvertem a contagem das medalhas olímpicas, que, por iniciativa deles próprios, eram quantificadas e pontuadas por seus valores em ouro, prata e bronze, para uma simples somatória das mesmas, critério que os mantém na liderança olímpica. E todos os jornais americanos seguem estas regras, quando o reconhecimento de vitorias só recebem espaço em suas páginas se forem deles próprios. Mas, não podemos ser injustos quanto à publicidade que nos destinam, quando retratam nossas mazelas, nossos crimes e nossa inferioridade cultural.

Aqui, abaixo do equador, odes e admiração explícita aos deuses americanos são publicadas aos magotes por nossos jovens jornalistas, numa adoração que chega às raias do mais profundo ridículo e comprometedora dependência colonial, tornando-os cegos e imunes a certas verdades omitidas aos seus parcos conhecimentos sobre intenções e ações bem planejadas para mantê-los exatamente como estão. Por isso, devem ter em mente que a imprensa sempre deteve o poder de influenciar nos comportamentos e na opinião pública, construindo ou desconstruindo ações de interesse da sociedade, numa trajetória que tanto pode projetar a glória, como a derrota de um povo, inclusive no campo desportivo.

Quando no artigo anterior publiquei a reformulação da equipe americana, que nos últimos três anos se submeteu a uma engenharia reversa, levando-a de encontro ao basquetebol que não praticavam, e que para tanto, se curvou à uma liderança universitária, num trabalho preciso e minucioso, onde foram quebrados e enterrados certos dogmas do basquete profissional, este mesmo adorado e incensado pela claque tupiniquim, como os pivôs colossais, com suas perigosas e secretas dietas de engorda, seus quatro armadores de alta qualidade em vez dos dois tradicionas nas formações das equipes da NBA, e seus alas-pivôs extremamente rápidos, ágeis e pontuadores, assim como reboteadores poderosos.

Houve um momento em que o nosso Pacheco, juiz internacional, os orientou nas regras da FIBA, principalmente nos embates físicos. E nessa Olimpíada, já não vimos o desfilar de desqualificados com as cinco faltas pessoais dos campeonatos anteriores, mas mesmo assim, ainda mantiveram a agressividade incutida no dia a dia de suas participações profissionais, principalmente no jogo final contra os espanhóis, que não se sabe bem por que critérios (O David Stern estava no local..), foram estes violentos contatos físicos liberados à margem das limitações impostas pelas regras da FIBA, beneficiando nitidamente o estilo defensivo dos americanos.

Ofensivamente, para enfrentarem as defesas zonais das equipes européias, exceto a espanhola que empregou sistematicamente a defesa linha da bola com marcação frontal dos pivôs, e que para a maioria de nossos analistas se caracterizava como defesa por zona (Revejam os tapes e constatem que os espanhóis esperavam os americanos na formação 2-3, logo desfeita para individual com flutuação lateralizada), foram obrigandos aos arremessos longos, no que foram razoavelmente felizes aliás. As penetrações foram bastante atenuadas, e quando concretizadas a força física se fazia presente pelos altos dotes atléticos dos mesmos.

No jogo de meia quadra, a similitude tática era evidente, com a movimentação permanente de todos os jogadores, muito diferente das ações setorizadas a que estavam acostumados no basquete NBA, em mais um ponto a favor do coach K.

E foram necessários três anos de trabalho para forjarem tal equipe, e principalmente, e ai está o pulo do gato, a constituírem com jogadores que se adequassem ao novo estilo, ao modo europeu e argentino de jogar, às regras internacionais. Muitas opiniões, recados, escalações e pitacos foram dados por aqui sobre o quem é quem da equipe americana, nas escalações e na ausência de seus preferidos, quando na realidade coach K. corria em busca de uma equipe que se mimetizasse em basquete FIBA, técnica, tática e em comportamentos. Somente pecou num porém, perfeitamente explicado pelas peculiaridades de seu país, principalmente quando o assunto é basquetebol, a questão racial. Creio que agora, depois do fantástico embate final olímpico, caia por terra esse tipo de discriminação ao jogador branco, pois ambos, negros e brancos provaram com sobras que jogar bem o grande jogo independe de raça, depende de técnica e talento.

