FREE hit counter and Internet traffic statistics from freestats.com


Prof.Paulo Murilo 

29 abril 2008

DIA DA EDUCAÇÃO...

Ontem foi o Dia da Educação, algo ainda impensável em nosso injusto e desigual país. Forças ocultas e não tão ocultas assim omitem do cardápio de direitos da juventude brasileira o acesso à educação de qualidade, como deserdados de um direito inalienável ao cidadão do futuro, a grande reserva de trabalho alijada da saudável e estratégica luta pela sobrevivência digna e justa. Para os donos das capitanias hereditárias do país, povo educado é obstáculo às suas ambições de poder absoluto e inquestionável, e que, por razões de manutenção do status quo o mantém ignaro e manobrável. E na crista do processo, a figura do professor tem de ser mantida no fosso da subserviência, da coisificação profissional, da desqualificação técnica, como garantia de que o criminoso processo seja mantido e administrado.

Mesmo assim, esse imenso e rico país ainda teima em produzir poucas, bem sei, mas eficientes ilhas de excelência, numa precária, porém corajosa investida contra tão absurda política, nas quais vicejam pesquisas e trabalhos acadêmicos de valor inquestionável. E esses grandes professores são os responsáveis pela manutenção de esperanças em dias melhores, de governos melhores, de escolas melhores.

O desporto, pela sua importância social e formativa de caráteres , de cidadania e de nacionalidade, muito ainda tem de ser desenvolvido e implantado nas escolas, como um dos elementos básicos no todo educacional, tendo a liderá-lo professores e técnicos bem formados e bem remunerados, dois fatores indissociáveis para o sucesso de suas ações educativas.

Mas não basta formar e remunerar bem professores e técnicos, sem que os mesmos não atinjam alguns índices qualitativos, índices estes que me motivaram a publicar um artigo que reproduzo a seguir.

20 Janeiro 2006

CONDIÇÕES BÁSICAS

Fazendo uma boa faxina no escritório, encontro uma pasta com antigas transparências que utilizava em cursos de basquetebol pelo Brasil afora. Folheando-as, encontro uma em particular, que era a base de qualquer dos cursos que ministrei.Com dez itens,servia de roteiro para longas e proveitosas interações com os técnicos com quem dialogava. Reli-a, e nunca me senti tão inserido no presente como através suas já quase apagadas linhas, que faço questão de transcrever, emitindo alguns comentários entre as mesmas,que definiam um roteiro sobre as condições básicas para o exercício de uma arte,ser técnico de basquetebol.Eis as condições: CONHECIMENTOS SÓLIDOS E DOMÍNIO COMPROVADO NO ENSINO DOS FUNDAMENTOS. Trata-se de um conceito básico, pois põe por terra a falsa idéia de que existem aqueles que preparam jogadores, ensinando-os pelos caminhos sacrificados e demorados dos fundamentos, com aqueles que se dizem estrategistas,e somente orientam os jogadores através de táticas e sistemas de jogo pré-estabelecidos,dando pouca atenção aos fundamentos.São os que se dizem responsáveis pela utilização máxima dos talentos e conhecimentos que os mesmos pensam ter sobre o jogo.Mas a verdade é que somente aqueles que dominam a arte de ensinar correta e dinamicamente os fundamentos podem traçar comportamentos táticos e estratégicos pelo conhecimento que têm de seus jogadores,conhecimento este que se manifesta no dia a dia da aprendizagem individual,em seus detalhes,ínfimos detalhes,mas que se transformam na mais eficiente das armas,o conhecimento integral da proposta técnica,ao saber executá-la pelo domínio dos fundamentos. AMPLOS CONHECIMENTOS DE PLANEJAMENTO E CONTROLE DAS ATIVIDADES. Planejar é preciso, e quanto mais detalhadas forem as etapas a serem percorridas, maior será a integração técnico-jogador na busca de um objetivo comum,a melhora de todos nos fundamentos,sem distinção nas posições que ocupem,concorrendo dessa forma para a constituição do espírito de equipe que é a maior meta a ser atingida.Planejamento linear,enxuto,mas abundante em criatividade e esforço comum,é a chave para o estabelecimento de sistemas de jogo também enxutos e providos de opções e soluções perfeitamente ao alcance de todos que participarem de seu desenvolvimento prático. DOMÍNIO CONSCIENTE SOBRE TÁTICAS E PRINCÍPIOS ESTRATÉGICOS. Se treinadas por jogadores preparados para exeqüibilizá-las, nas mais variadas, difíceis e imprevistas situações,pois se tratam de enfrentamentos quase corpo a corpo com os adversários,a plena consciência das ações e atitudes a serem tomadas,só serão possíveis pelo total domínio das mesmas, conseguido pelo treinamento,também consciente,dos fundamentos. As estratégias são estabelecidas fundamentadas nesses conhecimentos, tanto do técnico, como dos jogadores.É a antítese das pranchetas,que vêm sendo usadas amiúde,na substituição absurda dos princípios acima enumerados. MENTE SENSÍVEL AO ESTUDO E A PESQUISA.Estudar sempre, principal e decisivamente o que já foi produzido até os dias atuais,fator que embasará o presente e projetará o futuro,em qualquer das manifestações do homem.É a base da pesquisa,qualquer pesquisa, seja de campo,de laboratório,experimental ou não.Conhecer a riqueza do homem, pelo que já produziu e criou é a chave do conhecimento na busca de soluções atuais e para o amanhã. Pesquisa desportiva,apesar de pouco difundida entre nós,é fundamental para o preparo de melhores técnicos. BONS CONHECIMENTOS DE PREPARAÇÃO FÍSICA. Mesmo sem ser um expert, o técnico com bons e sólidos conhecimentos nessa área poderá orientar os preparadores físicos para os objetivos que deseja alcançar,não permitindo,por exemplo,que jogadores sejam submetidos a preparações que fujam de determinados padrões,fator que poderá comprometer decisivamente os mesmos. ESTUDOS BEM FUNDAMENTADOS SOBRE ASPECTOS PSICOLÓGICOS, SOCIOLÓGICOS E ECONÔMICOS DOS DIVERSOS SEGMENTOS DA SOCIEDADE BRASILEIRA.Cultura abrangente é um valioso fator para o técnico de basquetebol,pois o insere no âmago de questões que de uma forma,ou de outra,influenciarão decisivamente o seu trabalho social,técnico e professoral,em qualquer região do país em que se encontre ATITUDE ÉTICA E LISURA COMPORTAMENTAL.São dois princípios indivisíveis na postura de qualquer técnico desportivo.Sem os mesmos se torna inexeqüível a função de líder e de exemplo a ser seguido e respeitado SER HUMILDE E RECEPTIVO. Ouvir sempre e muito,falar pouco e agir com presteza e conhecimento pleno da ação a ser tomada.Reconhecer o erro e corrigi-lo sem receios. Goethe ensinava:"Não tenho medo de me desdizer, porque não me envergonho de raciocinar". POSSUIR UM FORTE CONCEITO DE PATRIOTISMO.Precisamos aprender a administrar nossa pobreza e nossas carências. É uma atitude de salutar patriotismo reconhecer tais limitações, e tentar, das melhores formas possíveis reverter tais realidades em algo de que possamos nos orgulhar.A criatividade humana não tem limites quando sabemos o que queremos e nos preparamos com lucidez e bom senso para conquistá-las.Isso é patriotismo. TER VOCAÇÃO E TALENTO..

Mesmo perante tantas injustiças na formação de uma realidade educacional, na ausência de uma verdadeira e patriótica política cultural e esportiva, mesmo assim não devemos nos descuidar da formação técnica de bom nível, sabedoramente mal remunerada e propositalmente submetida ao sub-empreguismo, dedicando o escasso tempo na procura e no incentivo daqueles que corajosamente teimam em ingressar no magistério. Por isso, o último item do artigo independe de comentários e explicações, pois seus dois componentes fecham a questão.

Amém.

24 abril 2008

DECISÃO EM CORRIENTES...

A equipe está classificada para a final em Corrientes, num jogo que apresentou ao seu final uma preocupante diferença de 7 pontos, quando havia chegado aos 22 pontos com relativa tranqüilidade. Devemos lembrar que muito além da importância anotadora dos irmãos Machado, a dominância dos rebotes ofensivos determinou a vitoria rubro-negra, ofertando a seus efetivos atacantes um sem número de segundas e até terceiras oportunidades em um mesmo ataque, quando em falhas de arremessos, e que não foram poucas. Some-se a este aspecto, a ausência, por contusão, de seu segundo armador, Fred, que quando atua em dupla com o Hélio transforma a equipe do Flamengo num real e poderoso competidor, dada a capacidade criadora da dupla, tanto ofensiva, como defensivamente, aumentando em muito as possibilidades de arremessos equilibrados de três pontos por parte dos irmãos, e também fazendo crescer a produtividade dos móveis pivôs, onde até o aparentemente lento Coloneze se vê bem acionado pela velocidade imprimida na armação das jogadas. Somente armadores ambidestros no domínio dos dribles são capazes de tal mobilidade, responsável pelo acionamento continuo dos demais jogadores.