A grande final em Pequim, capital de um país de mais de 1 bilhão de habitantes, de economia em expansão e grandes possibilidades de negócios, é visto como um mercado altamente promissor para o basquete NBA, mas este, frente à realidade incontestável da FIBA, fatalmente terá de se adequar às suas regras, ou uma adaptação que atenda as duas entidades, e pelo que vimos e constatamos com o projeto olímpico americano ora terminado com sucesso, e com a “liberalização consentida” dos contatos físicos somente embaixo das tabelas( muitas faltas foram marcadas nas cargas contra os armadores) testemunhados por todo o mundo que assistiu a final, creio ter sido dada a partida para uma unificação das regras, com dois sinais práticos já anunciados e referendados pela FIBA, o aumento na distância da linha dos três pontos em 50cm., e a formato retangular do garrafão nas medidas do basquete universitário americano.

Tenho a mais absoluta certeza de que dois fatores concorreram para a vitoria da grande equipe americana na final olímpica. Primeiro, a sua longa reformulação aos padrões do basquete europeu e argentino, e segundo, ao ensaio liberatório dos embates físicos embaixo das cestas que nitidamente os beneficiaram. E então fica a pergunta- Se estes dois pontos inexistissem, essa equipe, como as que a antecederam nos últimos quatro anos teria vencido a competição? Talvez sim, mas não com a facilidade encontrada até a espetacular final.

Agora mesmo muitos dos analistas se regozijam pela promessa de na próxima Olimpíada serem 16 os concorrentes, abrindo novas perspectivas a seleções como a nossa, quando deveriam concentrar seus esforços na busca do soerguimento do basquete entre nós. Se o coach K. pode com seu trabalho mudar uma estrutura comportamental e técnica de jogadores profissionais, porque nós não podemos ir um pouco mais além na procura de uma reformulação, não só técnica, mas, prioritariamente administrativa do nosso basquetebol? Que tal uma busca minuciosa pelos meandros das federações estaduais, questinando-as, criticando-as, cobrando-as, para que no próximo ano, nas eleições da CBB tenhamos a básica oportunidade de vermos em sua liderança pessoas comprometidas com o basquetebol, e não com suas finanças pessoais? Que tal questionarmos como foram empregues os mais de 30 milhões de reais de dinheiro público canalizados para lá por um COB que movimentou nos últimos anos mais de 600 milhões?

Fiquei feliz em ter assistido a grande final de Pequim, mas também entristecido pela ausência proposital e criminosa do nosso basquete no cenário mundial, mesmo reconhecendo que antes de para lá voltarmos, um longo e necessário caminho terá de ser traçado e percorrido, para que nossos jovens, nas escolas e nos clubes, tenham a oportunidade de terem como espelho valores brasileiros, e não ícones que sequer sabem que existimos.

Amém.

22 agosto 2008

LIÇÃO BEM APRENDIDA...

E a lição foi muito bem aprendida, numa prova de grande humildade partindo dos mais conceituados praticantes do grande jogo, os americanos. Depois de seguidos fracassos nas maiores competições internacionais, mesmo que representados por grandes jogadores da NBA, resolveram se submeter aos ditames técnico-táticos do basquete internacional, com suas peculiaridades táticas e algumas regras conflitantes às empregadas e seguidas pela sua liga profissional, numa planejada reconstrução de hábitos e ações sedimentadas por anos de prática e árduas competições.

E para exequibilizar tal projeto, se organizaram em torno de uma comissão técnica composta de técnicos universitários e profissionais, liderados pelo mítico Coach K., da Duke University. Coube a ele traçar as diretrizes para a grande mudança, toda ela fundamentada em suas declarações iniciais, de que deveriam aprender a jogar como os europeus e argentinos, abrirem mão da arrogância de que eram os donos do verdadeiro basquetebol, e de que nada mais importante existisse que não suas competições nacionais.