O outro fator determinante foi a agressividade defensiva na linha da bola, propiciando inúmeras interceptações, principalmente por parte do Duda, quebrando a armação argentina, onde seu melhor jogador, Montechia, ao cometer 2 faltas pessoais e 1 técnica antes dos 5 minutos de partida, comprometeu decisivamente o ataque de sua equipe, facilitando a ação defensiva da equipe carioca.

Com a equipe muito desfalcada pelas faltas pessoais e bastante cansada, os argentinos, graças à sua maneira acadêmica e compassada forma de atuar, conseguiu diminuir bastante a diferença no placar, demonstrando um alto grau de treinamento e disciplina tática, onde seus dois americanos demonstravam uma assimilação técnico-tática não muito comum, em se tratando de jogadores advindos de um basquete diametralmente oposto na forma de atuar. Isso demonstra a força de organização e parâmetros técnicos que distingue o basquete argentino como um dos líderes mundiais na modalidade.

Preocupa-nos o fato da equipe do Flamengo não ser capaz de manter um ritmo cadenciado por todo o tempo de jogo, oscilando muito, principalmente quando atua com um único armador, pois suas três opções de alas-armadores, Marcelo, Duda e Fernando, por suas próprias características pontuadoras quebram contumasmente toda e qualquer tentativa de ataque armado e paciente. Daí a importância vital dos dois armadores no jogo em terras argentinas, onde a pressão será enorme, e a qualidade a ser destacada será a do paciente e perseverante controle no ritmo de jogo, da defesa corajosa e permanentemente atenta, e da manutenção do até agora grande trunfo da equipe, o poderoso e decisivo domínio dos rebotes, principalmente os ofensivos, sem os quais os bons pontuadores rubro-negros não teriam o grande numero de possíveis tentativas em seus arremessos de longa distância.

Finalmente, quando no primeiro ataque da equipe do Flamengo já se pronunciava uma carga negativa de agressividade por parte do Marcelo, num entrevero com os argentinos, podemos aquilatar o cenário que será descortinado no jogo em Corrientes, onde o aspecto “decisão” pontuará todo o transcorrer nervoso e agressivo na quadra de jogo, e onde aquele grupo que for capaz de manter a qualquer custo o controle mental e técnico, sem dúvida terá percorrido mais da metade do caminho ao encontro da vitoria final.

A equipe do Flamengo tem condições reais de vitoria, na medida em que se comprometer com o filão condutor para alcançá-la, a frieza determinante dos grandes campeões, aquela que não oblitera o raciocínio, e que canaliza as emoções para depois da luta, da vitoria. Que sejam lúcidos e felizes.

Amém.

23 abril 2008

SUSPENSO NO AR...

Nos anos setenta, como técnico da primeira divisão do Olaria, fomos jogar contra a equipe do Botafogo no Maracanãnzinho pelo Campeonato Carioca. Durante o aquecimento, o Washington, nosso melhor arremessador de longa distância, que na época não contavam três pontos, se dirigiu a mim e confidenciou: “Paulo, é como arremessar em um aro suspenso no nada”. Seu arremesso preferido era das laterais da quadra, onde os referenciais em torno do aro são importantes, senão decisivos, para um perfeito enquadramento e dosagem de força e trajetória, principalmente quando executados numa fração de segundos. Fui lá aferir e constatei serem corretas as observações do jogador, ficando em minha retina a imagem daquele solitário aro flutuando no nada. Esse aspecto pode explicar as melhores performances dos grandes arremessadores quando frontais a cesta, pois a tabela , mesmo sendo transparente, conota um razoável referencial inserido dentro daquela vastidão, onde as bancadas se situam a no mínimo 30 metros de distância.

Outro fator determinante para arremessos naquela situação de quadra é a trajetória elevada, necessária às pequenas compensações direcionais em profundidade relativas ao aro, mais accessíveis, tendo a tabela como referencial, além de facilitar muito os rebotes ofensivos em arremessos falhos, pela alta projeção dos mesmos após o toque no aro, dando tempo para melhores posicionamentos.

Essas colocações explicam com boa margem de acerto a excelente performance do jogador Marcelo do Flamengo, cujas características de arremessos com elevada trajetória, e tentados majoritariamente de frente para a cesta, contrastaram com as seguidas falhas do jogador Martinez da equipe argentina, com seus arremessos rasantes e oblíquos à tabela, única referencia tangencial à quadra.

Mas não somente isto, outro fator importante na vitoria rubro-negra foi a determinação defensiva, principalmente fora do perímetro, obstando penetrações dos armadores e arremessos livres de três pontos, como também o cadenciamento dos ataques visando o jogo interior, onde seus pivôs se movimentavam com bastante presteza, originando espaços por onde as penetrações de fora para dentro do perímetro se tornaram constantes, além de propiciarem espaços preciosos para os arremessos equilibrados de três pontos, principalmente os do Marcelo.

Contrastando com algumas opiniões que defendiam a realização destes jogos decisivos no ginásio do Tijuca, onde a presença próxima da torcida exerceria uma pressão psicológica maior no adversário, creio ter sido a escolha do Maracanãnzinho muito mais determinante tecnicamente, mesmo sabedor de que a finalidade da escolha teve como motivação prioritária a maior presença de público, sem levar em consideração se o aro ficava, ou não, “suspenso no nada”.

No jogo de logo mais, decisivo para o Flamengo, a contusão na mão do armador Fred, mais do que nunca destacará a responsabilidade do Helio, que deve ser protegido ao máximo das faltas pessoais, pois como único armador remanescente, armador de verdade, colocará a equipe brasileira perante o real perigo de se ver pressionada se ao Marcelo e/ou ao Duda couber o papel de armador(es)da equipe, talvez a única chance dos argentinos de equilibrarem o jogo ante a realidade inquestionável da debilidade técnica daqueles dois jogadores nos fundamentos de drible e de fintas , a não ser que os argentinos, ainda desambientados com as particularidades exigidas para os arremessos em alvos dissociados de referencias a que não estão acostumados, errem, como erraram bastante no jogo de ontem, propiciando aos pivôs brasileiros o domínio dos rebotes defensivos, desencadeadores dos contra-ataques decisivos, nos quais os dois irmãos são eméritos complementadores.

No mais, devemos torcer para que a equipe do Flamengo consiga essas tão bem vindas vitórias, que sem dúvida nenhuma injetariam uma grande dose de otimismo e esperança ao nosso combalido e desprestigiado basquetebol.

Amém.

21 abril 2008

CRITÉRIOS...

Fala-se muito em que condições o voleibol brasileiro atingiu os altos parâmetros de qualidade que o tornaram líder no mundo, das categorias de base até as seleções principais, num processo evolutivo ímpar na modalidade. Bons dirigentes e excelentes técnicos? Planejamento de alto nível e estratégias adequadas à nossa realidade? Inovações técnicas e bem planificadas campanhas publicitárias? Efetivo aproveitamento de mídia na cola das conquistas de alto nível em competições internacionais, ante a aridez de resultados nas demais modalidades, com uma ou outra exceção de praxe? Boas e efetivas administrações federativas, alinhadas ao projeto confederativo? Ou simplesmente a implantação de critérios de qualidade em todas as valências interrogativas acima descritas?

Creio não, tenho a certeza de que a correta e objetiva adoção de critérios de qualidade foi o motor impulsionador do grande sucesso do vôlei em nosso país, tão carente de bom senso administrativo e objetivos que primam pela excelência e pelo planejamento altamente técnico e responsável. E esses critérios estabeleceram um modus atuanti em todos os escalões, administrativos, gerenciais, publicitários e, principalmente técnicos. Enxutos, claros, coerentes, e por tudo isso, entendíveis e irrecorríveis.

“Os critérios adotados para a convocação eram estar bem fisicamente, ser titular no seu clube e estar junto à seleção quando convocadas.”

Com esse correto e coerente critério, o técnico da seleção feminina que disputará as próximas Olimpíadas, deu como encerradas as divagações em torno da convocação de uma jogadora afastada das competições, e sua disposição de retornar à equipe, ao largo das disposições contidas no critério adotado pela CBV.

“Lamento, mas não seria justo com as jogadoras que participaram de toda a preparaçãol(...)”. definiu o técnico.

Imediatamente, ante tais e tão importantes fatos, a imagem inversa do que vem ocorrendo, desde longa data, se faz presente na realidade do nosso basquetebol. Imagino o quanto de erros teriam sido evitados se tais critérios tivessem sido aplicados em convocações recém passadas , onde jogadores inabilitados em seus três componentes tomaram lugar de outros perfeitamente sintonizados com os mesmos? Um, dois, três, ou a maioria, para os quais o simples fato de atuarem no exterior já os qualificavam para a seleção? Quantas injustiças, aspecto enfatizado pelo técnico da seleção de vôlei, poderiam ter sido evitadas, injetando otimismo na busca de melhorias técnicas entre os que aqui atuavam?

Perguntas, perguntas, e quantas mais poderiam ser feitas, cujas respostas só poderiam, ou mesmo, poderão ser respondidas se fundamentadas em critérios de qualidade, estabelecidos à priori, como La Régle de Jeux , base de todo grupamento organizado em torno de um ideal, de uma meta a ser arduamente alcançada.

Agora mesmo, na presença real de um Pré-Olímpico que definirá nossa participação, perdemo-nos em discussões de quem deveriam ser convocados, quando já estamos cansados de saber quem eles são, donos do pedaço, proprietários de suas capitanias hereditárias, todos discursando opiniões e deliberações, a maioria deles com pouquíssima participação em suas equipes estrangeiras, conseqüentemente com sérias limitações físicas e de ritmo de jogo, e pendentes de liberação para os treinamentos junto à seleção. Exatamente os critérios restritivos que conotaram e conotam qualidade às seleções de vôlei quando das convocações e organização de suas equipes vencedoras.

Duas concepções díspares, dois destinos diferentes, nos quais podemos identificar a variável que os tornam básica e radicalmente opostos, a existência de critérios, onde comando e comandados obedecem a uma hierarquia que jamais poderá ser rompida, sustentáculo que é para a formação de equipes, verdadeiras e fortes equipes, e não remendo de vaidades e personalidades equivocadas.

Amém.

19 abril 2008

PROTEGIDA SUBSERVIÊNCIA...

Ginásio cheio numa manhã de sábado, final da liga feminina de voleibol, ambiente festivo e colorido, famílias inteiras presentes, 11 mil não pagantes, já que subvencionados por uma confederação rica, poderosa e determinante na política desportiva do país, fruto de seus resultados marcantes nas competições internacionais, Olimpíadas em particular, resultados merecidos, que fique bem claro.

No agora rebatizado templo do voleibol brasileiro, que desde a sua construção para sediar o Campeonato Mundial de Basquetebol de 1953, e onde dez anos depois nos sagramos bi-campeões mundiais, e que sempre foi a casa dos grandes espetáculos do nosso basquetebol, hoje impera absoluto o voleibol, destinando hipoteticamente a arena multiuso da Barra da Tijuca, construída para os Jogos Pan-Americanos, como a substituta do outrora templo do basquetebol brasileiro. Mas, o que vemos acontecer através a frieza empresarial dos mandantes esportivos do país, é a transformação da grande arena em palco de shows, igrejas e sabe lá mais o que, terceirizada a um grupo francês a preço de banana, e renegada em sua gestão pelo COB, que assumiu as duas outras grandes obras vizinhas, o parque aquático e o velódromo, que são atividades esportivas não competitivas com o grande voleibol, cujos dirigentes, muitos egressos de suas fileiras, comandam e influenciam politicamente o desporto nacional.

Houve uma época, não tão distante assim, onde o basquete, o vôlei e o futsal disputavam arduamente os espaços nas quadras brasileiras, não só nos clubes, nas escolas, nas faculdades, nos próprios municipais e estaduais, numa luta de disponibilidades e horários, que aos poucos se transformou em verdadeira luta pela sobrevivência, principalmente pelo crescimento desproporcional do futsal ávido pela posse do terreno, que até aquele momento era dividido pelo basquete e o vôlei, duas modalidades de ensino altamente complexo, ao contrário do futsal com seu apelo popular e de fácil aprendizado. As quadras tinham as mesmas medidas, e pisos, que se não de estrutura ideal, mas que atendiam as necessidades daquelas atividades. Pouco a pouco o futsal foi se impondo, levando ao declínio a pratica do basquete, que ao contrario do vôlei não tinha as praias e as ruas de recreio como alternativa de pratica. Incontáveis espaços foram se rendendo ao futsal, fossem públicos ou particulares, levando, principalmente o basquete à derrocada e a participação cada vez menor dos jovens. Se vigorassem naquela época as medidas hoje consideradas oficiais para uma quadra de futsal, parecidas com a do Handebol, muito dos prejuízos sofridos pelo basquete teriam sido evitados, já que atuariam em espaços diferenciados. Por outro lado, as medidas bem menores de uma quadra de vôlei, permitiu que colégios, clubes e pequenas associações de bairro mantivessem o interesse do mesmo junto aos jovens, inclusive pelo equipamento e o espaço accessíveis à sua pratica.

E o vôlei se estruturou, se aperfeiçoou e estabeleceu padrões de excelência através dirigentes e técnicos comprometidos com o sucesso e o denotado trabalho, construindo uma estrutura em tudo particular, com pisos específicos para as grandes competições, e um centro preparatório dos mais avançados do mundo, enquanto o basquete, patinando em suja estrutura desgastada ante a avalanche do futsal, não soube, e não teve a audácia do vôlei, no sentido de inovações e busca da qualidade. Ao contrário, centrou sua atividade política no paternalismo e no centrismo de um grupo voltado aos seus interesses particulares, através o continuísmo administrativo calcado na troca de favores e benesses.

Pobre basquete, destituído do seu templo ( só falta a troca do nome de Gilberto Cardoso ...), despejado da grande arena da Barra, onde o grego melhor que um presente na final do basquete feminino do Pan sequer foi convidado para a entrega das medalhas pelo COB, comandado por voleibolistas, que em hipótese alguma desejam o soerguimento do basquete, antigo concorrente a segundo esporte no gosto do brasileiro. E como numa prova de supremacia, submete o helênico dirigente à entrega do troféu de terceiro lugar na liga de vôlei, no seu antigo terreiro, a uma equipe paulista que também participa dos campeonatos de basquete. Todo sorridente, faz a entrega protocolar, sem sequer aquilatar o desprestígio de que se faz vítima, para gáudio daqueles que o suplantaram na lábia e na certeza da inamovível posição conquistada, que se manterá incólume e livre de uma nada desejável concorrência, enquanto o mesmo se mantiver no comando da CBB.

Infelizmente, a realidade política tem um peso descomunal na promoção desportiva no país, e o voleibol a tem sob controle, a ponto de abrir mão de 11 mil ingressos em uma final de impacto nacional, televisionada em canais privados e abertos, numa prova inconteste de poder e absoluta certeza da inquebrantável posição conquistada. E na sombra rasteira de todo esse poder gravita uma administração subjugada e mantida a salvo de suas nem sempre saudáveis ações políticas e administrativas, pelo poder que não o deseja sequer próximo do nível alcançado a muito custo. Raposas felpudas se entendem, e sabem muito bem manter a hierarquia da matilha, principio básico na sobrevivência do grupo.

Amém.

18 abril 2008

INDESEJADO DESFECHO...

Tudo se encaminhava para um bom desfecho, já que a equipe do Flamengo, acertando em cheio sua escalação inicial com dois autênticos armadores e três homens altos dispostos a brigarem pelos rebotes nas duas tabelas, jogando no aproveitamento dos 24 segundos de posse de bola, fazendo com que a equipe argentina se desdobrasse além do previsto para concluir seus ataques, e mais, encontrando pela frente uma dupla de armadores dinâmica no ataque e aplicada na defesa, se viram tolhidos no que têm de melhor, a movimentação ininterrupta e conjunta de homens e bola, que os habilita a arremessos livres e precisos. E por conta dessa disposição inicial, a equipe brasileira comandou as ações e o placar no primeiro tempo de jogo, no qual se utilizou de seis jogadores afinados e dispostos a levarem a vitória.

Terceiro quarto se inicia, e o que vemos? Duas substituições absolutamente desnecessárias, que nem a já difundida e inexplicável obrigatoriedade de rotações, implantada muito mais pela necessidade de fazer jogar determinados e valorizados jogadores, do que por necessidade técnica, quebra a homogeneidade da equipe apresentada no primeiro tempo, numa sucessão de arremessos de três pontos fora do aro, de penetrações solitárias e desequilibradas de um pivô cercado e sem apoio dos companheiros, de jogadas lateralizadas e inócuas por falta de coordenação coletiva, tudo isso culminando em sucessivos contra-ataques argentinos que rapidamente desfizeram a vantagem do primeiro tempo, e ainda impuseram 12 pontos à frente, antes do término do quarto.

Com a volta do armador e do pivô esquecidos no banco no terceiro quarto, a equipe conseguiu reencontrar um pouco do bom entrosamento dos dois quartos iniciais, mas já era tarde demais, e a derrota se fez presente inexorável. Nada adiantou o esforço abnegado e corajoso do Fred e do Helio na armação, assim como a luta desigual do Alirio, Amiel e Coloneze com os fortes americanos da equipe argentina, ao deixarem escapar uma vitoria possível, que manteria a equipe rubro-negra com boas chances de êxito na competição.

Infelizmente, certos conceitos técnicos, suficientes para os padrões de nossos campeonatos internos, não alcançam nem de longe os padrões internacionais, onde o sucesso de suas equipes sempre passa pelo aproveitamento integral de seus jogadores mais habilidosos e competentes na articulação dos sistemas de jogo, mesmo que não sejam aqueles apontados como as estrelas da companhia, geralmente pela mídia jornalística menos informada.

Urge uma reformulação de certos conceitos de qualidade, onde fundamentos bem executados e arremessos frutos de uma ação conjunta e coordenada, não cedam lugar a exibições de cunho personalista voltado ao culto de pseudo craques da bola laranja.

Torçamos para que a equipe do Flamengo reencontre na próxima terça-feira no Rio, a produção técnica apresentada no primeiro tempo do jogo de hoje, única forma viável e inteligente de enfrentar um basquetebol argentino organizado e coerente em sua forma de jogar, quando prioriza a prática e a qualidade dos fundamentos como pré-requisito aos sistemas técnico-táticos que usarão em suas equipes, fator primordial de seu sucesso , em todos os níveis, e faixas etárias.

Amém.

17 abril 2008

OS PSEUDOS...