Ao dividir sua preparação em módulos de encontro ao longo da extensa duração da liga profissional, coach K. mostrou ao mundo que realmente falava à sério quanto à disposição de retomar a supremacia olímpica, e para tal modificaria a maneira de jogar da equipe, tornando-a competitiva ante às grandes forças mundiais. Lastreado pelo absoluto domínio dos fundamentos por parte de todos os selecionados, e contando com o engajamento e compromisso dos mesmos, tratou de adequar princípios e conceitos técnico-t áticos praticados pelas fortes equipes européias e a argentina, ao modo peculiar de jogar de seus comandados, principalmente quanto ao enfrentamento de defesas zonais, e ao cadenciamento no rítmo de jogo.

Optou, após longa observação do comportamento europeu nos rebotes e defesa no garrafão, por jogadores altos e ágeis, e principalmente velozes. A figura imponente, intimidadora e massificada dos grandes pivôs, foi substituída por alas-pivôs de grande mobilidade, assim como estabeleceu como regra de ouro a utilização de dois armadores puros sempre em jogo, e até três deles em determinadas situações. Com essa disposição, garantiu um fluxo permanente de anteposição defensiva, e a velocidade nas ações ofensivas, que é a característica de seu basquete que não admitiu prescindir.

Um único porém ficou adiado por mais alguns anos, a plena capacidade de enfrentamento de defesas por zona, já que as mesmas relevam em muito as características de velocidade ofensiva.

Mas um valor se manteve inalterado, e até expandido e valorizado, sua imensa capacidade no domínio dos fundamentos do jogo, sem o qual toda a tentativa que se fez presente na preparação da equipe, teria sido em vão. E essa tem sido a grande força até aqui apresentada pela equipe americana, qualificando seu adaptado modo de jogar, pela utilização das bases estruturais de seu grande basquetebol, bases estas sedimentadas no trabalho de base, nas escolas, colégios e universidades, a sua grande fonte de poder, o domínio absoluto dos fundamentos.

Equipes como a Espanha, Lituânia, Grécia, Argentina, Croácia, e algumas mais, tem apresentado um excelente basquete coletivo, de dupla armação, poder reboteiro, já que ágil e veloz, defesas agressivas, tanto nas individuais linha da bola, como nas zonais, e com cadenciamento e escolha de arremessos precisos e equilibrados. Mas perdem ainda no domínio dos fundamentos especiais, aqueles que diferenciam os grandes jogadores.

Acredito que vençam a competição, e se não conseguirem, pelo menos já nos deram uma lição de adaptabilidade e renuncia a certos princípios de pretensa e arrogante superioridade, ao descerem de seu púlpito, adotando um estilo de jogo que não o seu tradicional, mas que os tornaram aptos à vitoria final, e à retomada da hegemonia dura e dolorosamente perdida. E foi no âmbito escolar que foram se socorrer para atingirem seu objetivo vencedor, e não no seu nicho rotulado de Basketball Worldchampionship.

E do outro lado do mundo, mais propriamente aqui, ainda nos debatemos em sonhos estratosféricos e pretensiosos para organizarmos uma Olimpíada, invertendo a prioridade educacional, subvertendo o principio básico de toda nação desenvolvida que possa ser avaliada como tal, numa ação irresponsável e criminosa, bem de acordo com as lideranças que assaltaram os poderes nesse país, inclusive os desportivos, para os quais um povo educado e culto mataria a galinha dos ovos de ouro que os sustentam, barrando suas ações corruptas e marginais.

Coach K. merece os parabéns pelo seu trabalho consciencioso e de grande honestidade técnica, bem de acordo com os princípios e tradições que regem o conhecimento científico de seu país, cuja fundamentação se baseia na escola, da qual é oriundo. E isso diz e explica tudo.

Pobre de nós e de nossos jovens afastados dessa cristalina realidade.

Amém.