Confusão formada, jogador mais influente da equipe excluído e automaticamente suspenso para a segunda partida, equipe nervosa e agressiva junto a arbitragem, técnicos brasileiros pseudamente revoltados, dirigentes também brasileiros dando carteiradas e fotografando as cenas absurdas, jogador paraguaio-argentino com um sorriso insuspeito insuflando a torcida, numa comunhão de valores historicamente inverossímil, e no fundo, em off, a torcida aos brados , compassados – Argentina, Argentina, Argentina... E todos nós, na distância televisiva, achatados nas poltronas sem ação ante tanta estupidez, despreparo e falta de vergonha na cara, desculpe, com uma tocante exceção, a figura imponente de um jogador que foi até lá para simplesmente jogar basquetebol, Alírio.

A equipe do Flamengo inicia o jogo com um armador e dois pseudo armadores responsáveis pelas ações ofensivas e coordenação defensiva, mas com um indisfarçável detalhe, já que dois deles ( os pseudos...)sob a mínima pressão defensiva se perdem em lateralidades, pois não são dribladores ambidestros, e fracos nas fintas de 1 x 1, e mais, absolutamente não tem atitude defensiva, permitindo que nos cruzamentos entre os dois armadores argentinos fora do perímetro a recuperação se faça por trás do companheiro, e não entre ele e o atacante, atitude técnica que, além de evitar a troca, mantém o mesmo sob vigilância a curta distância, evitando os arremessos de três. Mas estes são detalhes ínfimos para os que se consideram o máximo.

E foi exatamente no momento em que a equipe brasileira, tendo em quadra os seus dois armadores verdadeiros, exercia uma reação no placar, quando acertou a sua defesa e atacava com mais opções, é que os luminares rubro-negros iniciaram o projeto – Cuidado, vocês vão ter que jogar no Maracanãnzinho! Ouviram bem? Na nossa casa, onde o buraco é mais embaixo!! -

Acontece, que antes de desencadearem o projeto coercitivo, esqueceram que duas partidas teriam de ser jogadas no cercado do vizinho, onde o buraco não fica embaixo, e sim a 3.05 metros de altura, e no qual eles acertam com precisão cirúrgica de quem entende do riscado, e de projetos...

Hoje jogarão a segunda partida, na qual, pela ausência de um dos pseudo armadores, se verão obrigados a jogar, mais do que nunca, em rígido conjunto, onde as ações de armação de jogadas e precisão defensiva se farão de extrema necessidade, se transformando em um campo fértil de criatividade e técnica apurada nos fundamentos, principalmente os de drible, fintas e passes no ataque, e agressividade na defesa, aspectos intrínsecos a armadores de formação.

Se uma vitória não for alcançada no périplo pelas terras argentinas, mesmo que, por força coercitiva, ou não, da torcida rubro-negra que deverá lotar o Maracanãnzinho, duas vitórias serão insuficientes, pois a decisão será levada de volta para o sul, onde, como já se viu, os buracos ficam em cima, ao alcance dos melhores jogadores, da melhor equipe.

Estrategicamente falando o Flamengo foi uma lástima na Argentina, apesar de técnico-taticamente ter alguma condição de enfrentamento, claro, se privilegiasse os jogadores mais adequados às situações reais de jogo, e não às falsas premissas que teimosamente muitos ainda defendem, como a notória ascendência fundamentada em nomes, codinomes e pseudas qualidades, garantidoras de espaços e capitanias hereditárias, vícios exemplificados de cima para baixo, desde seleções e comissões técnicas, passando ao largo do comando central e inamovível, foco de todo um processo de declínio e total ausência de legitimidade. Uma pena.

Amém.

16 abril 2008

UM LEMBRETE ÀS VIUVAS...

Semana animada essa no ambiente basquetebolístico, com o grande Oscar provocando os iniciados e os calejados com afirmações tipo – “Os nossos jogadores são coadjuvantes na NBA (...). (...) Eles não decidem o fim do jogo, e a seleção brasileira só vai ser boa quando tiver jogador que decide”. Certo ou errado, tocou nos brios da turma que vê na NBA todo um projeto de vida, todo um sonho a ser vivenciado e tornado real através jogadores patrícios, representantes dos anseios quiméricos da referida turma. Os dólares, a projeção estelar, o showbiz, são apelos fortes demais para não serem desejados, mesmo que por delegação de um sonho. E logo ele, do alto de sua decisão de negar participação na grande liga, em função prioritária de vestir a camiseta 14 da seleção brasileira, o grande Oscar, autor do supremo crime de negar a materialização do grande sonho dos que hoje renegam sua escolha patriótica, vem a público externar uma opinião na contramão de seus detratores? Apesar dos pesares , de opiniões passionais, de rompantes desequilibrados, de impaciência política, de decisões intempestivas, esse grande jogador traçou seu destino com precisão milimétrica, viveu uma realidade, e não um sonho delegado por quem não mereceria materializá-lo, a classe deslumbrada que nega sua origem terceiro-mundista, e que não perdoa quem discorde de suas quimeras, envoltas na idioma do LeBron e do Odon, só para lembrar dos gatões.

E como se tornou lei para essa turma, de que o basquete somente toma forma definitiva de uma arte, se praticada pelos deuses do norte, um contra ponto estalou no âmago das consciências esclarecidas daquela região mágica, numa matéria publicada pelo portal UOL nessa terça-feira, sob o titulo – Técnicos querem nova postura na seleção de basquete dos EUA.

-O “fracasso” em competições recentes, como o bronze no Jogos de Atenas-2004, provocou uma série de reflexões sobre a seleção norte-americana de basquete. Para o técnico Mike Krzyzewski, uma mudança de comportamento será fundamental para que a equipe recupere o prestígio e o sucesso nas Olimpíadas de Pequim-, foi o primeiro parágrafo da matéria. “Eu acho que nos últimos anos, nós fomos arrogantes sobre o jogo, sobre aquilo que chamávamos de nosso jogo”,opinou o treinador. “Não é o nosso jogo, é o jogo mundial, e nós temos que jogar um jogo diferente quando estamos em partidas internacionais”.

É o relato de um dos mais prestigiados técnicos universitários, e atual técnico da seleção, e que encontra apoio em um de seus assistentes, Jerry Colangelo, do Phoenix Suns, que entende que a distância entre o “dream team” e outras seleções acabou quando a NBA abriu as portas para a entrada, em massa, de atletas de outros países.

“Eu costumo dizer que o basquete é o mais coletivo dos esportes. Quanto mais você joga com os outros, mais você melhora. Ficou provado nas Olimpíadas de 2004 que um bom time pode bater um time de estrelas”.

Como podemos atestar pelos relatos acima, nossos irmãos do norte estão em plena vigência de um plano de modificações profundas, em busca de um encurtamento que os separam do basquete jogado pelo resto do mundo, aquele que a média dos americanos faz questão de desconhecer, mas que no último campeonato universitário deu as primeiras e decisivas mostras de que tudo farão para que as próximas gerações retomem seu lugar no concerto das nações. E o Colangelo arrematou : “Nós pedimos a eles (os jogadores) que se comprometam a jogar pelo seu país, não apenas a jogar”, revelou. “Nos dois últimos anos, nós vimos nosso projeto se desenvolver a tal ponto que, não importa se é o LeBron James, o Kobe Bryant, o Jason Kidd ou qualquer outro jogador no time, todos eles se sentem parte de uma equipe”.

O Oscar tomou essa decisão duas décadas atrás, perdendo a oportunidade, apesar de convidado, de jogar na NBA. Hoje, as grandes estrelas americanas, com sua participação garantida na grande liga, iniciam um comprometimento junto a seleção de seu país, sem antes se submeterem a um novo tipo de atitude técnico-tática, que em breve se esprairá por todo o basquete jogado em seu país, na tentativa de rivalizar com o restante do mundo, tendência esta já adotada no último campeonato da NCAA, que em breve se verá forçada a admitir as regras internacionais, último óbice às suas pretensões de soerguimento internacional.

Enquanto isso, aqui na tropicália, as viúvas do basquete pasteurizado da NBA, reinvidicam uma pseuda supremacia técnico-tatica do mesmo perante e para nossa realidade, com o fervor dos colonizados culturais, escravos das enterradas tribais nem sempre politicamente corretas. A grande ironia, é que a contra ofensiva a essa tendência que os levaram a derrotas contundentes, parte deles mesmos, num mea culpa pranteado e constrangedor, diria até humilde.

Seria muito bom que nossos jogadores assumissem a seleção quando convocados, para, a exemplo dos americanos, serem solicitados a jogarem pelo país, e não somente jogar, e não transformarem a seleção em vitrine de projeção e oportunidade de grandes contratos. Esses são os pontos que lastreiam o posicionamento do Oscar, quando confrontado pela realidade de nossa seleção, e que os mais ferrenhos de seus opositores ousam negar, muito mais agora com o depoimento dos técnicos da seleção americana.

Certo, errado, controvertido, emocional, passional, não importa sua condição de ex-jogador, e sim, que no assunto seleção brasileira ele está com carradas de razão quando localiza a ausência de liderança dentro e fora da quadra, como o grande problema a ser enfrentado, principalmente por aqueles que teimam em utilizar a seleção como vitrine para seus inflados egos, jogadores e não jogadores.

Amém.

12 abril 2008

SISTEMAS - ESTRATÉGIAS...

Retomamos a serie Sistemas, que tanto interesse despertou entre os técnicos, com debates intensos e altamente produtivos. O tema proposto é o da estratégia, assim definida no Dicionário Aurélio :

Estratégia sf.(...) 2. Arte de aplicar os meios disponíveis ou explorar condições favoráveis com vista a objetivos específicos.

E para dar partida ao debate, reporto-me a um artigo publicado em 4 de março de 2005, 6 x 6...UMA EFICIENTE ESTRATÉGIA, no qual exemplifico com uma experiência real , ações práticas pré-estabelecidas, num consenso de equipe. Precisamos estabelecer um parâmetro divisório entre estratégia e tática, para compormos verdadeiros e precisos sistemas a serem planejados, estudados e treinados por uma equipe, visando um objetivo a ser alcançado, sendo comum e aceito por todos, indiferente se jogadores, administradores ou técnicos.

6 x 6 ...UMA EFICIENTE ESTRATÉGIA.

Lá pelos idos dos anos oitenta estava no Fluminense treinando uma das melhores equipes que dirigi,a de Infanto-juvenis masculina, quando enfrentamos o Flamengo no ginásio do C.Municipal na preliminar dos adultos, perante uma grande platéia. Já naquela época adotava a formação de dois armadores e três pivôs móveis,todos em constante movimentação,com jogadas abertas à criatividade e improvisação em torno de uma formação básica, como o tema em uma reunião de jazz, fosse contra defesa individual ou zona. A equipe do Flamengo,muito alta adotava um sistema profundamente controlado pelo técnico, muito parecido ao que ocorre hoje em dia, onde a movimentação atingia altos graus de previsibilidade, dando oportunidade de defendermos em constante antecipação.Antes do jogo, reuni a equipe e combinamos uma estratégia para dificultarmos ao máximo as intervenções do técnico adversário no controle da equipe.Combinamos utilizar uma defesa extremamente atenta e com variações entre individual,zona e pressão a cada dois ataques que efetuássemos,para provocar os pedidos dos dois tempos a que tinham direito antes da metade do primeiro tempo,e que durante os mesmos a minha intervenção seria nenhuma,e que nossa equipe sequer se aproximaria do banco.Se conseguíssemos, o técnico adversário só instruiria a equipe se pedíssemos tempo,o que não pretendíamos fazer. A estratégia funcionou de tal maneira que os dois pedidos de tempo aconteceram com 5 minutos de jogo, o que facilitou em muito nossa vitória, desenhada naqueles minutos iniciais. No segundo tempo demos continuidade ao combinado, e foi a primeira vez que nenhum tempo foi pedido por mim em uma partida de campeonato. O técnico adversário ficou muito nervoso pelo fato da minha não participação durante os pedidos de tempo que fazia, como se fosse obrigatório tal participação, afirmando que havíamos faltado com a ética, que tínhamos desrespeitado sua equipe. Esqueceu porém que cabe ao técnico traçar sua estratégia da maneira que melhor lhe convier,e não como o adversário determinar, e que treinos existem para preparar a equipe no conhecimento de suas potencialidades e nas dos seus adversários, ai incluindo o técnico. Em algumas situações adversas, onde ao enfrentarmos equipes que se situam como poderosas e imbatíveis, principalmente quando atuam em seus ginásios, torna-se de capital importância analisarmos atentamente como atua e se comporta o técnico adversário, pois qualquer equipe tende a se comportar como seu líder de fora da quadra, e se esse tiver um caráter previsível poderá dar margem ao emprego de estratégias bastante eficientes. Por isso sempre afirmo que em jogos difíceis não são confrontados 5 x 5 e sim 6 x 6.Mais recentemente,em 1997,quando dirigia a equipe juvenil masculina do B.da Tijuca,fomos enfrentar o Fluminense nas Laranjeiras, na abertura da temporada.Repeti,com pequenas variações a estratégia de 80 ,com os mesmos resultados alcançados àquela época,e sofrendo as mesmas críticas por parte do adversário, o que me convenceu da pobreza que se instalou em nosso meio, esmagado que se encontra pela globalização que nos impuseram.Tornou-se pecado capital não comungar com a mediocridade que se instalou entre nós, e que cada vez mais escurece as mentes em torno do que designam como"basquetebol internacional". Acabo de ler uma entrevista de um jovem pivô que entre muitos agradecimentos aos técnicos que o dirigiram destaca um deles que o convenceu a mudar de jogador 3(desígnio de um ala) para 4(ala-pivô)!Francamente, gostaria imensamente que me explicassem qual as diferenças, quais os limites de atuação entre as duas designações, o que pode ou não ser realizado,ou proibido entre ambas,a não ser a constatação de que não ensinam a nenhuma das duas o drible,as fintas e até os passes.Treinam a intimidação pela força, as enterradas e os rebotes em projeção obliqua, que constituem-se em faltas na maioria das vezes. Quando constatamos a ausência do ensino dos fundamentos mais especializados a jogadores na faixa dos dois metros, vemos como estamos mergulhados na falsa premissa das "battles under basket", que caracterizam o basquete de nossos irmãos do norte.E pensar que nosso maior armador de todos os tempos começou como pivô,mas pelas suas qualidades de manejo inteligente da bola tornou-se armador,Amauri Passos,que sequer é convidado para passar suas experiências nas seleções que defendeu,sendo somente bi-campeão mundial e duas vezes medalhista olímpico, com pouco menos de dois metros de altura! Com muitos,ou a maioria dos técnicos brasileiros raciocinando em uníssono,planejar uma estratégia de 6x6 torna-se um prato feito para aqueles que os enfrentarem.Aliás, os argentinos já descobriram isso a algum tempo...

Pronto, está dada a partida para discutirmos o que venha a ser estratégia voltada ao basquetebol. Espero que participem e colaborem com seus estudos e experiências. Lucrarão os novos técnicos, tão esquecidos e órfãos de boa literatura e de bons exemplos a seguir.

11 abril 2008

VERDADEIROS OU PSEUDO ARMADORES?

E a equipe do Flamengo conseguiu ir a final do Sul-Americano, brilhantemente aliás, vencendo a excelente equipe do Boca Juniors de forma convincente, apesar da enorme dúvida que se estabeleceu, ao retroceder taticamente perante sua ação demolidora de véspera, quando venceu o mesmo adversário por quase 30 pontos de diferença. Isto porque, se utilizando de dois armadores puros, como o Fred e o Hélio, levou de roldão a forte defesa do Boca, sedimentada pela boa técnica nos dribles e nas fintas dos dois , que inclusive, deram uma enorme contribuição, por conta de sua velocidade e visão periférica, ao ampliar e exeqüibilizar um sistema defensivo eficiente e fora do corriqueiro padrão empregado pelas demais equipes brasileiras, ou seja, a defesa linha da bola, que se empregada em toda a sua potencialidade, principalmente na marcação permanente dos pivôs adversários pela frente, teria atingido sua eficiência máxima. Mas, para uma primeira etapa na utilização da mesma, saíram-se bem os jogadores rubro-negros, que pelo seu esforço e dedicação mereceriam ser instruídos, treinados e incentivados à defesa dos pivôs da forma correta, pela frente.

No entanto, no terceiro e decisivo jogo, voltou o técnico do Flamengo a utilizar somente um dos armadores, propiciando a escalação dos dois irmãos Machado, que em absoluto detêm a mesma técnica nos fundamentos de drible, passe e fintas dos armadores Fred e Helio, fatores estes que fragilizaram perigosamente o ataque da Gávea, principalmente no terceiro quarto da partida, permitindo a aproximação dos argentinos no placard. Sem dúvida nenhuma, quando da presença dos dois armadores em quadra, as opções seqüenciais de jogadas de ataque se tornam fluidas e coerentes, pois duplica as condições efetivas de drible progressivo e passes decisivos, além de finalizações de curta distância efetuada pelos mesmos, complementadas por uma grande incidência de lances-livres provocados por faltas cometidas por uma defesa rompida com frequência. Acredito que para os jogos contra a equipe de Corrientes, a formação com dois armadores puros se torne de crucial importância, haja vista a qualidade inconteste dos similares argentinos, responsáveis pela brilhante e consistente invencibilidade da equipe no torneio, tanto nas ações ofensivas, como, e principalmente nas defensivas.

A equipe brasileira terá de se comprometer basicamente com o sistema defensivo, principalmente nos dois primeiros jogos que serão na Argentina, além de tentar manter, pelo maior espaço de tempo possível o equilíbrio técnico e tático exercido pelos armadores argentinos, somente possível se confrontados por também armadores de formação, quando habilidades fundamentais e velocidade determinarão as estratégias a serem seguidas no jogo. De forma alguma o Marcelo e seu irmão Duda poderão assumir esta tarefa, pois apesar de serem bons jogadores, não possuem as habilidades necessárias a tal confronto, principalmente quando forçados a driblarem com a mão esquerda, que serão as mãos liberadas pelos defensores argentinos, sabedores que são da fragilidade das mesmas. Pela capacidade pontuadora de ambos, deveriam se revesar continuamente durante todo o jogo, pois desta forma teriam dois ótimos e autênticos armadores trabalhando com eficiência, a fim de que recebessem bolas em condições ótimas para arremessos livres e equilibrados, e não forçando espaços, limitados por suas deficiências no trato da bola quando pressionados no ato do drible. Uma coisa é partir em velocidade driblando para a cesta, com espaço suficiente à frente. Outra, é criar esses mesmos espaços sob intensa pressão defensiva, somente conseguido por especialistas na armação.