21 agosto 2008

EDUCAÇÃO, MEDALHAS E...FUNK

E as Olimpíadas vão chegando ao fim, com a fantástica delegação brasileira de mais de 250 atletas e outros tantos dirigentes, convidados e apaniguados, garimpando 1 medalha de ouro, 2 de prata e algumas poucas de bronze, deixando para trás as grandes perspectivas de quebra de recorde em competições anteriores. Mas o recado dado pela direção do desporto brasileiro, de que tal representação dimensiona a capacidade nacional para organizar os Jogos em 2016, emite um alerta voltado à consciência do cidadão comum, de que algo não soa muito bem ante tanta pretensão, disfarçada em poderio sócio-político de um país que ainda se mantém às raias da injustiça social que divide a população entre os cada vez mais ricos, e os cada vez mais pobres, afastados de uma educação de qualidade, que deveria ser a prioridade absoluta governamental, para que num futuro à médio-longo prazo o país, em seu todo, se fizesse representar através padrões de qualidade de vida, entre os quais a participação olímpica, resultante de um trabalho massificado e democrático advindo de seu processo escolar, direito inalienável e constitucional de todo cidadão brasileiro.

E um bom exemplo da incúria administrativa na área escolar, nos é dado em duas pequenas notas publicadas no O Globo de hoje, em sua coluna Gente Boa:

O barato do funk/1

A Secretaria Estadual de Educação firmou parceria com a Furacão 2000 e vai lançar festival de funk para alunos da rede pública. Finalistas mostrarão as músicas – sempre com temas ligados à sexualidade na adolescência – em bailes-matinê.

O barato do funk/2

Tereza Porto, a secretária de Educação que promove o concurso, começa a se ambientar no assunto. Sábado, vai ao baile no Castelo das Pedras: “Quero me informar e estudar a linguagem”.

Como podemos ver e atestar, são estes os paradigmas que influenciarão nossos jovens em seus tempos livres, nos quais educação física, esportes, artes plásticas, teatro, música, artes manuais, cederão seu já escasso, e muitas vezes negado tempo curricular, aos maneios e rebolados grupais que imperam nas demonstrações altamente educativas do funk.

Esse é um dos muitos exemplos de como nossos governantes encaram a escola em seus desgovernos. E ainda se atrevem em propugnar verbas descomunais para fabricar uma candidatura olímpica, cujos beneficiados serão somente aqueles que dilapidarão as vultosas verbas em construções megalópicas e superfaturadas, em projetos milionários de publicidade e compra de adesões políticas, em promessas de melhoria nos transportes e na segurança que jamais serão exeqüibilizadas, deixando órfãs gerações de jovens, que serão deixados covardemente para trás em seus direitos de uma vida melhor, digna e justa.

Por que falar de uma medalha olímpica forjada numa universidade americana, ou nos raros exemplos de prata alcançados esporadicamente e fora da realidade esportiva do país, assim como os parcos bronzes conquistados por uma minoria que mantém com seu esforço uma casta diretiva que, passados os meses subseqüentes os abandonarão até às vésperas da próxima Olimpíada?

E como explicar o sumiço das transmissões esportivas daquele momento maravilhoso da abertura olímpica, onde no meio daquele majestoso cenário se abriu uma singela sala de aula, com uma professora e seus jovens alunos mostrando ao mundo qual o verdadeiro sentido de toda aquela demonstração de pujança, esportiva e tecnológica, senão ali, numa sala de aula, na escola, na educação de um povo. Claro que não interessa mostrar tais insignificâncias ao povo ignaro, pois em caso contrário como poderiam abiscoitar o velocino de ouro tão desejado?

Agora mesmo, quando o recente e aprovado piso salarial de todos os professores no país é contestado veementemente por governos municipais e estaduais, que jamais se levantam contra a gastança desenfreada de seus representantes do povo, podemos avaliar o quanto essa corja teme a possibilidade de ver o povo que os elegem, educado e culto, e por isso mesmo capaz de discernir quais os caminhos a serem tomados e a seguir. Esporte é uma manifestação popular que representa o estágio vivenciado por um povo. E nada mais justo que essa experiência de vida seja iniciada, desenvolvida e vivenciada no âmbito escolar, centro difusor das qualidades deste mesmo povo. Medalhas serão conseqüência dessa realidade, que jamais serão alcançadas pelas voluptosas oscilações de nossas infelizes crianças em festivais escolares de funk.