Enfim, por sorte o técnico do Flamengo está no comando de uma equipe formada por bons jogadores, que tem demonstrado dedicação e grande espírito de luta, mas que terão de ser escalados obedecendo a critérios que os levem ao equilíbrio técnico-tático necessários às grandes vitorias, independendo de estrelismos e exclusivismos, visando sempre os interesses da equipe como um todo, e não propriedade de poucos. Se cada um de seus integrantes focarem o bem comum, colocando a serviço de todos suas qualidades e reconhecendo suas deficiências, propiciando que as mesmas sejam substituidas pelas qualidades dos companheiros, terão meio caminho percorrido para o enfrentamento decisivo, principalmente, repito, nas duas primeiras partidas em território argentino.

Se calçarem as sandálias da humildade (relembrando o grande Nelson Rodrigues...) e colocarem a equipe à frente das vaidades, criarão as condições para vencer o Sul-Americano, que faria um bem danado ao nosso claudicante basquetebol.

Amém.

09 abril 2008

COISAS VIRTUAIS...

O jornalista Giancarlo Giampietro publicou no portal UOL uma entrevista que fez com o auto-convocado jogador Alex, sobre a seleção que irá disputar o Pré-Olímpico em Atenas, em julho deste ano.

Perguntado a respeito do novo técnico, o espanhol Moncho Monsalve, assim se manifestou um dos lideres da seleção em Las Vegas : “Estava vendo nas entrevistas dele pela Internet – com o pessoal da Espanha, Marcelinho e Oscar. Não o conheço e não dá para criticar sem conhecer o trabalho dele. O mais importante é a classificação”. Como vemos, o nosso valoroso jogador evita criticas ao novo técnico sem primeiro avaliar seu trabalho na seleção, desconhecendo seu passado e somente conotando real importância à classificação da equipe para as Olimpíadas, num testemunho de quem se sente absoluto na convocação, e na pseudo liderança que costuma ostentar em entrevistas pela mídia. Aguardarei ansioso suas colocações técnicas e administrativas após o estágio probatório do espanhol, quando, ai sim, exporá suas opiniões à respeito do inditoso treinador, previamente rebaixado pela maior importância que dá à classificação.

“ Vamos ter quatro semanas de treinos. Acho que primeiro é conversar, reunir todo mundo na apresentação. O técnico vai chegar, e vamos ver o que ele está planejando. Temos de tentar combinar o jeito que vamos jogar e ver o que está errado – e não ficar cada um por si (...)”. Então, como podemos depreender com tais e profundas opiniões, mais uma das célebres reuniões (será secreta desta vez?...) se fará presente, inclusive, para examinar o planejamento do técnico, para daí em diante combinarem a forma de jogar, claro, corrigindo erros. Mais quais? Os possíveis (na ótica dos participantes da reunião...)contidos no planejamento, ou os secretos discutidos em Las Vegas?

Continuando :”(...) Sempre mudamos tudo o que combinamos, jogamos diferente e partimos para a individualidade. A gente fica um pouco desesperado, afoito. Tem de ter paciência, ir de pouquinho em pouquinho”. Ora, ora, o que temos aqui explicito em todas as letras? O fato de que obediência técnico-tática jamais passou pelas cabecinhas coroadas dos cardeais com respeito à ascendência técnica da extinta comissão de quatro técnicos. Jamais, e ainda tiveram o desplante de promoverem uma reunião espúria e irresponsável, e ainda mais secreta, onde peitaram a comissão e determinaram o cada um por si que se viu, e agora temos a confirmação pelo teor da entrevista. Que se cuide o novo técnico, cujo orgulho maior é o de ostentar a áurea de bom interlocutor e psicólogo de causas difíceis junto aos jogadores que dirigiu, mas que terá de se defrontar com um grupo de líderes que se compraz, fruto de um apoio descompromissado de uma parte da mídia, com os verdadeiros e legítimos caminhos que deveriam pautar o soerguimento do nosso basquetebol, em abocanhar lideranças sem terem o mínimo preparo e condição moral de fazê-lo, pois desrespeitam e ferem de morte os princípios de comando e disciplina, inerentes aos atletas de verdade, fatores que conotam as verdadeiras equipes.

Perguntado sobre as ocorrências em Las Vegas, e o que deveria ser evitado este ano, respondeu : “Problemas a gente não teve. Muita coisa que passou lá era virtual. Criaram picuinhas para ter um clima desfavorável a seleção. Pecamos porque a gente perdeu”. Incoerência parece ser sua marca registrada, pois suas declarações anteriores desmentem tal afirmativa. Afinal de contas, como explicar o fato descrito de que sempre mudavam o combinado, partindo para a individualidade, originando nos detratores picuinhas para provocar um clima negativo a seleção, viabilizadas pelo fato de terem cometido o pecado de perder? E mais, que muita coisa ocorrida era virtual? Mas como virtual (...Diz-se daquilo que, por meios eletrônicos, constitui representação ou simulação de algo real. Dic.Aurélio), se tais fatos foram transmitidos pela TV, inclusive a triste coação sofrida por uma jornalista que se atreveu a inquirir os técnicos e jogadores sobre a reunião secreta que acabara de acontecer, sendo ofendida e pressionada? Virtual? Uma ova que foi.

“(...) Pessoalmente, profissionalmente já estamos bem. A gente tem de se dar bem na seleção também, conseguir alguma coisa importante”. Que bom que atingiu a estabilidade, mas não custa nada perguntar quantas reuniões secretas organizou, ou ajudou a organizar nos Hornets e agora no Maccabi, para confrontar e avaliar as comissões técnicas dessas equipes? Pois afinal de contas a reserva nas mesmas não está a altura de seus predicados técnicos. Duvido que alguma, virtual ou não.

Finalmente, sobre as declarações do Marcos acerca dos fatos de Las Vegas, respondeu : “Ele não deveria ter falado coisas que não devia(...)”. Concordo se fossem, como afirma com convicção, virtuais, simulações da verdade, mas que provaram ser exatamente o contrário, mostraram a realidade do nosso basquete onde jogadores se convocam, se escalam e se reúnem para confrontar comandos e lideranças, atribuindo qualificações e reprovações dentro de equipes e seleções, claro, as tupiniquins, pois lá fora se vestem de anjos barrocos, em nenhum momento, virtuais.

Que os bons deuses nos protejam, virtuais ou não.

Amém.

UMA BOA PERSPECTIVA...

Aos poucos, devagarzinho, quebrando resistências, convencendo os céticos (e como os há entre nós...), conquistando adeptos, provando ser possível, e por que não, desejável, vemos aceita a possibilidade de jogarmos com dois armadores puros, numa formação básica, por algumas de nossas equipes de ponta. Infelizmente, e por razões de uma globalização técnico-tática, que nos foi imposta por uma geração de técnicos comprometida com os ditames técnicos advindos da NBA, a utilização de dois armadores ainda se enquadra no sistema de jogo padrão, onde a utilização de um único armador é a regra geral, que agora vem sendo adaptada substituindo-se um dos alas por outro armador de formação. Sistemas de jogo, onde a utilização plena de dois armadores atuando permanentemente fora do perímetro, integrados e ajudando-se mutuamente, tanto ofensiva, como defensivamente, inexistem em nossas equipes, escravizadas e habituadas ao sistema padrão.

Mas aos poucos algumas soluções vão surgindo, principalmente através o cada vez mais evidente entrosamento de algumas duplas, como o Helio e o Mateus em Franca, o Valter e o Ratto em Brasilia, o Fred e o Helio no Flamengo, alguns exemplos de que a formula da dupla armação de uma equipe pode ser tornar viável e bastante efetiva.

Sempre a defendi, por usá-la à exaustão em minhas equipes, adaptando soluções técnico-táticas específicas às características individuais de cada jogador daquelas posições, sempre complementados por três homens altos atuando permanentemente dentro do perímetro, em sintonia com os de fora, numa progressiva busca pelos melhores posicionamentos na recepção dos passes, nas ajudas às penetrações, na escolha dos melhores arremessos, no posicionamento multíplice nos rebotes, na ajuda permanente na defesa, e na busca incessante por novas e eficientes soluções técnico-táticas, por parte deles, os jogadores, que estão no campo da luta, enfrentando suas dúvidas e desafios ante adversários em constante mutação posicional, onde cada movimento ou jogada jamais é repetida, jamais guarda qualquer semelhança com às que a antecedem, seja na defesa, seja no ataque, tornando a experiência de jogar basquete numa perene e extraordinária descoberta de suas possibilidades individuais em concordância com as coletivas, compondo a essência desse único e apaixonante grande jogo.

O jogo dessa noite, entre o Flamengo e o Boca Juniors, espelhou um pouco a realidade exposta acima, na qual, dois excelentes armadores ditaram o ritmo e a correta direção que a partida teria de tomar em busca de uma vitoria inconteste e de promissora importância para o nosso basquetebol. Espero que nossos técnicos estudem a fundo possibilidades de jogo que aperfeiçoem o emprego da dupla armação, principalmente com a adoção de novos sistemas, que fujam do padrão que nos foi imposto ( e ainda continua a sê-lo através as clinicas oferecidas e aceitas pelas federações alinhadas com a CBB, numa atitude centralizadora e unilateral, emanada pelo mesmo grupo que nos tem empurrado o sistema padrão goela abaixo nos últimos vinte anos de obscurantismo e retrocesso atroz.).

Torço para que a equipe do Flamengo repita a bela atuação desta noite, quando muito, para provar que, com um pouco de audácia e vontade de mudar, a distância que nos separa da excelente organização argentina pode ser reduzida, mesmo por uma pouca, porém progressiva tomada de novos rumos, em busca de um tempo perdido, que já se prolonga em demasia. Assim espero.

Amém.

A FINAL...

A final foi eletrizante, assim como o espetáculo em seu todo, do ginásio à torcida, da organização e da divulgação competente pela TV e pela internet. Só não teço elogios à arbitragem, que deixou o “pau rolar” embaixo das cestas, numa atuação cujos critérios jamais passariam sob o crivo da FIBA. Numa arbitragem fundamentada nas regras internacionais, muitos, mas muitos jogadores sairiam com as 5 faltas pessoais antes do término do primeiro tempo de jogo. Exatamente por essa razão é que os grandes pivôs americanos se dão mal nas competições internacionais, pois a carga corporal que exercem sobre os atacantes, mesmo bloqueados corretamente nos arremessos, fazem dos defensores barreiras faltosas do peito para baixo pressionando-os lateral e intencionalmente, numa ação faltosa pelos critérios das regras internacionais. Se os americanos realmente desejam se rivalizar com as equipes internacionais, principalmente as européias, terão de adequar suas regras bem particulares aos critérios das regras internacionais, pois em caso contrário seus esforços de cadenciar os jogos, largamente empregado pela grande maioria das 64 equipes finalistas, cairão num vazio irrecuperável, aumentando a grande distância que ainda os separam da forma internacional de jogar.

Foi um espetáculo onde os fundamentos do jogo atingiram um grau de quase perfeição, nos dribles, passes, arremessos curtos e longos, rebotes e principalmente uma entrega na arte de defender inigualável, somente criticável se a colocarmos ante os padrões das regras internacionais, no que concerne à marcação dos pivôs e dos atacantes que penetravam no âmago defensivo. Dentro dos padrões e critérios que defendem e empregam, perfeitos.

Ironicamente, foi na falha de um dos fundamentos básicos que a equipe de Memphis perdeu a partida, nos lances-livres, principalmente os quatro perdidos a um minuto do final, quando colocaria, na conversão de um deles, os quatro pontos necessários que anularia uma reação de Kansas, mesmo convertendo um arremesso de três. Ao contrário, com a perda dos lances-livres permitiu o empate de Kansas a 2 segundos do final, quando uma falta durante o drible do atacante resultaria tão somente em dois lances, cristalizando a vitoria. Na prorrogação, a equipe de Kansas, embalada e incentivada pela brilhante reação, manteve os nervos sob controle e venceu merecidamente o campeonato.

No entanto, convenhamos que ainda falta um detalhe de primordial importância para que o basquete universitário americano sirva efetivamente de base, para o conveniente e decisivo papel de reconquista do prestigio internacional nas grandes competições internacionais, já que histórico campo de experiências técnico-táticas, impossíveis de acontecer na NBA, com seus critérios de profissionalismo exacerbado, que dificilmente mudarão, ou seja, a adoção das regras internacionais em sua plenitude, pois caso contrario, não atingirão seus objetivos.

Amém.

06 abril 2008

COLETIVISMO X INDIVIDUALISMO...

Na semana recém finda, assisti pela TV algumas competições esportivas, como um jogo do europeu de futebol, onde a equipe do Barcelona foi derrotada, e varias partidas do campeonato universitário americano de basquetebol. No jogo da equipe espanhola, chamou-me a atenção um comentário do analista da emissora sobre o comportamento retraído e silencioso do técnico holandês da equipe, sentado calmamente em seu banco, sem manifestações ostensivas na beirada do campo. O comentarista criticava aquela atitude passiva, argumentando da necessidade que o mesmo teria de agir, nem que fosse gestualmente, como uma satisfação aos torcedores, ao “demonstrar” trabalho e interesse pela equipe que passava por uma situação de derrota. Ou seja, defendia a síndrome da luz-vermelha, quando um técnico ao flagrar uma câmera focada em si (quando ligada emite uma luz vermelha ao lado da lente) imediatamente se põe ao lado do campo gritando e gesticulando para passar a idéia de participação ativa no jogo, mesmo sabendo ser impossível que seus brados sejam ouvidos por quem quer que seja dentro de campo. Mas ficam os gestos agressivos e passionais, que tem garantido muitos contratos pela sua “participação ativa” perante os dirigentes, mesmo sabendo ser inócua na realidade do jogo. O testemunho do comentarista põe em evidência, não só para ele, mas para uma grande parte da imprensa esportiva, como valorizam o mís en scéne oportunista e revelador de uma corrente de técnicos, mais preocupados com sua posição no mercado de trabalho, do que a equipe que dirige. Esquecem que o trabalho de um técnico é realizado nos treinamentos, intensamente, e em uma ou outra substituição que se faça necessária, além dos ajustes que poderá fazer nos intervalos dos jogos. Pererecar, dançar, saltitar, em atitudes de péssima coreografia ao lado de campos e quadras, além do ridículo a que se expõem , nada acrescentam às suas equipes, a não ser a demonstração da pouca qualidade técnica de seus treinamentos, onde deveria preparar a equipe, sem gestos, discursos ou câmeras focando seus inflados egos.

Outra intervenção abalizada criticava a tendência de alguns técnicos defenderem a preparação das equipes de basquetebol focadas basicamente na pratica dos fundamentos, privilegiando as individualidades, em vez do coletivo, que segundo sua opinião, levada pelo poder da mídia televisiva a uma quantidade enorme de cabeças jovens país afora, é a que deve prevalecer, no que é acompanhado por boa parte da critica basquetebolística nacional, num lamentável equívoco, pois omitem pela ignorância o fato inconteste de que a base coletiva de uma equipe é fornecida pelo preparo e pleno domínio por parte dos jogadores, dos fundamentos do jogo, sem os quais nenhum movimento técnico-tático obtém sucesso.

Dois enfoques equivocados, plena e estruturalmente equivocados, mas que preenchem rotineiramente muitos dos comentários feitos e emitidos por uma parcela da imprensa descomprometida com as bases autênticas do desporto, porém extensamente comprometida com as modas e os conceitos globalizados que privilegiam o espetáculo em função da educação e dos princípios sociais dos mesmos.

Nesta segunda-feira, assistiremos ao jogo final do campeonato universitário americano, na presença de 50 mil torcedores e alguns milhões espalhados pelo mundo, num espetáculo onde os princípios e as tradições universitárias americanas atingem o mais alto grau, quanto a importância do desporto na formação integral dos jovens daquele país, e onde não testemunharemos coreografias ao lado da quadra por parte dos técnicos envolvidos, e muito menos a negação da qualidade individual dos jogadores, que estarão inseridos no coletivismo de suas equipes, coletivismo esse garantido e lastreado pela competência e segurança de seus jogadores pelo pleno domínio dos fundamentos do grande jogo.

De um lado a Universidade de Kansas, sólida em seu preceito de jogo coletivo, pausado e altamente seletivo nos arremessos. Por outro, a Universidade de Memphis, com sua exuberante individualidade levada á excelência nos fundamentos de todos os seus jogadores, onde o coletivo massivo cede vez à improvisação, somente factível através o mais qualificado e sedimentado domínio dos mesmos, prenunciando uma batalha entre o determinante coletivo, contra o instigante individualismo responsável . Quem sabe nossos sábios comentaristas possam justificar alguns de seus equivocados pareceres, perante as duas realidades que comentarão, ambas tendo um condutor comum, seja no coletivismo, seja no individualismo, o domínio dos fundamentos.

E que esse exemplo seja seguido em nosso país pelos lideres técnicos das gerações que se iniciam na pratica do basquete, sem serem sugestionadas e estigmatizadas por conceitos técnico-táticos preestabelecidos, e sim orientadas a um preparo sensível, prolongado e qualificado das bases do jogo, os fundamentos, que consolidados serão a base futura de sistemas, tanto ofensivos, como defensivos. A negação dessa evidência somente corrobora a nossa proverbial tendência à minimização do competente ensino dos fundamentos, em beneficio de um coletivismo mantenedor do sistema único, no qual a prancheta representa e reflete o narcisismo de seu mentor.

Amém.

04 abril 2008

FUNDAMENTOS (SEMPRE ELES...)...