Que os deuses protejam a juventude do país.

Amém.

17 agosto 2008

PARA ONDE ESTAMOS INDO?

Terminada a nossa participação olímpica, com 4 derrotas e uma única vitória, e mesmo assim num jogo em que participou previamente desclassificada, retirando grande parte das pressões e responsabilidades inerentes a uma equipe em busca da continuidade na competição, conseguiu a seleção o feito de não ter saído invicta de vitórias, numa participação melancólica e frustrante.

“O desempenho da seleção só deve melhorar na próxima Olimpíada, quando a equipe recém-montada estiver mais madura e entrosada”, disse o técnico Paulo Bassul ( Coluna Direto da China, O Globo de 16/08/08). Ou seja, já está o responsável técnico da equipe se projetando no comando da mesma para mais um ciclo olímpico, antecedendo análises e críticas, numa posição que se tornou habitual em nosso basquete, o de técnico dono e patrão de um cargo que deveria, por principio e bom senso ser destinado àqueles profissionais que se destacassem cumulativamente pelos seus estudos, trabalhos e larga experiência na direção de equipes, assim como pela liderança inter pares, fazendo-os dignos de escolha, unicamente pelo critério do mérito, e não pelos conchavos e interesses político-federativos.

Quando seu antecessor, do qual se negou a continuar sendo assistente, guardou para si o direito de se despedir da seleção com o titulo pan-americano, que acabou não vindo, numa ação predatória, que retirou a possibilidade do novo comando agregar mais tempo de treinamento a uma seleção que meses após disputaria um Pré-Olímpico, fator que, ante a inevitável mudança de critérios diretivos e técnico-táticos, veio a sofrer uma grave solução de continuidade, que refletiu negativamente na constituição e preparo da nova equipe.

E os resultados ai estão escancarados à frente de todos, onde a indecisão de jogar com uma ou duas armadoras se situou desde a má escolha das mesmas, até a equivocada opção tática na maneira de utilizá-las, onde indefinições de sistemas de jogo demarcaram suas limitações físicas, tanto nas ações ofensivas, como, e principalmente nas defensivas, travando como num todo a produção da equipe, pois atuar com uma ou duas armadoras dentro de um sistema caracterizado e definido para uma só, é muito diferente de um outro estudado e desenvolvido para duas. E é nesse nevrálgico ponto que a grande maioria de nossos técnicos se confundem quando confrontados com as duas e antagônicas realidades, a de preparar, treinar e fazer jogar uma equipe com uma ou duas armadoras.

E mais, a inadequação de nossas pivôs para o combate ofensivo e defensivo com as rápidas e esguias pivôs adversárias, já que ostentavam sobre peso considerável, tornando-as presas fáceis nos rebotes e nas ações individuais, o mesmo problema apresentado pelas armadoras escolhidas.

Somando todos estes fatores, podemos encontrar as respostas para o insucesso da equipe e sua classificação, a pior em suas participações nas grandes competições internacionais, e antever poucas mudanças no futuro se não for quebrado esse circulo vicioso de características continuístas, tanto na esfera técnica, como na administrativa, transformando a sempre brilhante participação feminina, em companheira do falido e outrora brilhante basquetebol masculino, numa espiral de descenso que absolutamente não merecemos.

O basquetebol brasileiro está seriamente enfermo, e necessita urgentemente de ajuda, aquela definida por mudanças radicais em sua estrutura administrativa, e por conseqüência, técnica. Se uma interferência oficial, pela auditoria das vultosas verbas alocadas e jamais especificadas pela CBB, for impossível de ser realizada, já que envolta pelas penumbras dos interesses políticos, que voltemos todos os esforços pelas mudanças democráticas federativas, estado por estado, afim de que, na presença comprometida de 14 votos, possamos virar a triste página transcrita neste circo de horrores vividos nos últimos 12 anos, de uma direção absolutamente nefasta e de uma incompetência monstruosa. Em caso contrário o soerguimento se tornará improvável e, na pior das hipóteses, impossível.

Que os deuses nos protejam.

Amém.