Foi um final emblemático. A equipe de Brasília, após uma reação eficiente e brilhante, tirando uma vantagem apreciável da equipe argentina do Regatas Corrientes no placar, e que mesmo desfalcada de seus dois jogadores americanos conseguia manter o controle do jogo, conseguiu o impossível, perder um jogo ganho por retirar dos dois armadores que sempre foram mantidos em quadra a tarefa de comandar a equipe nos momentos decisivos. Foram duas ações ofensivas, a segundos do final, que desmontaram todo o esforço despendido pela equipe até aquele momento, jogando fora uma vitoria importantíssima, ainda mais em um jogo em seus próprios domínios,

A primeira jogada, que deveria ter como condutor mestre um dos dois armadores em quadra, teve um desenrolar lastimável, pois o pivosão de Brasilia, que adora arremessar de três pontos, vem até fora do perímetro, para um possível corta-luz, abandonando o posicionamento próximo à cesta, crucial naquele momento do jogo, mas recebe um passe, e de costas para a cesta, toma uma atitude de quem se preparava para um passe ou um drible, mas mantendo a bola dominada na altura do peito, com as mãos paralelas ao solo, e os cotovelos afastado do corpo, num posicionamento totalmente errado à luz dos mais comezinhos princípios dos fundamentos (sempre eles...) do jogo. Ato continuo, pela brecha escancarada entre o braço e o corpo, esgueirou-se a mão do marcador argentino, que num sutil toque de baixo para cima tira a bola do controle do fortíssimo e pesado pivô, originando um contra ataque que deixa sua equipe a um ponto da equipe da casa.

A segunda jogada, logo a seguir, coloca o bom ala de Brasília do lado direito da quadra, e que de posse da bola inicia uma penetração por dentro do garrafão driblando com sua insegura mão esquerda, fluindo para uma armadilha tripla montada pelos argentinos, que somente ampararam a bola perdida pela incúria de quem não tem fundamentos ( sempre eles...) sólidos no drible. Outro contra-ataque argentino e fim de jogo.

E em nenhuma das duas jogadas finais que decidiram a partida, quaisquer dos dois ótimos armadores em quadra tiveram a bola em suas mãos, para exercerem o mais solido de seus fundamentos, o drible, a posse de bola que poderia decidir o destino do jogo.

Ironicamente, seu técnico, que sempre propugnou a utilização de um único armador, inclusive em sua longa passagem pela seleção brasileira, tem mantido a formação com dois armadores nessa sua nova equipe, com resultados animadores e eficientes, mas que assistiu a derrota da equipe protagonizada pela ausência de ambos no momento decisivo, cassados que foram por dois jogadores que falharam na execução básica dos fundamentos (sempre, e sempre eles...), anulando seus esforços e sacrifícios no desenrolar de um jogo em que tiveram a enorme oportunidade de vencerem em casa uma semi-final sul-americana.

Fica então a grande pergunta, aquela que a maioria dos técnicos, jornalistas e entendedores do grande jogo, se negam a fazer – devem os jogadores adultos, mesmo em idade mais avançada, treinarem, e por que não, aprenderem princípios e formas baseadas nos fundamentos do jogo? A maioria sequer considera a possibilidade, dando absoluta preferência aos movimentos táticos e as jogadas pré-estabelecidas, esquecendo o preceito básico de que sem o pleno conhecimento e domínio dos fundamentos, nada do que treinarem surtirá efeitos decisivos naqueles momentos em que o “saber fazer” definirá o rumo de qualquer jogo.

E como colaboração desinteressada àqueles dois jogadores que falharam bisonhamente, aqui vão duas orientações de quem por muitos e muitos anos preparou jovens e adultos no mister de jogar basquetebol, e não tentar ganhar jogos no impulso e no instinto, pois só improvisa quem sabe e domina a tarefa que se predispôs a realizar.

Sempre que dominar a bola, esteja de frente, de lado ou de costas para a cesta, mantenha-a SEMPRE abaixo da cintura, preferencialmente abaixo dos joelhos, pois dessa forma seu marcador, se quiser tentar roubá-la, terá de sair de seu equilíbrio estável pela projeção do corpo em direção à mesma, tornando-se, inclusive, suscetível a um corte ou uma finta veloz e de difícil, senão impossível, recuperação.

No ato de progressão à cesta, principalmente sob pressão e de encontro ao âmago da defesa contrária, e se tiver mesmo que fazê-lo, faça-o driblando com sua mão mais precisa, que se não for nenhuma das duas, passe a bola para quem tem a devida competência de executar a ação com mais eficiência que você, pois afinal, o reconhecimento dessa, que poderá ser uma corrigível deficiência através treinamento árduo, somente beneficiará a equipe da qual você faz parte, cujo sucesso dependerá de atitudes de auto-reconhecimento e renuncia, de todos em função dos que dominam os fundamentos. No momento decisivo a precisão é que define um jogo.

Enfim, por mais uma vez, a deficiência no conhecimento e domínio dos fundamentos “entregam” um jogo praticamente ganho, repetindo situações às dezenas que testemunhamos ano após ano, inclusive em jogos de nossas seleções nacionais. O que nos falta para corrigirmos essa, que na minha humilde opinião, é a mais nefasta e constrangedora deficiência? O que nos falta? Respondam, luminares do basquete nacional.

Amém.

02 abril 2008

NCAA X FIBA...

Teremos no próximo fim de semana a decisão do Final Four, onde as quatro melhores equipes universitárias da NCAA mostrarão porque são finalistas, num torneio que movimenta milhões de dólares na mídia, e sedimenta a tradição esportiva do mundo escolar norte-americano. É na escola que a juventude americana trava conhecimento e se insere nos princípios éticos e de cidadania, conjuntamente com as artes e as disciplinas curriculares, que garantirão seu futuro e o de seu grande país. Dos milhares de participantes, somente 48 jogadores atingiram o ápice da competição, dentre os quais somente uns poucos darão continuidade em suas carreiras desportivas em competições profissionais, mas de posse de um diploma valioso para a inserção no mercado de trabalho, assim como os demais que não chegaram as finais.

UCLA, Kansas, North Carolina e Memphis, são as equipes classificadas, as mais fortes, técnica e fisicamente, sem, no entanto se constituírem em massas disformes e inchadas. Ao contrário, são fortes e atléticos, com grande mobilidade e flexibilidade, haja vista as defesas impactantes e pressionadas, todas num ritmo de intensidade muito acima das demais concorrentes. Sem dúvida nenhuma, foram as equipes com maior poder defensivo na competição, principalmente nos bloqueios dos arremessos curtos e na presteza em que diminuíam os arremessos de três dos atacantes.

Por outro lado, apresentaram uma plêiade de armadores de enorme potencial, tanto em assistências, como nas finalizações, sem contar o enorme controle de bola nos dribles e nas fintas, por um tempo acima dos 30 seg. , já que não seguem a regra dos 24 seg. da NBA e da FIBA. Nota-se perfeitamente o enorme esforço que essas equipes, assim como as demais 64 finalistas, em cadenciarem o jogo, em confronto com a tendência do jovem americano de acelerarem as manobras de ataque, principalmente nos contra-ataques, tendência de larga e histórica tradição do basquete universitário.

Mas existe a necessidade vital do basquete americano de voltar à primazia no campo internacional, pressionados pelos resultados negativos nas grandes competições da FIBA, e para tanto necessitam assimilar o quanto possam da maneira européia de jogar, cadenciado e com altíssima seleção de arremessos, principalmente os de três pontos. E foi o que se viu nessa grande competição, ataques pausados, estudados à exaustão, fortíssima defesa, e grande presteza nos arremessos de três.

Mas algo de especial ainda se mantém inalterado, a combatividade viril embaixo das cestas, numa movimentação corpo a corpo jamais permitida pelas regras internacionais, e que se tornaram o terror dos grandes pivôs americanos em torneios com a aplicação das mesmas. Outro fator restritivo é o completo domínio técnico-tático dos treinadores sobre qualquer movimentação de ataque, onde a exigência de atuação é garantida pelo tempo de 35 seg. que as equipes tem para suas ações ofensivas, ao contrário das equipes mundiais que tem de se ajustar aos parcos 24 seg.a que têm direito.

Acredito que em muito pouco tempo, as equipes universitárias se voltem para as regras internacionais, com seus critérios de marcação de faltas, e suas regras aceitas e reconhecidas pela comunidade internacional, se quiserem encurtar o grande espaço existente pela busca de vitorias no concerto das demais nações. Mesmo os grandes profissionais da NBA encontram grandes dificuldades nos embates sob as regras da FIBA, principalmente pela existência das defesas zonais e coberturas permanentes às penetrações, aspecto este omitido em suas próprias e particulares regras.

Mas pelo visto até agora, grandes modificações de comportamento técnico-tático puderam ser observadas nessa temporada universitária, como um consenso de técnicos, voltados às necessárias adaptações de seus jogadores às exigências de um tipo de atitude individual, e por que não, coletiva, que os capacitem positivamente para o confronto internacional, cujas repetidas derrotas não foram digeridas pelos grandes técnicos locais.

Mas enquanto permanecerem com suas regras particulares, mesmo adaptando e restringindo certas características de velocidade em seus jogadores, somente uma mudança definitiva nas regras os farão novamente competitivos e presentes nas grandes competições mundiais, pois a base na qual se apóiam e onde são imbatíveis continua intocada em sua qualidade e precisão, o ensino dos fundamentos do jogo, respaldo de suas tradições e conceitos educacionais.

Vale a pena acompanhar essas finais, assim como o grande esforço que fazem para retroalimentarem um sistema poderoso e extremamente bem organizado,apesar de defasado perante o “resto” das nações, que enquanto forem assim consideradas pela sua tradicional arrogância, encontrarão cada vez mais obstáculos às vitorias, deixados em seus caminhos por aqueles representantes do...”resto”.

Amém.